sexta-feira, 21 de junho de 2013

Manifestação em Campinas


Concordo que os ônibus aqui em Campinas estão em boas condições, a frota é renovada com certa constância. Porém, os motoristas, mal treinados e talvez pressionados com metas absurdas de tempo, parecem carregar uma carga de batatas e não pessoas. Fazem curvas, freiam, vivem colados nas conduções da frente sem se preocupar com o que acontece com as pessoas que pagam por aquele serviço. E vai questionar!!! Com o próprio motorista é risco de causar acidente, no telefone para reclamações é impossível ser atendido... Quebrar o ônibus não resolve... Em alguns pontos o abençoado motorista não para... Acho que não nos vê lá. Tadinhos... E as distâncias não justificam a tarifa de R$3,30. Campinas não é tão grande assim.

         E a manifestação com isso? Tudo!!!!!

         Começou com manifestações organizadas via sites de relacionamentos famosos. E por causa de R$0,20 (valor de São Paulo, Campinas subiu em dezembro de 2012 o valor de R$ 0,30) que continha todo o peso a insatisfação com anos de desmando. Vi tudo começar e desde o principio tive olhos simpáticos e comecei a me manifestar nas redes sociais contra pessoas que criticavam os “vândalos”. Fui aos poucos percebendo que tudo parecia mais o que realmente era. E fui acompanhando de longe, pois moro em Campinas, o que ocorria no Rio e em São Paulo. Vi a mídia, principalmente a Globo, contestar veementemente essas manifestações e vi gente instruída, supostamente, contra o povo que iniciava um levante de indignação. Enquanto tudo isso acontecia, meu perfil no Facebook continuava aparentemente o mesmo... Muita futilidade, sim eu adoro futilidades, sou fruto de minha época, muitas pessoas comprometidas ou não me cutucando, retribuía ou não uns e outros, e ululava de vez em quando algumas informações de manifestantes que se organizavam aqui e ali. Até que o primeiro protesto na rua ocorreu vi as postagens de um “amigo de face” e vibrei. Houve sim alguns incidentes, onde junta gente sempre há riscos, e em protestos sempre tem os mais exaltados.  Continuei vibrando mesmo assim  e apoiei da forma que podia, curtindo e comentando tudo o que aparecia. E uma questão já formou no meu coraçãozinho “Qual o motivo de Campinas não ter feito isso há 6 meses, quando o preço da tarifa foi para R$ 3,30, a maior do estado todo? ? ? ? ? ? ? ?” Não tive a resposta naqueles dias iniciais. Pensaram que era fogo de palha. Não foi, na Terra da Garoa continuou, também na suposta Cidade Maravilhosa.  Datena com sua merda de programa fez uma enquete e o povo aprovou as manifestações. Inchado com seu discurso demagógico e populista, estilo “eu sou o dono da verdade e falo pelo povo”, não entendeu o resultado que não teve como manipular. Jabor fez uma inflada crônica no Jornal da Globo contra os “estudantes sem real consciência política” e demais jornalistas, da mesma emissora, dando um tom negativo aos acontecimento. Pintavam com cores diferentes tudo o que ocorria. Era evidente que as informações não estavam casando. Nas redes televisivas vinha um tom grotesco, mas, graças à bondade divina, ou seja o lá o que rege o cosmos, havia internet. Mostrava tudo o que acontecia. Tudo, o lado bom e pacífico e o lado não tão bom, agressivo. E o ficou em evidencia foi a reação desproporcional dos policiais. Aí que a coisa mais me espantou. Ao invés do povo parar de sair às ruas, o povo começou a sair mais ainda. E não só no eixo Rio-Sampa. Outras capitais aderiram aos manifestos. Outras cidades também foram às ruas. E Campinas nada. Até que ouvi dizer que haveria a manifestação campineira no dia 20 de junho. Iria levar ainda uma semana para acontecer. Esperei. E outras cidades fazendo bonito e infelizmente tendo incidentes.

