Pacificador: arrumando o estrago
O Universo DC andava bem mal das pernas — e das capas — e, ao que parece, James Gunn veio para tentar arrumar o estrago. No cinema, a empresa criadora do Superman havia conseguido a façanha de, nas mãos de Richard Donner e em conjunto com um roteirista ilustre, Mário Puzo (o escritor de O Poderoso Chefão, que virou filme sob a tutela de Francis Ford Coppola, com roteiro assinado também pelo próprio Puzo, que inclusive ganhou um Oscar por isso — e admito, vergonhosamente, que ainda não assisti, apesar de saber praticamente tudo o que acontece), emplacar a história do kryptoniano exilado na Terra após o colapso de seu planeta. Essa história se estendeu por mais três continuações, mas depois veio um hiato de vários anos sem grandes heróis. Tentaram reviver o Super em outros filmes que fracassaram, e quase a pá de cal definitiva veio com Snyder e seu Super-Cavill: um “farmador de aura” (postura de quem quer transmitir confiança, poder e masculinidade, mas acaba só na pose), que não se importava com ninguém e parecia uma paródia sombria do Homem de Aço que tanto conhecemos.
Antes de entregar um projeto grandioso nas mãos de Gunn, talvez a DC quisesse testá-lo. O diretor já vinha de outros sucessos e, na concorrente Marvel, havia conseguido, com muito êxito, colocar os Guardiões da Galáxia na mira do público, trazendo humor e diversão em uma obra baseada em heróis de HQ. Então, sabe-se lá por qual motivo, deram o Pacificador para ele resgatar a partir de O Esquadrão Suicida de 2021 (já que o de 2016 não foi tão bem quanto esperavam). Escolhido o Pacificador, a série já começa mostrando a que veio, com uma abertura ridiculamente engraçada: todo o elenco dançando uma coreografia cafona ao som de “Do Ya Wanna Taste It”, da banda Wig Wam. O efeito é cômico e contagiante. O humor acompanha a série inteira, e até situações que poderiam parecer complicadas são usadas a favor de um roteiro ágil e divertido — também assinado por Gunn.
Resumidamente: o Pacificador (John Cena) acaba de sair do hospital após a missão suicida imposta por Amanda Waller (Viola Davis), que comanda a A.R.G.U.S., uma organização do governo americano que coordena missões com super-humanos. Tentando retomar sua vida, ele, para não voltar à cadeia, aceita se unir à equipe para o misterioso Projeto Borboleta. Chris Smith, o verdadeiro nome do Pacificador, é um homem caótico, machista, sexista, racista — enfim, um clássico macho escroto. Não dá para rotulá-lo de “hetero top”, porque, em contradição a isso, ele é bissexual. Esse detalhe é colocado no roteiro com tanta naturalidade que funciona como um bálsamo: não ofusca a trama, só acrescenta mais camadas dramáticas a um personagem que, na origem, era raso demais, mas que aqui ganha um arco de desenvolvimento emocional bem interessante.
Nessa nova missão, ele ainda precisa lidar com os fantasmas do passado: a morte do irmão e o pai, que além de odiá-lo é um supremacista branco e usa uma armadura tecnológica com chifres, se autodenominando Dragão Branco (Robert Patrick). Smith conta também com um amigo stalker, um maníaco lunático que se veste como uma espécie de ninja e usa as armas mais inusitadas que encontra, autointitulado Vigilante. Ele é surtado, um psicopata meio incel, com muitos parafusos soltos — e totalmente engraçado. Quem o interpreta é Freddie Stroma, que descobri, para minha surpresa, ter sido o jovem Córmaco McLaggen em Harry Potter e o Enigma do Príncipe — aquele que disputava o posto de goleiro com Rony no quadribol e ainda tentava ser par romântico da Hermione.
Tudo funciona nessa série: a ação, o humor, as loucuras e absurdos em que o Pacificador se mete. Ironicamente, ele mata sem pestanejar — em contraste com seu nome de “herói”. Não posso deixar de mencionar sua águia-careca de estimação, Eagly, que é ao mesmo tempo feroz, mortal e uma fofura só. Eagly acaba sendo o apoio emocional de Chris, já que, como bom “macho” americano patriota, ele não pode “fraquejar” mostrando emoções para outros humanos. Mas isso logo desmorona, pois a série desconstrói justamente o mito do “homem” americano durão. E quem ganha com isso somos nós.
A segunda temporada já estreou, mas até agora só assisti ao primeiro episódio. A primeira temporada, porém, é deliciosa de ver. Se eu me pego desligando da realidade e gargalhando, é sinal de que me agradou — e muito.
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