Poltergeist – O Fenômeno - Memória afetiva
Alguns filmes não são feitos para uma criancinha de 8-10
anos assistir. E Poltergeist – O Fenômeno foi um deles. Porém, como qualquer
criancinha dessa idade que tenha nascido entre o fim dos anos de 1970-1980, quando
via as chamadas comerciais na TV eu ficava animado. Seja pela chance de provar
que já se é adulto, seja pela história que realmente fisgava todos nós bobinhos.
Sim, eu fui um desses bobinhos fisgados. Não digo que fui enganado, mas minha
mente infantil não estava preparada para ver tudo o que vi lá: todos os
excessos daquela década que somente um filme de terror poderia ter. Por certo
que algumas cenas foram cortadas, lembrando que não tinha aparelho de Fita
Cassete em casa e só via o que passava no canal aberto. E esse canal, que todos
sabem qual é, sempre foi um tanto moralizante, segundo critérios próprios e
absurdamente contraditórios.
Mas era o ano de 1986 ou 1988, é muito para me
recordar, e este infeliz garotinho, que fui, fez o inferno em casa para todos assistirem
juntos o dito cujo. Foi um dos filmes que me fizeram ser o cagão que fui até os
31 anos com o gênero de terror. Eu assumo aqui esse fato. Um dia conto como
perdi essa característica. Bom, então formou-se uma “memória afetiva” com as
lembranças desse filme. Que foram:
- Como era legal ter uma
família “rica” que morava num casão;
- Assombrações são legais até
certo ponto;
- Se tudo aquilo aconteceu com
uma garotinha indefesa e inocente imaginava o que seria de mim;
- Assombrações são as coisas
mais assustadoras que se pode ter em casa;
- Uma árvore morta é pior
quando tenta te comer;
- Nunca confiar em armários,
pois podem ser um portal para se entrar monstros, assombrações e demais seres
em seu quarto;
- Os mesmos armários, que não
devemos confiar, podem te engolir para outra dimensão;
- Um brinquedo pode causar mais
terror que assombrações, principalmente se for um boneco de palhaço que é quase
do seu tamanho;
- Defuntos saindo de caixões,
por mais “fake” que sejam, causam uma grande impressão negativa, principalmente
quando se mora “na rua do cemitério” há cerca de 10 quadras de distância;
- E que um filme pode ser tão
assustador a ponto de não se querer dormir sozinho por meses.
Essas “memórias afetivas” perduraram por mais de 20 anos.
Então imagine que um dia, essas memórias são novamente acessadas com o
burburinho de um “remake”, com os efeitos especiais de hoje. Resolvi então me
preparar psicologicamente e enfrentar o medo para assistir novamente o filme de
1982. Como não sou uma pessoa evoluída eu voltei a ser cagão, apesar de marmanjo
barbado. Fui assistir e logo o frio na
espinha sumiu... E a rizada me pegou de supetão mostrando que os medos infantis
nem sempre resistem além da infância. Mas foi justamente isso que me fez gostar
mais ainda do Poltergeist daquela década.

Colocaram a filha mais velha como uma “patricinha”
que é também atacada pela entidade em certo momento. No outro filme a irmã mais
velha tinha mais atitude, a ponto de em uma cena com os “pedreiros” da casa,
que começaram a se “engraçar” com ela, simplesmente os manda “tomar no khóh”,
com gestos “chicanos” de uma forma bem atrevida. Só que agora a cena ficaria
uma ofensa ao politicamente correto... ARRG!!! O politicamente correto é o que
mais pasteuriza os filmes de Hollywood, deixando-os chatos!!! Como se o povo de
verdade fosse politicamente correto... Duplo ARRG!!
E a piscina? Não teve piscina, com a mãe caindo na lama e os
caixões emergindo com corpos velhos e murchos pelo tempo pulando para fora. Tudo
bem que hoje a cena antiga fica cômica, mas dá um charme bem peculiar.
E o
desfalque imperdoável foi mudarem a ideia da vidente Tangina, interpretada pela
icônica Zelda Rubinstein, por um idiota (Jared Harris) que faz programas na
televisão de caça-fantasmas. Há momentos bons? Sim, bem poucos.
Não vejo grandes destaques para as interpretações de 2015. O
grupo de 1982 foi muito canastrão e essa era a graça em uma produção desse
tipo. Esta versão nova tentou-se levar muito a sério. Nem sempre “remakes” dão
certo. Esse foi mais um que não deu. Preferia ter ficado somente com minha
“memória afetiva”, toda destorcida, de uma criança, do que ter essa noção de um
filme mediano de adulto. Entre o
rocambolesco filme do século passado e o recente, o do século passado continua
sendo, no mínimo, mais divertido. E olha que não sou um saudosista... Muito
pelo contrário.