 E não é que outra coisa mudou? A televisão, entenda-se Globo, parou de denegrir (muito) toda a manifestação. O discurso, de forma tímida, mudou. Havia agora manifestantes pacíficos e manifestantes “radicais”. Até então era tudo a mesma coisa: vândalos. Deixando de ser “tudo gato no mesmo balaio” outras retratações começaram.

 E o dia de Campinas estava longe ainda.

         No meu face os cutucões de gente “em relacionamento sério” ou diminuíram, na mesma proporção que posts mostrando a indignação contra a violência de policiais, a corrupção, os $0,20 , a manipulação etc, etc, etc aumentavam. E junto também minhas curtidas e meus comentários. E a preocupação com Campinas, mantinha-se, colocada por várias vezes em palavras na minha linha do tempo no Facebook.

         Os dias foram passando, e o povo só encorpando em todas as cidades os protestos. E os políticos não entendiam o que estava acontecendo, nunca entendem quando o povo pede melhorias e mudanças. Abobados falavam coisas desencontradas. E achavam que era realmente só pelos R$ 0,20 de uma merda de transporte público. E no meio do povo um monte de reivindicações em placas e cartazes improvisados da forma mais precária possível.

Toda vez que uma bandeira partidária aparecia, era veementemente incitada a abaixar. Era outra característica do movimento. Os políticos não haviam feito nada até o momento, não mereciam crédito nenhum. Era tudo APARTIDÁRIO. Houve choro e ranger de dentes de várias lideranças “jovens” que classificaram a manifestação apartidária como algo “totalitarista”. Voltaram atrás e aceitaram de má vontade a vontade de quem é povo de verdade.

         Até que chegou o grande dia.

Eu tive que trabalhar, pois a escola que no momento dou aula, não fechou os portões. E ainda motivou os alunos a assistirem o jogo liberando da aula. E eu ia esquecendo, da Copa das Confederações, e a deliciosa vaia em cadeia nacional a ilustre “presidenta”. Foi o máximo ver aquilo.  Os manifestantes, pelo que vi, não eram contra a Copa em si, e sim contra os desvios de verbas que deveriam ir para hospitais e educação e os superfaturamentos. E teve gente que perdeu a chance de ficar quieto. Ronaldo, o Fenômeno solta sua pérola sobre a copa não ser feita com hospitais, causando a revolta de muita gente. E a sua “santidade” o rei Pelé, abriu sua caçapa pedindo ao povo para parar com as manifestações e prestigiar a seleção, que p-r-e-c-i-s-a-v-a dos brasileiros naquele momento. Dois totais alienados da real necessidade popular. Lógico que o povo que mais precisa está assistindo aos jogos. Os que saíram à rua são uma parcela que pensa um pouco mais e se envergonham da referência de o Brasil ser “apenas” o pais do samba e do Futebol. Nem os que não pensam, engoliram o que disse esses dois jumentos futebolísticos.    

         Enfim, eu decidi ir e fui. E já percebi o medo do motorista e da cobradora do ônibus, vítimas passivas daquele sistema, mais se preocupavam com a “preocupação” de seus patrões: “Vão quebrar os ônibus”, e macerados pelos anos de injustiças, não viam a verdadeira violência que eles sofriam no seu cotidiano. Subindo passagem e não subindo seus salários.  É a vida de gado que não percebe o abatedouro logo à frente, que o esfola e tira toda sua carne, sem nem lhes deixar com o direito aos ossos grudados às juntas. Desci no terminal central, e já percebi o reflexo de tudo. Estava esvaziado de seu normal. Na Av. Francisco Glicério, um resquício de manifestação. Imaginei que estivesse terminando, quando entrei pela Rua Conceição e me deparei com o grupo que ia se avolumando conforme chegava perto da Av. Anchieta. E lá, eu tive a primeira surpresa da noite. Havia muita gente, a ponto de eu não saber contabilizar. Alguns meios de comunicação falaram em 40 mil outros minimizaram para 20 mil. Um número estupendo, para quem estava desanimando com a demora na população campineira em acordar.  Enfim, desde a Irmã Serafina até quase a prefeitura o povo tinha tomado as duas pistas, e ainda nas quadras próximas e as praças por aquela região. E vi que antes de se chegar à frente da prefeitura havia uma barreira de policiais.

