quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Um agradecimento no aniversário do Blog





          Hoje, sob a proteção do manto de Nossa Senhora de Guadalupe meu blog completa um ano de existência.
           Um ano que não consegui  contar nem metade do que me ocorreu na vivência dentro da Igreja.
            E estou com 16.450 acessos. E só tenho que agradecer a todos vocês que estão sempre dando uma olhada. Sei que ando postando pouco, mas fim de ano é complicado. Faculdade e trabalho tomam muito tempo. Semana que vem oficialmente estarei de férias e vou postar muitas outras histórias.
             Agradeço também a todos que tem lido minhas resenhas de filmes... É um público diversificado, eu sei, mas essa é a graça....

               Grande abraço e um muito obrigado a vocês que prestigiam o blog Assunto Crônico: Vinícius Motta nesses 365 dias de existência.   ^_^ 



terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Resenha de filme: Carrie - A estranha

Carrie - A estranha




           Tem coisas que não deviam ser mexidas... Entre elas filmes consagrados. E “Carrie - A estranha” foi um filme muito bom, com elenco inspirado. Ganhou várias indicações ao Oscar entre outros prêmios. Mas decidiram mexer com ele uma vez, e eu nem me dispus a assistir. E agora em 2013, vem nova tentativa.

            Ninguém bate a Sissy Spacek: loira, zóiuda, esquisita, porém bonita. Fragilidade e inconstância na medida certa. E a mãe feita por Piper Laurie está perfeita. Por mais que goste da Juliane Moore, esse papel não foi seu melhor. Ela poderia ter deixado esse mico de lado. Já a Chloë Grace Moretzé um desastre. Não sei o motivo de gostarem tanto dela. Achei sua loba maconheira em “Sombras da noite” péssima, e aqui ela repete o papel de deslocada.  Muita coisa do filme original se perde evidentemente. E a culpa de tudo acaba caindo nas costas de uma única garota, a malvada da história. Eu tinha lido o livro, e lá fica bem claro que a culpa é de todos. Professores negligentes, colegas adolescentes malvados, uma mãe repressora e o fundamental, a humilhação na frente dos amigos no dia de uma festa importante. Só quem ficou todo “cagado” numa balada sabe do que estou falando. Lógico que Carrie não chutou o balde na bebida, nem misturou bala com key e outros elementos explosivos. Ela foi vítima de uma brincadeira que dá muito errado.

              E esse novo filme não chega nem perto de tudo isso. Fica muita coisa descaracterizada. Dá a impressão que ela não precisava dar aquele chilique todo. Lógico que tinha o “detalhe” do sangue que foi jogado nela... Como disse, quem nunca ficou todo cagado numa festa néh???

                     Um remaker desnecessário. Tentaram atualizar a história, mas com os efeitos que possuímos hoje, ficou mais evidente como o trabalho saiu mal feito.  Nos anos 70 "Carrie" destruiu uma cidade, aqui no máximo ela quebra todo mundo no baile, racha o asfalto da rua, e implode a própria casa.... De forma bem chocha...  Mas uma frase ficou na cabeça nessa versão, e realmente não lembro se havia na primeira: “Eu matei a minha mãe... Quero ela de volta”. Nessa frase está um pouco do desespero que o filme todo não conseguiu alcançar. O desespero de uma garota reprimida que não se controla e perde a cabeça.

                   “Carrie - A estranha” da nova versão não chegou perto do original. Não chegou perto de compensar o valor dos ingressos no cinema... Haverá quem goste. Sempre tem. Eu não gostei...


             Sissy e Piper, vocês foram  phodásticas....

sábado, 30 de novembro de 2013

Resenha de filme: Jogos Vorazes - Em chamas.

Em chamas



            Eu não li o livro, então não tenho como fazer um comparativo. Vi o primeiro filme, que não gostei tanto assim. E este segundo possui um aumento de qualidade na produção. Foi o que me pareceu. As atuações são competentes. Mas essa personagem, a  Katniss Everdeen  (Jennifer Lawrence), não me prende. Não acho tão carismática como um Harry Potter, esse eu li os livros.  Com certeza ela foi melhor escrita que a coitada da série Fronteiras do Universo que não passou do primeiro filme.
            Uma história extremamente politizada, e manjada. Porém com certo grau de competência ao ser contada. Como li em algum lugar, não importa a história e sim como a conta.
            O filme está bem executado. E gera algumas emoções como os momentos onde há uma evidente revolução em andamento e pessoas simples sendo executadas por causa dela. O amortecimento coletivo pode ser suplantado pela revolta contra a miséria e pela sinceridade que nenhum meio de comunicação pode ter. Isso o filme trabalha. A injustiça social aparece o tempo todo nas cenas. É realente desagradável ver como o povo da “capital” se refestela em coisas superficiais e muita comida e outras pessoas de outros distritos passam pela penúria. E como em todo sistema opressor, o oprimido se rebela. Em um mundo onde os “opressores” foram conquistados e derrotados fico pensando se essa história faz algum sentido. Parece que sim, pois os cinemas lotaram. E já é a terceira franquia que tem a maior venda de ingressos na pré-estreia...

