terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

A verdadeira dor: sincericídio

 





          Existe uma dor que é comum a todos, ou considerando uma maioria, que é a dor de existir, e se reverter essa moeda de duas faces, vamos ter as delícias de existir. Ou seja, nada é negativo o tempo todo como o contrário também acontece. Aqui vemos um pouco dessa dualidade de dor e “não dor”.

          Antes de chegar lá, começo falando que o que mais me chamou a atenção em assistir esse filme foi a presença e a indicação ao Oscar de Ator Coadjuvante de Kieran Culkin. Lembro dele em “A estranha família de Igby” (2002) que fazia um jovem que entra em atrito com a família que o quer colocar num reformatório militar. Depois acabei perdendo de vista pois ele se enveredou para a televisão e por várias situações, como por exemplo, ser impossível de assistir a tudo que a televisão produz. Toquei a vida. E outra surpresa foi o Jesse Eisenberg estar na direção e no roteiro, inclusive este é o seu segundo. E que roteiro bonitinho, redondinho, tudo no lugar e uma história bem sensível.

          Ambos fazem primos que, após perderem a avó, decidem se reconectar com suas raízes polonesas fazendo uma viagem para o país de origem dela. Contudo, os dois estão desligados na vida, se cresceram e foram melhores amigos a vida toda agora a distância, a família de um deles compromete essa união. David (Eisenberg) se culpa um pouco por abandonar o primo, pois tem família, e de certa forma inveja o Benji (Culkin) por seu jeito desinibido, carísmático e caótico com a capacidade, palavras minhas, “iluminar os lugares que entra”. David é acanhado, tímido e tem dificuldade nas interações. Benji faz todo mundo ter momentos ótimos e divertidos, mesmo que em momentos de exageros, acabe fazendo o oposto e deixanto todos desconfortáveis com alguma questão que levante. Ele parece ser provido do que chamamos no Brasil de “sincericídio” . Isso pode ser bom e pode ser ruim, dependendo sempre da situação. E isso que nos leva àquela dualidade que disse lá em cima. Por trás desse jeito tão extrovertido Benji não é bem o que parece. E, David, o que é o tímido, é o que consegue estabelecer uma família e se sente impotente ao tentar ajudar Benji.

           Na viagem as conecções que eles pretendem se mostram um pouco mais desafiadoras que imaginavam. E o fim, não vou falar nada além disso, deixa tudo aberto. Muito aberto.

          É um filme gostoso de relações familiares, saindo do convencional pai/mãe/filhos, irmãos ou netos/vós que encanta. E, realmente a atuação de Culkin é uma luz fulgurante no filme inteiro. Se lá atrás ele já estava muito bom agora ele está soberbo. Torço por ele no Oscar.