Ninfomaníaca - Volume I
Bom por problemas de “moralidade”
campineira eu não consegui assistir esse filme antes. Então a resenha só saiu
agora.
No geral os filmes de Lars von Trier não são
fáceis de digerir. Ele em si não é fácil de engolir. Tanto que após ganhar um
prêmio em Cannes, pelo filme Melancolia, fez declarações que o transformaram em
“Persona Non Grata” no festival. Pouco antes tinha envergonhado publicamente
sua atriz principal, Kirsten Dunst. Ele é assim. Alguns atores falam que é
extremamente difícil trabalhar com ele. Mas ele consegue tirar interpretações muito
boas. Só lembrando: Björk (que nem atriz é, e sim cantora), Catherine Deneuve, Nicole
Kidman, Lauren Bacall, sua queridinha Charlotte Gainsbourg, Willem Dafoe, Stellan
Skarsgård entre tantos outros que são relativamente frequentes em seus filmes.
Esse filme vem com
uma jogada de marketing bem apelativa. Bem mesmo! Até me decepcionei um pouco. Esperava
umas coisas mais “assustadoras”. Tinha lido uma crítica que o autor dizia-se
bem constrangido com tudo o que passava, principalmente com a sexualização das
brincadeiras infantis da personagem principal. Aí notei que o filme é sim forte
e eu que estou um pouco além dessas mentalidades reprimidas.
Para uma pessoa
comum, sem conhecimentos de algumas teorias freudianas, ou pessoas reprimidas
sexualmente, ou ainda pessoas que não tem uma cabeça aberta para o assunto,
esse filme realmente é uma “depravação” pura. Aparece cenas de sexo explicito,
digamos assim, aparentemente explicito. Em momento algum do filme eu fiquei
excitado. Pois tudo tem um pouco de razão de aparecer. Dar o impacto devido ao “problema”
sexual de JoeCharlotte / Gainsbourg. Eu compararia a um filme que, tratando o
problema da gula, mostrasse alguém se empanturrando de guloseimas. Todos nós gostamos
de ver e comer uma boa comida, mas quando é tratado de forma doentia não dá
nenhum prazer e sim estranhamento. É o que acontece com o sexo do jeito que von
Trier filma. Ele usa vários clichês do mundo erótico e sexual subvertendo de
tal forma que tudo faz realmente parte da história. E o que vai além é fruto da mente devassa ou não do
espectador. No mais é um filme que narra uma dimensão da vida.
Joe / Gainsbourg por algum motivo está
inconsciente num beco e é resgatada por Seligman (Stellan Skarsgård). Em sua
casa ele trata de Joe que começa contar suas histórias apimentadas. Ele serve
de canal psicanalítico para Joe perceber e ter o gancho necessário para sua
inusitada narrativa. Há inúmeras referências, indo de pescaria à músicas polifônicas
de Bach. É até meio difícil acompanhar tudo.
E Joe narra sua
história. Como ela se considera má e
perversa por gostar de fazer sexo, por se entregar a sua busca desenfreada em
satisfazer-se. Em certo momento diz que fazia sexo com 10 homens na mesma
noite, diariamente. Haja pomada para assadura!!!! Sua história é fragmentada,
nos dá trechos significativos do que passou. E mostra que nada é tão simples de
se entender. Sua narrativa é dividida em capítulos. Vemos como sua iniciação
erótica acontece aos 2 anos de idade, quando toma “consciência” de sua “boceta”.
Ela mesma diz isso. Oh!!! Um palavrão!!! Acostume-se, há muitos. Os
espectadores mais sensíveis talvez se sintam ofendidos. Não se preocupem, meus
alunos da 6ª série falam muito mais palavrões que os adultos possam supor. E pasmem,
eles aprendem justamente com adultos. Éh!!! Faz parte da vida o palavrão, a
depravação e o sexo, sujo ou limpo, com ou sem amor.
O filme é cheio de “participações”
bem especiais. Vários atores puderam mostrar seu talento em situações bem
inusitadas. A jovem Joe é bem retratada pela atriz Stacy Martin. Sua
neutralidade em expressões ressalta a sua fome por sexo. Dificilmente esboça
uma reação emocional sem estar ligada ao erótico. Mesmo assim não parece ser
diferente de muita gente tida como normal.

Shia LaBeouf perdeu
seu tom caricato e encorpa o “amor” da
vida de Joe, Jerôme. Antes que alguém se assanhe com o “pau” dele no filme,
saibam que muitas coisas são efeitos de digitação gráfica, ou próteses... Seus “safadenhos”!!!!
Há sim coisas reais mostradas. Assista para conferir e saibam que os atores
foram protegidos de certas consternações... Pelo menos foi o que circulou por
aí.
Indiferente ao tema
abordado, sexo, o filme se mostra bem interessante. É o estilo von Trier de
filme. Não é tão angustiante quanto “Anticristo” e não é tão simpático quanto “Melancolia”
porém, promete uma boa história. E antes que alguém diga algo, não é um filme
hollywoodiano. Tem um ritmo mais lento, tem interpretações menos rasas, tem
menos pudor em mostrar coisas que, contraditoriamente, a indústria americana não
gosta de mostrar.
Não falo para sentar,
relaxar e gozar, apenas aproveitem bem a história de Ninfomaníaca.