            Destaco umas cenas interessantes, a parte do “vestido de noiva” e a lembrança da personagem Rue, do primeiro filme, realmente dão nó na garganta. Porém a Jennifer Lawrence já não tem carinha de adolescente e já está com certa transfiguração causada por algum tipo de intervenção plástica. E era uma garota tão bonita, precisa se cuidar. E tem muito potencial, mesmo não gostando do filme que ela ganhou o Oscar, ela pode muito mais.  Enfim o filme substitui as “perdas” recentes dos jovens: as franquias “Crepúsculo” e a “Harry Potter”.  E como outras não entusiasmaram tanto, essa serve para os órfãos...  

            É um filme que vale a pena assistir. Principalmente por fazer parte de uma irritante trilogia que nos deixa em um suspense mais irritante ainda até o próximo filme. Ou se não tiver paciência, comprar o livro e ler tudo num fim de semana só.




segunda-feira, 8 de julho de 2013

Resenha de filme: Guerra mundial Z – Zumbis? Tenho pavor de Zumbis!


Guerra Mundial Z – Zumbis? Tenho pavor de Zumbis!

         Sim demorei a postar algo. Justifico-me: não deu! Justificativa bem esclarecida vamos ao filme.

         Antes disso deixe abrir meu coraçãozinho e falar que dentre todas as criaturas sobrenaturais as que menos gosto são os zumbis. Talvez trauma de infância. Eu morava numa avenida que acabava nos portões do cemitério municipal. Tive também um amigo que adorava assistir filmes de terror.

Eu odiava. Ele insistia e tinha um monte gravado. Eu acabava assistindo. E uma bela tarde de outono assistimos “A volta dos mortos vivos 2”. Fiquei com medo. Não pelo filme em si. Eu fiquei imaginando que,  por morar perto do cemitério (eram mais de 5 quadras e nem dava para ver o local direito), se houvesse um acidente daqueles do filme, os que iam ser “comidos” primeiros pelos zumbis? Nós... Aquilo me causou um pânico enorme. A ponto de sonhar e não conseguir comer carne por vários dias. Imaginava que era carne de defuntos. Nunca contei isso em casa. E isso me persegue até hoje. Crianças de 8/9 anos não deveriam assistir certos filmes... Um dia conto minha experiência com “Poltergeist  – O Fenômeno”. Até hoje odeio palhaços.



         Então, traumas esclarecidos eu digo: ODEIO MORTOS-VIVOS. O último filme desses seres asquerosos que rastejam tinha sido “Madrugada dos Mortos”. Arrependi até o último fio de cabelo.

         Então quando vi os trailers de "Guerra Mundial Z" e fiquei receoso. É fiquei... E resisti um pouco aos convites dos amigos. E acabei me rendendo ao apelo marqueteiro. Contudo: POHAN... NÃO SÃO ZUMBIS!!!!!! É UMA POHAN DE UMA DOENÇA MEGA POWER BLASTER MASTER DO “CACHORRO LOKO”. Eu achava que ia ter muitos cadáveres “redivivos” levantando de tumbas. Não, não tem nada disso. Uma espécie de vírus que se transmite por mordidas (!!! Éh, mordidas!!! isso comprova minha tese de doença do "cachorro loko") que deixa a pessoa toda “decomposta” em 10 segundos. E ela é atacada por espasmos estilo “exorcista” e assumem uma agressividade turbinada para atacar outros seres humanos.

         Fiquei até aliviado e ao mesmo tempo frustrado. Não há ninguém se arrastando... Não há corpos saindo de túmulos... Não há nada dos antigos zumbis lá... É uma doença... Nada diferente de “Resident Evil”...

         Enfim, efeitos competentes, um ator de "peso" competente, Brad Pitt, e coadjuvantes também competentes... Tem momentos bem interessantes no roteiro, como a quase “salvação” da humanidade dentro dos muros de Jerusalém... Lógico que, por haver um momento de “louvor, cura e libertação” a Yahveh,  a pior merda do filme (no sentido fodástico) ocorre.

         O roteiro, tentando ser vertiginoso, passa por cima de leis mais básicas de biologia e escorrega na descoberta prematura de uma suposta cura. Enfim, tende a ser uma franquia de sucesso. E o 3D? Admito que um susto que levei, foi por causa desse recurso... E, nada mais a declarar meritíssimo.


         Vale à pena assistir, para quem gosta de uma boa aventura. Não espere algo muito intelectual... Afff, nem sei o motivo de eu ter escrito isso... Serve para o entretenimento. E só.

         E... POHAN... NÃO SÃO ZUMBIS... UFFAAA!!!!!!!!   

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Manifestação em Campinas


Concordo que os ônibus aqui em Campinas estão em boas condições, a frota é renovada com certa constância. Porém, os motoristas, mal treinados e talvez pressionados com metas absurdas de tempo, parecem carregar uma carga de batatas e não pessoas. Fazem curvas, freiam, vivem colados nas conduções da frente sem se preocupar com o que acontece com as pessoas que pagam por aquele serviço. E vai questionar!!! Com o próprio motorista é risco de causar acidente, no telefone para reclamações é impossível ser atendido... Quebrar o ônibus não resolve... Em alguns pontos o abençoado motorista não para... Acho que não nos vê lá. Tadinhos... E as distâncias não justificam a tarifa de R$3,30. Campinas não é tão grande assim.

         E a manifestação com isso? Tudo!!!!!

