A hora do mal
Eu não gosto de terror; dito isso, eu gostei de “A Hora do Mal”. Demorei para assistir por causa do bloqueio que tenho com esse gênero. Quando começou a divulgação, achei a premissa interessante, afinal, quem não gosta do sumiço de um bando de alunos de uma mesma sala de aula? Eu já fui professor e desejei isso várias vezes, e não só com uma turma, mas com todas. Como não ando numa fase boa de saúde mental, algumas histórias só me causam desconforto, e não diversão. E diversão é o que me motiva assistir a um terror. Não gosto de sair da frente da tela com a sensação de que há um demônio ou espírito maligno me perseguindo, ou mesmo com uma crise existencial que me dá vontade de bater a cabeça na parede. Para mim, a diversão não passa pelo sentimento de aflição que a maioria dos filmes me causa. Essa aflição começou em 2003 com a clássica cena das toras caindo do caminhão na estrada e matando quase todo mundo no filme “Premonição 3” das piores maneiras. Eu realmente não gosto de ver gente sendo arregaçada, betoneirada, centrifugada, dilacerada, empalada, esquartejada, esmagada, envelopada, fatiada, garfada, hospitalizada, incendiada, judiada, liquidificada, moída, navalhada, obliterada, picada, queimada, ralada, seccionada, triturada, unhada, zumbificada... Por isso, a diversão tem que existir como algo primordial, através de uma boa produção e de um roteiro inteligente. Os últimos filmes dessa vertente só me causam desconforto, repugnância e aflição. Não digo que não possa haver cenas fortes, mas elas precisam ter propósito dentro da trama. Já os jump scares (sustos com aparições repentinas e som alto) são colocados em situações tão banais que causam mais ódio do que susto.
Gostei deste filme porque ele vai passando por vários segmentos que remetem a diferentes nichos do terror. Começou até modorrento (sonolento), quase dormi no fim de tarde quente em que estava assistindo. Contudo, como é fragmentado em vários pontos de vista, isso dá outra dinâmica ao desenrolar da história. O filme vai nos dando perspectivas para entendermos aos poucos o que está acontecendo, sem entregar nada de bandeja. Começa com uma cena bonita, visualmente falando: as crianças saindo de casa às 2h17 da madrugada e sumindo na escuridão das árvores. Tanto que os pôsteres usam essa imagem. Ao mesmo tempo é desesperadora, pois elas estão desaparecendo e ninguém sabe o que aconteceu. O roteiro nos conduz habilmente ao clímax da história que, para mim, foi muito satisfatório. Não posso contar mais para não dar spoilers.
O título em português é bem explicativo, pois se refere ao horário em que as crianças somem, 2h17. E como esse “dezessete” me causa arrepios... Já em inglês, o título original é “Weapons”, que significa “armas”. Realmente fica um pouco no ar a relação desse termo com o começo do filme, é necessário que se perceba, na pegada da trama, que as pessoas são usadas como armas, sendo colocadas umas contra as outras. Essa explicação só faz sentido assistindo ao filme até o fim para entender como isso acontece.
O que mais gostei no filme foi que o mal acontece dentro de algo muito presente na nossa cultura, e nos sentimos envolvidos a cada parte, até finalmente chegar à catarse que somente um bom terror pode proporcionar. E, melhor ainda, tem um final definitivo, sem o gancho manjado para infinitas continuações, o que faz muito bem de vez em quando uma boa história fechada.
Este ano, foi o terceiro terror que assisti e gostei. O primeiro foi “Pecadores”, fenomenal; o segundo, “Um Verão Infernal”, um slasher bem divertido; e agora este. Nos três não senti aflição ou desconforto por causa de cenas colocadas apenas para impressionar. Achei que todos foram, cada um à sua maneira, bem escritos e desenvolvidos dentro dos estilos a que se propuseram. São esses os terrores que eu gosto.
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