Roma
Filme
que me causou sentimentos antagônicos. Eu via que era do “karáleo”, com uma
produção esmeradíssima, com uma fotografia linda, com uma linha narrativa e riquíssima,
principalmente através dos figurantes, era grandioso e apesar de tudo isso me
deu um tédio tremendo.
Levei um mês para finalizar todo as 2h e 15min de filme na
plataforma de streaming da Netflix. A história de Cléo (Yalitza Aparício) que
se envolve com um cara e engravida e sua patroa, que a acolhe, é tão corriqueira
por aqui que fiquei um pouco incomodado. Contudo percebi tudo o que o filme é e
o motivo da crítica estar encantada com ele. A direção de Alfonso Curarón é
fantástica. Como citei acima a história principal é bem simples, aparentemente,
e banal, contudo a reconstrução de época e a figuração do filme são
absurdamente bem feitas. Há muitos figurantes em situações diversas. As ruas
sempre cheias, os estabelecimentos comerciais idem. É muita gente no pano de
fundo pelo qual Cléu passa. Parece, em alguns momentos, que a cena leva o tempo
real de cada ação e capta a banalidade em um estado de puro aperfeiçoamento
técnico.
É interessante
o paralelo enredado entre a gravidez e abandono do pai da criança e a
fecundidade de sua patroa que também é abandonada pelo seu parceiro/marido. “Roma”
tem inúmeros paralelos com grandes obras cinematográficas européias, contudo
mantém a essência típica latina. Não é um filme hollywoodiano, é um filme
latino. Por mais que seu diretor seja conhecido e já premiado pela indústria de
lá. Tanto que já ganhou o Oscar de melhor diretor. Ele deveria ganhar por essa
pérola modorrenta. Sério, é até engraçado para perceber o quanto o filme é
phodástico e ao mesmo tempo ter sentido tédio pelo desenrolar da trama.
E
percebam o filme não é rodado em inglês e sim castelhano e foi indicado a
Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro é um indício de reconhecimento da
grandiosidade do filme. Sem contar que consegue ainda indicação para as duas
atrizes, a principal, a já citada Yalitza, e a coadjuvante, Marina de Tavira,
que faz a patroa abandonada com quatro filhos. Há um jogo de símbolos na vida
das duas personagens que estão ligadas.
O pano de fundo histórico é tão
politizado que assombra. É um tempo específico na história do México e o título
remonta ao nome do bairro da capital deste país: Colônia Roma que o diretor
resgata de suas memórias. Vemos o tempo todo os contrastes, mesmo que em preto
e branco de ricos e pobres, da patroa cheia de filhos, e da empregada grávida,
da civilidade do centro urbano, a precariedade da periferia e a abundancia
nativa da natureza mexicana.