         Começou com manifestações organizadas via sites de relacionamentos famosos. E por causa de R$0,20 (valor de São Paulo, Campinas subiu em dezembro de 2012 o valor de R$ 0,30) que continha todo o peso a insatisfação com anos de desmando. Vi tudo começar e desde o principio tive olhos simpáticos e comecei a me manifestar nas redes sociais contra pessoas que criticavam os “vândalos”. Fui aos poucos percebendo que tudo parecia mais o que realmente era. E fui acompanhando de longe, pois moro em Campinas, o que ocorria no Rio e em São Paulo. Vi a mídia, principalmente a Globo, contestar veementemente essas manifestações e vi gente instruída, supostamente, contra o povo que iniciava um levante de indignação. Enquanto tudo isso acontecia, meu perfil no Facebook continuava aparentemente o mesmo... Muita futilidade, sim eu adoro futilidades, sou fruto de minha época, muitas pessoas comprometidas ou não me cutucando, retribuía ou não uns e outros, e ululava de vez em quando algumas informações de manifestantes que se organizavam aqui e ali. Até que o primeiro protesto na rua ocorreu vi as postagens de um “amigo de face” e vibrei. Houve sim alguns incidentes, onde junta gente sempre há riscos, e em protestos sempre tem os mais exaltados.  Continuei vibrando mesmo assim  e apoiei da forma que podia, curtindo e comentando tudo o que aparecia. E uma questão já formou no meu coraçãozinho “Qual o motivo de Campinas não ter feito isso há 6 meses, quando o preço da tarifa foi para R$ 3,30, a maior do estado todo? ? ? ? ? ? ? ?” Não tive a resposta naqueles dias iniciais. Pensaram que era fogo de palha. Não foi, na Terra da Garoa continuou, também na suposta Cidade Maravilhosa.  Datena com sua merda de programa fez uma enquete e o povo aprovou as manifestações. Inchado com seu discurso demagógico e populista, estilo “eu sou o dono da verdade e falo pelo povo”, não entendeu o resultado que não teve como manipular. Jabor fez uma inflada crônica no Jornal da Globo contra os “estudantes sem real consciência política” e demais jornalistas, da mesma emissora, dando um tom negativo aos acontecimento. Pintavam com cores diferentes tudo o que ocorria. Era evidente que as informações não estavam casando. Nas redes televisivas vinha um tom grotesco, mas, graças à bondade divina, ou seja o lá o que rege o cosmos, havia internet. Mostrava tudo o que acontecia. Tudo, o lado bom e pacífico e o lado não tão bom, agressivo. E o ficou em evidencia foi a reação desproporcional dos policiais. Aí que a coisa mais me espantou. Ao invés do povo parar de sair às ruas, o povo começou a sair mais ainda. E não só no eixo Rio-Sampa. Outras capitais aderiram aos manifestos. Outras cidades também foram às ruas. E Campinas nada. Até que ouvi dizer que haveria a manifestação campineira no dia 20 de junho. Iria levar ainda uma semana para acontecer. Esperei. E outras cidades fazendo bonito e infelizmente tendo incidentes.

 E não é que outra coisa mudou? A televisão, entenda-se Globo, parou de denegrir (muito) toda a manifestação. O discurso, de forma tímida, mudou. Havia agora manifestantes pacíficos e manifestantes “radicais”. Até então era tudo a mesma coisa: vândalos. Deixando de ser “tudo gato no mesmo balaio” outras retratações começaram.

 E o dia de Campinas estava longe ainda.

         No meu face os cutucões de gente “em relacionamento sério” ou diminuíram, na mesma proporção que posts mostrando a indignação contra a violência de policiais, a corrupção, os $0,20 , a manipulação etc, etc, etc aumentavam. E junto também minhas curtidas e meus comentários. E a preocupação com Campinas, mantinha-se, colocada por várias vezes em palavras na minha linha do tempo no Facebook.

         Os dias foram passando, e o povo só encorpando em todas as cidades os protestos. E os políticos não entendiam o que estava acontecendo, nunca entendem quando o povo pede melhorias e mudanças. Abobados falavam coisas desencontradas. E achavam que era realmente só pelos R$ 0,20 de uma merda de transporte público. E no meio do povo um monte de reivindicações em placas e cartazes improvisados da forma mais precária possível.

Toda vez que uma bandeira partidária aparecia, era veementemente incitada a abaixar. Era outra característica do movimento. Os políticos não haviam feito nada até o momento, não mereciam crédito nenhum. Era tudo APARTIDÁRIO. Houve choro e ranger de dentes de várias lideranças “jovens” que classificaram a manifestação apartidária como algo “totalitarista”. Voltaram atrás e aceitaram de má vontade a vontade de quem é povo de verdade.

         Até que chegou o grande dia.

