terça-feira, 10 de setembro de 2024

Livro: Menino do Engenho - Como fazer um sinhôzinho



    Estou numa empreitada de ler todos os livros que estão em minha estante desde que me lembro por gente. E “Menino do Engenho” me assombra desde meus tenros anos. Não só pela edição ser horrorosa, com um menino com a cara laranja na capa, como a própria história de um garoto crescendo num engenho de cana nas primeiras décadas do século passado não me animava muito. Talvez o impacto foi importante quando lançou (1932) e nas décadas subsequentes para os mesmos letrados que juravam de pé junto que Capitu era traidora do pobre e inocente Bentinho: homens. Se em Dom Casmurro temos a crítica escancarada à masculinidade frágil da época do autor, aqui temos o saudosismo crônico do Rego, é usar assim não pega bem em nossa língua... 
    Do Rego, ou melhor, José Lins do Rego faz algo que com certeza foi bem inovador, contar as mesmórias de um jovem que perdeu a mãe em circunstâncias ainda existentes em nossos dias e foi morar no engenho de cana de açúcar de seu avô materno. O pai matou a mãe por ciúmes. E suas narrativas ponderam e ilustram os dias de glória dessa infância tão sabora perdida no passado. O livro acaba com a sensação que o maior problema do homem é deixar de ser criança. Eu acharia poético se esse mesmo argumento não justificasse atitudes não adequadas de marmarjos já maiores de idade que ainda se acham “garotões”. Homens feitos fazendo o que querem como moleques. Parece que a infância perdida lá no engenho é o ideal de vida de város brasileiros em sua fase adulta. E o mesmo saudosismo da obra do José Lins do Rego escutei da boca de vários homens barbados no alto de seus 22 anos, 26, 30, 40 e até alguns com mais de 60. E por mais que se divirtam e vivam na felicidade da vida de garotos sem preocupações essse vai ser o momento que ainda anseiam, a infância perdida para a idade adulta. 
    No livro Carlinhos é simplesmente um garoto que tem acesso e direito a ir por todos os caminhos do engenho, acesso as negras, descendentes ou escravos aforriados. O único lugar que não tem livre acesso é a dispensa que sua tia guarga com chave e punhos de ferro de quem é tirano. Pelo menos é isso que ele acha, afinal, como Bentinho, ele é a única testemunha que narra a sua própria história. Contudo não é um suceder de artes e estripulias de um garoto, ele é um herdeiro, um sinhôzinho e isso fica claro diante dos negros que seu bondozo avô ainda acolhe mesmo depois da alforria. Ou mesmo nas mazelas da região que não são sanadas ou tratadas para melhoria do bem comum. Tudo é mantido como tal para o benefício dos donos da casa grande. E assim ele vai conhecendo a vida pelo viés do homem branco privilegiado, conhece o amor inocente e logo em seguida é iniciado com uma das negras que prestam algum serviço lá. E para variar, sífilis. Nisso o livro é bem corajoso de expor a vitórias dos machos heterossexuais brasileiros, contudo é visto mais como um troféu da vitória do que algo preocupante. 

    No geral, por ser um texto de 1932 não temos expressões difíceis, a não ser as de origem regional, e não são poucas. Caso tenha crescido em algum rincão brasileiro talvez não ache difícil de entender o contexto, caso contrário, vai sofrer um pouco sim. Cada capítulo parece mais uma crônica independente uma da outra. Claro que há uma linha temporal que vai impulsionando para o crescimento do personagem principal. Li mesmo pelo motivo acima e pela necessidade de entender os nossos clássicos. Todo esse saudosismo fica meio vazio e sem sentido quanto temos por referência outro clássico, mas do cinema, “Conte comigo”, baseado numa obra do Stephan King que desenvolve melhor os personagens. Aqui só temos o Carlinhos que é raso feito um pires. Mas é disso que são feitos os sinhôzinhos... 



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