Estou numa empreitada de ler todos os livros que estão em minha estante desde
que me lembro por gente. E “Menino do Engenho” me assombra desde meus tenros
anos. Não só pela edição ser horrorosa, com um menino com a cara laranja na
capa, como a própria história de um garoto crescendo num engenho de cana nas
primeiras décadas do século passado não me animava muito. Talvez o impacto foi
importante quando lançou (1932) e nas décadas subsequentes para os mesmos
letrados que juravam de pé junto que Capitu era traidora do pobre e inocente
Bentinho: homens. Se em Dom Casmurro temos a crítica escancarada à masculinidade
frágil da época do autor, aqui temos o saudosismo crônico do Rego, é usar assim
não pega bem em nossa língua...
Do Rego, ou melhor, José Lins do Rego faz algo
que com certeza foi bem inovador, contar as mesmórias de um jovem que perdeu a
mãe em circunstâncias ainda existentes em nossos dias e foi morar no engenho de
cana de açúcar de seu avô materno. O pai matou a mãe por ciúmes. E suas
narrativas ponderam e ilustram os dias de glória dessa infância tão sabora
perdida no passado. O livro acaba com a sensação que o maior problema do homem é
deixar de ser criança. Eu acharia poético se esse mesmo argumento não
justificasse atitudes não adequadas de marmarjos já maiores de idade que ainda
se acham “garotões”. Homens feitos fazendo o que querem como moleques. Parece
que a infância perdida lá no engenho é o ideal de vida de város brasileiros em
sua fase adulta. E o mesmo saudosismo da obra do José Lins do Rego escutei da
boca de vários homens barbados no alto de seus 22 anos, 26, 30, 40 e até alguns
com mais de 60. E por mais que se divirtam e vivam na felicidade da vida de
garotos sem preocupações essse vai ser o momento que ainda anseiam, a infância
perdida para a idade adulta.
No livro Carlinhos é simplesmente um garoto que tem
acesso e direito a ir por todos os caminhos do engenho, acesso as negras,
descendentes ou escravos aforriados. O único lugar que não tem livre acesso é a
dispensa que sua tia guarga com chave e punhos de ferro de quem é tirano. Pelo
menos é isso que ele acha, afinal, como Bentinho, ele é a única testemunha que
narra a sua própria história. Contudo não é um suceder de artes e estripulias de
um garoto, ele é um herdeiro, um sinhôzinho e isso fica claro diante dos negros
que seu bondozo avô ainda acolhe mesmo depois da alforria. Ou mesmo nas mazelas
da região que não são sanadas ou tratadas para melhoria do bem comum. Tudo é
mantido como tal para o benefício dos donos da casa grande. E assim ele vai
conhecendo a vida pelo viés do homem branco privilegiado, conhece o amor
inocente e logo em seguida é iniciado com uma das negras que prestam algum
serviço lá. E para variar, sífilis. Nisso o livro é bem corajoso de expor a
vitórias dos machos heterossexuais brasileiros, contudo é visto mais como um
troféu da vitória do que algo preocupante.
No geral, por ser um texto de 1932
não temos expressões difíceis, a não ser as de origem regional, e não são
poucas. Caso tenha crescido em algum rincão brasileiro talvez não ache difícil
de entender o contexto, caso contrário, vai sofrer um pouco sim. Cada capítulo
parece mais uma crônica independente uma da outra. Claro que há uma linha
temporal que vai impulsionando para o crescimento do personagem principal. Li
mesmo pelo motivo acima e pela necessidade de entender os nossos clássicos. Todo
esse saudosismo fica meio vazio e sem sentido quanto temos por referência outro
clássico, mas do cinema, “Conte comigo”, baseado numa obra do Stephan King que
desenvolve melhor os personagens. Aqui só temos o Carlinhos que é raso feito um
pires. Mas é disso que são feitos os sinhôzinhos...
E como a vida não está fácil
para ninguém, principalmente para quem quer viver de seus conteúdos, e eu só
escrevo e não faço vídeos para Tik Tok ou Intagram (sou todo vergonhoso), mas
infelizmente acho que vai ser o jeito reconsiderar... Enfim, quem quiser
contribuir com qualquer valor, segue a chave pix, que é meu e-mail, pelo Banco
Inter e está no meu nome Vinícius Motta: Pix - vinimotta2012@gmail.com.br
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