Eu tive que trabalhar, pois a escola que no momento dou aula, não fechou os portões. E ainda motivou os alunos a assistirem o jogo liberando da aula. E eu ia esquecendo, da Copa das Confederações, e a deliciosa vaia em cadeia nacional a ilustre “presidenta”. Foi o máximo ver aquilo.  Os manifestantes, pelo que vi, não eram contra a Copa em si, e sim contra os desvios de verbas que deveriam ir para hospitais e educação e os superfaturamentos. E teve gente que perdeu a chance de ficar quieto. Ronaldo, o Fenômeno solta sua pérola sobre a copa não ser feita com hospitais, causando a revolta de muita gente. E a sua “santidade” o rei Pelé, abriu sua caçapa pedindo ao povo para parar com as manifestações e prestigiar a seleção, que p-r-e-c-i-s-a-v-a dos brasileiros naquele momento. Dois totais alienados da real necessidade popular. Lógico que o povo que mais precisa está assistindo aos jogos. Os que saíram à rua são uma parcela que pensa um pouco mais e se envergonham da referência de o Brasil ser “apenas” o pais do samba e do Futebol. Nem os que não pensam, engoliram o que disse esses dois jumentos futebolísticos.    

         Enfim, eu decidi ir e fui. E já percebi o medo do motorista e da cobradora do ônibus, vítimas passivas daquele sistema, mais se preocupavam com a “preocupação” de seus patrões: “Vão quebrar os ônibus”, e macerados pelos anos de injustiças, não viam a verdadeira violência que eles sofriam no seu cotidiano. Subindo passagem e não subindo seus salários.  É a vida de gado que não percebe o abatedouro logo à frente, que o esfola e tira toda sua carne, sem nem lhes deixar com o direito aos ossos grudados às juntas. Desci no terminal central, e já percebi o reflexo de tudo. Estava esvaziado de seu normal. Na Av. Francisco Glicério, um resquício de manifestação. Imaginei que estivesse terminando, quando entrei pela Rua Conceição e me deparei com o grupo que ia se avolumando conforme chegava perto da Av. Anchieta. E lá, eu tive a primeira surpresa da noite. Havia muita gente, a ponto de eu não saber contabilizar. Alguns meios de comunicação falaram em 40 mil outros minimizaram para 20 mil. Um número estupendo, para quem estava desanimando com a demora na população campineira em acordar.  Enfim, desde a Irmã Serafina até quase a prefeitura o povo tinha tomado as duas pistas, e ainda nas quadras próximas e as praças por aquela região. E vi que antes de se chegar à frente da prefeitura havia uma barreira de policiais.

         Os jornais falaram de como foi violenta a manifestação em Campinas, mas digo agora o que eu vi:

- Em certo momento, os guarda jogaram bombas e gás lacrimogêneo no povo fazendo-os irem para longe. Aparentemente de forma gratuita. E os guardas recuaram, abrindo o seu paredão de isolamento. E passado o efeito do gás muita gente foi até a frente da prefeitura e os mais afoitos subiram as escadarias. Pareceu-me uma ação planejada. Ficaram a tarde toda impedindo e por volta das 20h liberaram o caminho. No mínimo uma atitude suspeita.  Lógico que os “manifestantes radicais” aproveitaram e jogaram pedras nos vidros da prefeitura. Por sinal, quem conhece a prefeitura de Campinas sabe que ela é cheia de janelões de vidro. Um prato cheio a má intenção alheia. Assim que quebraram o vidro os guardas sentiram-se no direito de “agir” contra os manifestantes. Cheirou-me a armação. Jamais saberemos;

- O tempo todo o povo manteve certa consciência coletiva, sem abrir mão do discernimento pessoal. Em vários momentos vi que se iniciava uma correria e muitos acalmavam os demais, pedindo para ninguém correr, para não gerar pânico e acotovelamentos. E o povo, mais assustadiço, se continha e evitando-se tumultos;

- Toda vez que um manifestante, “desavisadamente” ou “de intenção proposital”, tentava fazer um ato nitidamente vândalo (pichações, subir em monumentos públicos, danificar algo) a multidão em volta começava um coro de vaias ou um “sem violência”, “sem vandalismo”, “desce” e eles paravam na hora, envergonhados;

 - O povo estava calmo, apesar de certos momentos mais tensos, não se via um povo iracundo (nossa essa eu tirei do âmago de minhas memórias de leitura, afff... É que o termo “irado” perdeu sua força e tomou outro significado);

- Não se via gente bebendo, e usando drogas no meio, apesar de haver sim uns poucos alterados com algum tipo de substâncias, no geral a grande maioria estava de cara limpa, coisa quase impossível em aglomerações de gente no país do “samba e do futebol”;

- A faixa etária era de pessoas entre 20 e 30 anos. Faltou a grande população nos seus 40 e 50 anos, eu não entendi o motivo;

- A faixa social mais explorada não se fazia presente, assalariados que pegavam ônibus comigo às 6h da manhã. Era nítida sua ausência;

- Sem bandeiras, sem partidos, sem movimentos escusos;

- Sem jornalistas, sem carros de emissoras que não quiseram correr o risco de entrar no meio do povo, pois a popularidade, principalmente da Globo, foi afetada;

         Umas garotas que estavam a minha frente viram umas pedras soltas na calçada, e pegaram. Imaginei que estavam se armando. Quando já ia questioná-las simplesmente caminharam para minhas costas e jogaram as pedras dentro da grade do prédio que havia ali. Preocuparam-se em esconder uma possível arma de combate. Achei interessante. Uma nova forma de protestar.

