quarta-feira, 26 de março de 2025

Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa - Uma belezura de firme







          Dos personagens do Maurício de Sousa Chico Bento é o meu querido, talvez o gatinho Minguau venha logo em seguida, este eu vi “nascer” quando estreou. O Chico é mais longevo e só lembro dele sempre existir na minha vida. E, talvez justificando esse bem querer, eu sou nascido e crescido no interior de São Paulo, e por mais “fresco” que eu tenha sido eu lidei com bichos da roça, eu cacei, aprendi a atirar (algumas histórias antigas ele chegou a empunhar um espingarda do pai), eu pesquei, eu nadei em açudes, represas e rios, eu trepei em goiabeira para comer goidaba direto do pé, e particularmente, ao contrário dele eu não gosto de goiaba, estudei numa escola de “roça” .  E outra coisa importante, até escrevi com o som reverberando na minha cabeça, o “r” retroflexo que nós do interior temos. Eu perdi bastante dele quando saí da cidade que minha família morava e fui morar por esse mundão de meu Deus. Agora estou de volta e ao mesmo tempo que me asusto com o povo me cumprimentando na rua “Bãããuuum” eu me pego reproduzindo o “r”. E lógico que o Maurício com tanto bom humor e tato reproduziu essa fala caipira nas HQs. 

          O elenco está de um primor só! Eu assustei de ver o Lobianco fazendo competentemente um Nhô Lau, pegando o espírito do personagem. Acho que todos os atores conseguiram chegar no ponto. As crianças talvez faltam uma energia específica aqui ou ali mas não as julgo pois algumas devem conhecer pouco a obra extensa do Maurício. A História é bem simples, típicas das perípecias de Chico. Nesta vemos Dotô Agripino, Augusto Madeira, querendo construir uma estrada que passaria justo onde uma goiabeira que Chico tanto gosta está. E vira um escarcéu para salvar a tal goiabeira. Temos uma aparição de uma personagem misteriosa que é uma delicinha feita pela Taís Araújo,  mas fiquei indignado do figurino dela ser tão mal feito. Uma saia pintada com um casaco de crochê feito folhas acho que poderiam ter pensado melhor. 

         O Isaac Amendoim encarna a criança da roça perfeitamente. Eu não o conhecia o trabalho do garoto como influenciador digital mas como ator ele manda muito bem. Uma coisa é ser fofo e caipira outra coisa é interpretar e ele faz muito bem . 

          No geral o saldo de Chico Bento e a Goiabeira Marviosa é positivo. É gostoso ver os personagens do Maurício saindo do papel e até sendo interpretados por outros “pincéis”. Quem não viu o trabalho de Graphic MSP que foi dado um personagem para outros desenhistas e roteiristas parceiros fora da editora da família Sousa? Saiu um primor cada edição e se não sabe do que esotu falando está perdendo é uma pancada em cima de outra. E aqui no formato de Live Action temos uma belezura de "firme". 


terça-feira, 25 de março de 2025

Adolescência - Estarrecedor sem ser terror

 

Adolescência - Estarrecedor sem ser terror





 

          O primeiro acerto dessa série da Netflix é o próprio roteiro que divide em tudo em quatro episódios, de cerca de uma hora cada, e cada um descasca as camadas sociais das etapas do que acontece. Vemos na história que um adolescente de 13 anos é acusado de matar uma colega da escola. A família toda é acordada com a polícia entrando com aquela brutalidade que alguns filmes mostram, contudo, logo em seguida um certo polimento excessivo me fez atentar para que a série podia não ser americana. E não era para nosso bem. Isso faz toda diferença pois o que é abordado não é captado fácil pelas produções americanas. Levado para a delegacia acompanhamos o desenrolar da acusação, coleta de dados, as burocracias e a primeira entrevista com o advogado junto, e o pai embasbacado sem entender como aquilo pode estar acontecendo, sem acreditar que o filhinho seria capaz de uma coisas daquela. No segundo episódio os detetives do caso vão à escola e falham miseravelmente com os jovens. Tanto que uma informação primordial aparece do próprio filho de um dos investigadores que estudava lá. É aí que vemos um do problemas denunciado pela série: a falta de diálogo que há entre as gerações. E como a escola é bagunçada e permissiva. Parece totalmente desgovernada. E o celular em todos os lugares, isso também é outro ponto de denúncia da série. No terceiro episódio, o centro da história, temos a entrevista de uma psicolaga contratada pela defeza para dar um parecer. É incrivel a perfeição desse episódio. É a cabeça do jovem colocada num raio-x para um adulto entender o que se passa lá, por mais que no filme haja um crime por trás, aquilo é estarrecedoramente plausível e real. Quem trabalhou com jovens sabe. Por fim, vemos as consequências desse suposto crime na família no último episódio. E tudo feito em plano sequência, seria como se gravassem tudo sem nenhum corte, em cena contínua, sem parar a atuação, para quem não sabe.


          Outro acerto é o elenco. Saindo do óbvio de nomes badalados eles acham o meio termo necessário para atores interpretarem o tipo de pessoa que acho mais difícil, pessoas comuns. O criador da série Stephen Grahan faz o estupefato pai do garoto Jamie que também interpretado pelo fabuloso novato Owen Cooper. Mas ninguém fica para trás, a atriz que faz a psicóloga, Erin Doherty, é abursa tentando mostrar sua máscara de neutralidade profissional e entregando uma sutileza que beira o brilhantismo. As cenas mais aterradoras, se pudermos falar isso, lembrando que não é uma série de terror, são com ela.

                 Talvez essa série leve os pais de hoje discutir e repensarem as próprias atitudes em relação aos filhos, uso de celular e façta de acompanhar de verdade a juventude. Eu fui professor do estado e sei o quanto um pai pode ser omisso, obtuso, ou ainda negar que o filho seja capaz de fazer algo errado. Já ouvi pais defendendo os filhos “Mas em casa ele não dá trabalho...”, claro, dá um celuar na mão e deixa ele lá no mundo da internet e ele não dá trabalho mesmo. E é sobre isso a série: Internet, Instagram, comunidades virtuais e os crimes que muitos cometem no virtual e no real.

                Se não assistiu, corre, eu assiti de uma sentada pois, tinha tempo e não conseguia me desgrudar da tela. Só uma dica, indiquem para aquele amigo Red pills sem falar nada. Apesar que acho que ele não vai ver problema nenhum ou entender.