         Os jornais falaram de como foi violenta a manifestação em Campinas, mas digo agora o que eu vi:

- Em certo momento, os guarda jogaram bombas e gás lacrimogêneo no povo fazendo-os irem para longe. Aparentemente de forma gratuita. E os guardas recuaram, abrindo o seu paredão de isolamento. E passado o efeito do gás muita gente foi até a frente da prefeitura e os mais afoitos subiram as escadarias. Pareceu-me uma ação planejada. Ficaram a tarde toda impedindo e por volta das 20h liberaram o caminho. No mínimo uma atitude suspeita.  Lógico que os “manifestantes radicais” aproveitaram e jogaram pedras nos vidros da prefeitura. Por sinal, quem conhece a prefeitura de Campinas sabe que ela é cheia de janelões de vidro. Um prato cheio a má intenção alheia. Assim que quebraram o vidro os guardas sentiram-se no direito de “agir” contra os manifestantes. Cheirou-me a armação. Jamais saberemos;

- O tempo todo o povo manteve certa consciência coletiva, sem abrir mão do discernimento pessoal. Em vários momentos vi que se iniciava uma correria e muitos acalmavam os demais, pedindo para ninguém correr, para não gerar pânico e acotovelamentos. E o povo, mais assustadiço, se continha e evitando-se tumultos;

- Toda vez que um manifestante, “desavisadamente” ou “de intenção proposital”, tentava fazer um ato nitidamente vândalo (pichações, subir em monumentos públicos, danificar algo) a multidão em volta começava um coro de vaias ou um “sem violência”, “sem vandalismo”, “desce” e eles paravam na hora, envergonhados;

 - O povo estava calmo, apesar de certos momentos mais tensos, não se via um povo iracundo (nossa essa eu tirei do âmago de minhas memórias de leitura, afff... É que o termo “irado” perdeu sua força e tomou outro significado);

- Não se via gente bebendo, e usando drogas no meio, apesar de haver sim uns poucos alterados com algum tipo de substâncias, no geral a grande maioria estava de cara limpa, coisa quase impossível em aglomerações de gente no país do “samba e do futebol”;

- A faixa etária era de pessoas entre 20 e 30 anos. Faltou a grande população nos seus 40 e 50 anos, eu não entendi o motivo;

- A faixa social mais explorada não se fazia presente, assalariados que pegavam ônibus comigo às 6h da manhã. Era nítida sua ausência;

- Sem bandeiras, sem partidos, sem movimentos escusos;

- Sem jornalistas, sem carros de emissoras que não quiseram correr o risco de entrar no meio do povo, pois a popularidade, principalmente da Globo, foi afetada;

         Umas garotas que estavam a minha frente viram umas pedras soltas na calçada, e pegaram. Imaginei que estavam se armando. Quando já ia questioná-las simplesmente caminharam para minhas costas e jogaram as pedras dentro da grade do prédio que havia ali. Preocuparam-se em esconder uma possível arma de combate. Achei interessante. Uma nova forma de protestar.

 Demorou, mas Campinas acordou (???será???), espero que haja mais manifestações aqui. O histórico político é um tanto quanto ambíguo, Câmara de vereadores se reúne de madrugada, escondido do povo, para aprovar empreendimentos duvidosos, os governantes estão em constantes escândalos de corrupção, há um caso de queima de arquivo até hoje não resolvido, um dos prefeitos foi assassinado, supostamente há uma militância universitária (temos aqui a Unicamp), que não se mistura efetivamente aos problemas municipais. Sempre imaginei que Campinas fosse ser mais que é quando me mudei para cá em 2002, potencial já provou que tem. O que falta é o que ela não tem... Evidentemente...

Nenhum comentário:

Postar um comentário