 Demorou, mas Campinas acordou (???será???), espero que haja mais manifestações aqui. O histórico político é um tanto quanto ambíguo, Câmara de vereadores se reúne de madrugada, escondido do povo, para aprovar empreendimentos duvidosos, os governantes estão em constantes escândalos de corrupção, há um caso de queima de arquivo até hoje não resolvido, um dos prefeitos foi assassinado, supostamente há uma militância universitária (temos aqui a Unicamp), que não se mistura efetivamente aos problemas municipais. Sempre imaginei que Campinas fosse ser mais que é quando me mudei para cá em 2002, potencial já provou que tem. O que falta é o que ela não tem... Evidentemente...

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Resenha de filme: Jornada nas Estrelas – Além da Escuridão – o Universo Trekker remasterizado

         E vai mais uma franquia megalomaníaca se estabilizando no universo incerto do cinema.




          Eu sempre achei simpática a história, quase ingênua, da grande nave de viagens estelares Enterprise.  E não imaginava que a tentativa de reviver esse cultuado seriado fosse dar certo, principalmente no formato de filme. Mas deu!!! Demorei a assistir o primeiro que foi uma história bem competente, apresentando, a quem não conhecia, a trupe da Ponte de Comando mais famosa do mundo. Deu justificações iniciais para a tão bem moldada amizade dos tripulantes. É sofrível nos filmes de ficção a incapacidade de bons relacionamentos nas espaçonaves, há uma combustão inerente entre os escolhidos para cuidar de um empreendimento milionário que seria uma nave intergaláctica. E é justamente esse fator que faz todo mundo se “fuder” (sei que é correto, mas odeio ver ‘foder’ com ‘o’, o som com ‘u’ é tão mais ‘penetrante’ e ‘obsceno’), sobrando somente o personagem principal da história. “Star Trek” sempre teve como mote o “bom” relacionamento da equipe. O que é mais inteligente para uma grande empreitada dessas. Que maldito Recursos Humanos escolheria uma tripulação igual a do filme “Prometheus” de Ridley Scott? Só um RH ligado diretamente ao capeta, querendo ver todo mundo no inferno.


         Isso não acontece com essa “adorável” nave. Ninguém é perfeitinho lá, existem umas intrigas e algumas tensões.  E muitas brigas. Mas existe a amizade que é o que se forma em qualquer meio de trabalho mais sadio. E chama atenção a interação entre os povos de todo o planeta Terra e alguns alienígenas lá dentro. E gentchy, tenho que falar, é absurdo o tamanho a libido do Capitão Kirk /Cris Pine, que pula de uma cama com “gêmeas alienígenas rabudas” no maior gás.
           É o resquício da vertente “nerd", eles adoram imaginar essas coisas bizarras para os seus heróis.  

Ele extrapola todo o tipo de preconceito. Ele come quem aparece na frente, com rabo, sem rabo, azul, verde, sendo do sexo feminino e tendo uma silhueta humanóide ele pega. Imagino o tanto de gonorréia marciana e herpes plutoniana ele já deve ter pego.   
         Esse segundo filme é dirigido por J.J. Abrams que faz o que tem que ser feito: entreter. Ele dá o que promete: não deixa o espírito da série antiga morrer ao mesmo tempo em que atualiza os conflitos intergalácticos. Dá mais complexidade ao todo. Os efeitos são muito bons. Sem contar a caracterização dos alienígenas.  E uma coisa que sempre imaginava, mas não aparecia muito, devido aos limites da época: o que aconteceria se a nave sofresse um rasgo no casco? O povo não morreria? A série não focava isso. E o filme mostra. É aterrador ver um monte de gente ser sugada ao espaço. E também muito interessante ver as “entranhas” da Enterprise.


         O vilão é um espetáculo. Faz bem a caracterização, e sem entregar muito, ele não é uma novidade. Já fez parte do passado já gravado. Por isso que Abrams escolhe, e muito bem, o ator Benedict Cumberbatch para caracterizar uma ilustre lembrança.  Não conhecia a interpretação dele, promete um futuro interessante.  Vejamos se terá direito a papéis relevantes, e se fará escolhas certas.
         “Jornada nas Estrelas – Além da Escuridão” é um filme “pipocão” com um pouco de densidade “nerd” que vale a pena assistir. Não é necessário ler um manual sobre os pontos fundamentais da série antiga. Um dos melhores do gênero que vi esse ano. Sério, ficção científica está meio capenga... Vide “Oblivion” do Tom Cruiser. Esse é um alívio. Não sei se os brasileiros são tão adeptos do universo de “Star Trek”, mas só pela trama vale o ingresso. E o 3-D? É!!!! !u assisti em 3-D... Bom, o de sempre... vocês sabem já o que penso...

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Resenha: Faroeste Caboclo: Decepcionante


Faroeste Caboclo: Decepcionante
(apesar de que minha amiga T tenha adorado)




         Eu mesmo quando era adolescente pensei em fazer uma versão, no meu caso, escrita sobre a história dessa música. Pois é um dramalhão dos bons, que dá muitas possibilidades. E o que o abençoado roteirista desta “versão” de “Faroeste Caboclo” fez???? Cagou. Virou uma novelinha semi-teen ao estilo e padrão Globo de ser... Lamentável...

Só para vocês perceberem vamos à música (e eu sei que a grande maioria sabe praticamente décor) e coloco meus comentários.

“Não tinha medo o tal João de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu”

O tal João parece ter algo dele no próprio ódio. No filme tudo é justificado, transformando ele num herói, a culpa nunca é realmente dele, tudo tem um motivo. Convencional.

Quando criança só pensava em ser bandido
Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu
Era o terror da sertania onde morava
E na escola até o professor com ele aprendeu

No filme Santo Cristo tem mais uma cleptomania infantil que um “querer ser bandido”. Nem criança hiper ativa ele parece ser, muito menos “terror”. Não, e João nem vai à escola, é praticamente um “analfabeto”.

“Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro
Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar
Sentia mesmo que era mesmo diferente
Sentia que aquilo ali não era o seu lugar”

Igreja? Em tempos de agradar o maior número possível de “consumidores” por igreja, principalmente católica não pega bem, néh, sem contar que é melhor esquecer certas “influências históricas”. Pra que valorizar algo que é do passado, não é?? Não existe profundidade dramática no personagem João-criança. Ele não se questiona de nada, ele apenas observa, é passivo... Não há crises e angústias. Nem adolescente fica, pois o Boliveira com base e sem barba não convence que estamos a frente de um adolescente...

“Ele queria sair para ver o mar
E as coisas que ele via na televisão
Juntou dinheiro para poder viajar
De escolha própria, escolheu a solidão”

Televisão? Nem isso ele tem na versão de cinema. Ele mora num casebre de madeira bem capenga. Nem rádio... E olha que televisão é item obrigatório de qualquer pobre que se preze... Mas o filme fez de João um retirante indigente... Por isso não tem televisão. Não sei como não puseram ele sendo assistido pelo Bolsa Família...

“Comia todas as menininhas da cidade
De tanto brincar de médico, aos doze era professor.
Aos quinze, foi mandado pro o reformatório
Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror.”

João não teve infância normal, não foi pra escola, não conheceu outras crianças. Imagine “comer menininhas” sem contar que a moral “pseudo-puritana” brasileira (que em outros lugares é simplesmente chamada de hipocrisia) não aguentaria por isso na tela. O que a opinião pública diria??? Que é um absurdo, isso não acontece com as crianças brasileiras... Fazer sexo antes da idade de 18 anos... E quando João vai pro reformatório é por se vingar do guarda que matou seu pai... Que morreu injustamente, num ato covarde. Eles fazem uma força de justificar todos os traumas do Santo Cristo, deixando ele um personagem chato. Malvado mas bonzinho... A “santidade” de João está em ser um anti-herói. Não em fazer dele um real marco de comportamento exemplar, que de vez em quando faz coisa errada.

“Não entendia como a vida funcionava
Discriminação por causa da sua classe e sua cor
Ficou cansado de tentar achar resposta
E comprou uma passagem, foi direto a Salvador.

E lá chegando foi tomar um cafezinho
E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
E o boiadeiro tinha uma passagem e ia perder a viagem
Mas João foi lhe salvar

Dizia ele: "Estou indo pra Brasília
Neste país lugar melhor não há
Tô precisando visitar a minha filha

Eu fico aqui e você vai no meu lugar"

E João aceitou sua proposta
E num ônibus entrou no Planalto Central
Ele ficou bestificado com a cidade
Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal”

Não, João não se encontra com o boiadeiro, e nem vai a Salvador... Não se questiona sobres as injustiças da vida.... Vai direto e reto do reformatório para Brasília.


"Meu Deus, mas que cidade linda,
No Ano-Novo eu começo a trabalhar"
Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro
Ganhava cem mil por mês em Taguatinga

Na sexta-feira ia pra zona da cidade
Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador
E conhecia muita gente interessante
Até um neto bastardo do seu bisavô

Um peruano que vivia na Bolívia
E muitas coisas trazia de lá
Seu nome era Pablo e ele dizia
Que um negócio ele ia começar

E o Santo Cristo até a morte trabalhava
Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar
E ouvia às sete horas o noticiário
Que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar”

Imagina se João ia pra zona, a única mulher que ele come no filme, é Maria Lúcia. É um jeito, barato e óbvio, de mostrar como o personagem é “puro”. Parece-me que o Renato Russo não concebeu um João puro, sua “pureza” era uma falta de caráter, uma contravenção de uma pessoa que se enverga para o crime e que apesar dos pesares, sua história serve para uma crítica social, pois ele se preocupa com a situação de trabalhador explorado que vive... Mas para não ficar “chato” e engajado o filme deixa de lado toda a crítica social, e só faz uma referência bem rápida a isso. Não há críticas a nenhum governo. Mas há financiamento para realização do filme que se vê já no começo... É muita alienação.

“Mas ele não queria mais conversa
E decidiu que, como Pablo, ele ia se virar
Elaborou mais uma vez seu plano santo
E sem ser crucificado, a plantação foi começar.

Logo logo os maluco da cidade souberam da novidade:
"Tem bagulho bom ai!"
E João de Santo Cristo ficou rico
E acabou com todos os traficantes dali.”

Ele até começa uma plantação, ele tem sim a ajuda do Pablo. Não fica “rico”, é traficantezinho pé-de-chinelo. Não sai do bairro pobre que mora. E o único traficante que tem na cidade além dele e Pablo é o Jeremias. Empobrecimento de enredo, simplificação que amputou detalhes que fazem a diferença. E aqui me reporto a um recurso, meio estranho. Em pontos específicos do filme os diálogos são enxertos da música, literalmente. Então fica estranho, num filme que não segue fielmente a proposta da música soltar uma fala do tipo “Logo logo os malucos da cidade ficaram sabendo da novidade. Tem bagulho bom aí”. É muito estranho.

“Fez amigos, frequentava a Asa Norte
E ia pra festa de rock, pra se libertar
Mas de repente
Sob uma má influência dos boyzinho da cidade
Começou a roubar.

Já no primeiro roubo ele dançou
E pro inferno ele foi pela primeira vez
Violência e estupro do seu corpo
"Vocês vão ver, eu vou pegar vocês"

Também uma incongruência entre música e o roteiro. Ele é incapaz de fazer amizades sem a ajuda de Maria Lúcia. Ele é um traficante pobre e não tem acesso a Asa Norte. Ele é o favelado rejeitado. Sem nenhum pudor não fala da capacidade dele crescer sozinho. Ele é marginal e tratado como tal, apesar de “puro”.  E ele é estuprado pelo bando de viadinhos do Jeremias, e não ao ir pra cadeia. Nem sei se esse “estupro do seu corpo” é uma referencia sexual do Renato ou apenas um sentido figurado. Enfim. Para se ser estuprado na cadeia tem que ter “especificações”.

“Agora o Santo Cristo era bandido
Destemido e temido no Distrito Federal
Não tinha nenhum medo de polícia
Capitão ou traficante, playboy ou general

Foi quando conheceu uma menina
E de todos os seus pecados ele se arrependeu
Maria Lúcia era uma menina linda
E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu

Ele dizia que queria se casar
E carpinteiro ele voltou a ser
"Maria Lúcia pra sempre vou te amar
E um filho com você eu quero ter”

E aqui entra uma das piores licenças poéticas do filme: Maria Lúcia. Transformaram a garota numa romântica sonhadora e, pasmem, filha de senador. Riquinha. Sei que a música não fala muito dela. Fazer dela uma garota de classe média alta não ajuda. Parece que para agradar ao público, era necessário ter uma Julieta rica com um Romeu pobre. Uma branquinha toda tchu-tchuca, que fuma maconha “a rodo”, mas princesinha com um negão pobre para o público brasileiro torcer pelo “casal perfeito”. Pelo “amordedeus”, Maria Lúcia é mulher de traficante, cheia de defeitos do meio que vive. Ela não é inocente ao se envolver com João ou com o Jeremias. Mas não, ela deve ser a Julieta que numa referencia mal feita, o Romeu sobe em sua “bancada” da janela e apaixona-se. Uma licença poética deturpante e desnecessária. Maria Lúcia se “sacrifica” por João. Mas na música, parece que ela esquece dele rapidinho e vai ficar com o Jeremias. Ela é humana, cheia de contradições... Mas no filme...

“O tempo passa e um dia vem na porta
Um senhor de alta classe com dinheiro na mão
E ele faz uma proposta indecorosa
E diz que espera uma resposta, uma resposta do João

"Não boto bomba em banca de jornal
Nem em colégio de criança isso eu não faço não
E não protejo general de dez estrelas
Que fica atrás da mesa com o cu na mão

E é melhor senhor sair da minha casa
Nunca brinque com um Peixes de ascendente Escorpião"
Mas antes de sair, com ódio no olhar, o velho disse:
"Você perdeu sua vida, meu irmão"

"Você perdeu a sua vida meu irmão
Você perdeu a sua vida meu irmão
Essas palavras vão entrar no coração
Eu vou sofrer as consequências como um cão”

Esquece que o caldo já entornou nos primeiros dez minutos de filme. Nem espere nada desses versos...

“Não é que o Santo Cristo estava certo
Seu futuro era incerto e ele não foi trabalhar
Se embebedou e no meio da bebedeira
Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar

Falou com Pablo que queria um parceiro
E também tinha dinheiro e queria se armar
Pablo trazia o contrabando da Bolívia
E Santo Cristo revendia em Planaltina”

Em nenhum momento o Santo Cristo deixou de trabalhar com o Pablo. Nem bebedeira o “Santo” tinha. Era um verdadeiro “lorde inglês”. Só que não.

“Mas acontece que um tal de Jeremias,
Traficante de renome, apareceu por lá
Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo
E decidiu que, com João ele ia acabar”

E a outra desgraça de licença poética que foi totalmente desnecessária: Jeremias. Virou um filhinho de papai mimado. Riquinho que trafica. Uma espécie de antítese do “herói” totalmente equivocada. Um playboyzinho. Não um traficante de renome. Sem contar que ele estudou com Maria Lúcia no mesmo colégio e recebeu de herança os “negócios” do pai. Isso tira em muito o peso da intenção e motivação da trama original da música. Enfim. Continuemos o sofrimento.

“Mas Pablo trouxe uma Winchester-22
E Santo Cristo já sabia atirar
E decidiu usar a arma só depois
Que Jeremias começasse a brigar

Jeremias, maconheiro sem-vergonha
Organizou a Rockonha e fez todo mundo dançar
Desvirginava mocinhas inocentes
Se dizia que era crente mas não sabia rezar”

É, a Winchester 22 aparece, até de forma digna. Apesar de que reluzia de tão nova. As que vi não eram tão cintilantes. E a tal “Rockonha” foi uma festinha na mansão de Jeremias com a molecada do bairro. Como disse o caldo já está entornado mesmo, então é administrar o ódio pelo filme que se arrasta, por incontáveis horas.

“E Santo Cristo há muito não ia pra casa
E a saudade começou a apertar
"Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia
Já tá em tempo de a gente se casar"

Chegando em casa então ele chorou
E pro inferno ele foi pela segunda vez
Com Maria Lúcia Jeremias se casou
E um filho nela ele fez”

Essa parte também fica lamentável. Maria Lúcia “dá” pra Jeremias em forma de sacrifício para salvar João da cadeia. Meio forçado, e digno de Glória Peres e sua novelinha “Salve Jorge”. Era uma história pronta que conseguiram destruir. Era acerto certo, se transpusessem a trama da música na telona. E não fizeram isso. Fizeram uma “versão” e deu no que deu. Pode até ser que tenha gente que tenha gostado (minha amiga T por exemplo). Eu não gostei. Pensei que ia sentir a emoção de um símbolo da música nacional transposto, o que vi foi uma tentativa marqueteira de promover uma história que foge da música totalmente...

“Santo Cristo era só ódio por dentro
E então o Jeremias pra um duelo ele chamou
Amanhã às duas horas na Ceilândia
Em frente ao lote 14, é pra lá que eu vou

E você pode escolher as suas armas
Que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor
E mato também Maria Lúcia
Aquela menina falsa pra quem jurei o meu amor

E o Santo Cristo não sabia o que fazer
Quando viu o repórter da televisão
Que deu notícia do duelo na TV
Dizendo a hora e o local e a razão

No sábado então, às duas horas,
Todo o povo sem demora foi lá só para assistir
Um homem que atirava pelas costas
E acertou o Santo Cristo, começou a sorrir

Sentindo o sangue na garganta,
João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir
E olhou pro sorveteiro e pras câmeras e
A gente da TV que filmava tudo ali

E se lembrou de quando era uma criança
E de tudo o que vivera até ali
E decidiu entrar de vez naquela dança
"Se a via-crucis virou circo, estou aqui"

E nisso o sol cegou seus olhos
E então Maria Lúcia ele reconheceu
Ela trazia a Winchester-22
A arma que seu primo Pablo lhe deu

"Jeremias, eu sou homem. coisa que você não é
E não atiro pelas costas não
Olha pra cá filha-da-puta, sem-vergonha
Dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão"

E Santo Cristo com a Winchester-22
Deu cinco tiros no bandido traidor
Maria Lúcia se arrependeu depois
E morreu junto com João, seu protetor

E o povo declarava que João de Santo Cristo
Era santo porque sabia morrer
E a alta burguesia da cidade
Não acreditou na história que eles viram na TV”

E como a história toda foi pro ralo, nem caberia um duelo noticiado pela televisão. E pra falar a vocês, que duelo mal executado. O momento de maior tensão e desfecho. Fica totalmente comprometido por um roteiro que não foi cuidadoso com os detalhes. E a cena que Jeremias descobre que o João levou toda sua cocaína eu já tinha visto na Terça Insana, onde a Grace Gianoukas faz uma viciada em pó. Ficaria cômico se o momento não pedisse desesperadamente um drama. Enfim. Vamos a última parte.

“E João não conseguiu o que queria
Quando veio pra Brasília, com o diabo ter
Ele queria era falar pro presidente
Pra ajudar toda essa gente que só faz...

Sofrer...”

E João do filme quer saber do sofrimento do povo? Quer é “que o povo se exploda”... Como o velho bordão de um dos personagens do Chico Anysio dizia. E como vai se falar de sofrimento de povo se do filme tira toda a relevância e crítica social que a música tenta expressar de cabo a rabo? Faroeste caboclo é um caça níquel. Se valendo da aura de uma música consagrada no imaginário do povo brasileiro. A “Vivo” conseguiu um resultado muito mais positivo, e fofo, com seu “comercial” baseado na música “Eduardo e Mônica” do que esse filme.

Mas preciso dar o braço a torcer. A interpretação dos atores é bem esforçada e em certos casos perfeitas. O Fabrício Boliveira convence muito com sua cara de pobre, Isis Valverde é linda e uma atriz competente. O Felipe Abib não consegue impor tanta seriedade a seu Jeremias. Sendo ele um humorista, dos bons, percebe-se que o peso dramático fica comprometido por sua índole solar. E Jeremias é tudo menos solar...

Erros ferozes na construção de época. Uma delas é até uma curiosidade. Eles usam uma Bíblia no filme, um exemplar novíssimo de uma Bíblia de Jerusalém com capa “moderna”. Nos anos oitenta a capa era totalmente diferente. Se é que existia uma dessas bíblias nessa época. Ao invés de usar uma bíblia “evangélica” usam uma “católica” super moderna. Mas é um detalhe que poucos se importarão. Para quem conhece, faz uma diferença. Percebe-se que a pesquisa de época não foi tão minuciosa.

Eu não gostei do filme. E não via a hora de acabar. O maior defeito que um filme pode ter talvez seja esse. Prometer e não cumpri. A mim não cumpriu o esperado. Só usou a aura em torno do que a música era para se promover. E não chega nem aos pés da obra original. E Renato Russo deve estar de revirando no além...

         ... Masssss... Minha amiga T adorou. :-)