segunda-feira, 22 de maio de 2017

A Cabana - Deus é Mãe

A Cabana - Deus é Mãe




       
  Há dois anos tentei ler o livro e não consegui. Achei chato. Por certo que Willian P. Young tentou um nicho de mercado bem prolífico: o cristão. Não que o livro assuma uma denominação, ele tenta ser universal para fisgar desde católicos até os neopentecostais. Algumas coisas fogem da ortodoxia mas passa tranquilo por “liberdade poética”.

         O filme segue os passos pedagógicos do livro, pelo menos até a parte que li. Com uma ou outra alteração. E vemos um desfile de imagens monótonas e talhadas para assolar o povo que acha lindo uma estética batida. Basicamente a história acompanha o patriarca da família Phillips que acaba por perder a filha mais caçula de forma brutal. Ele que já não nutria grande simpatia pela religião acaba por se afastar de vez de Deus e cria um abismo entre si e o restante da família.

        Um dia recebe uma carta que o convida a ir até “a cabana”, local onde acharam as roupas de sua filha, e jamais o corpo. E lá vai ele. E lá acontece o encontro com a Santíssima Trindade através de uma maternal presença representada pela atriz oscarizada Octavia Spencer. Numa cena, o Papai do Céu fala que se apresenta como mulher pois o Mack (Sam Worthington) sempre teve uma visão  negativa de um pai “homem”. Jesus é interpretado pelo ator israelense Aviv Alush e o Espírito Santo a atriz japonesa Sumire Matsubara. Até mesmo a versão masculina de Deus toma o corpo do veterano ator e indígena Graham Greene.
É interessante  o uso de diversas etnias para mostrar a Trindade. Pai, e Filho e Espírito Santo passam um tempo batendo papo com Mack tentando colocar em sua cabeça dura o quanto Deus Pai é bom e ele está equivocado em achar que a culpa de sua filha ter sido brutalmente assassinada ser dele. Até a Sabedoria Divina, que no Antigo Testamente é praticamente uma personificação alheia a Deus, apesar de dependente, aparece no corpo da brasileira Alice Braga. Tudo faz com que Mack repense sua relação com Deus e reate seu amor ao criador.
        
Esse livro, e em consequência o filme, vai de encontro com velhos questionamentos da humanidade enquanto a suposta ambiguidade na ação divina. Como o filme toma o contexto cultural americano, fortemente influenciado pelo protestantismo vemos que tudo é colocado como uma visão relativamente nova. Até parece que é tudo algo bolado pelo autor. Porém, se o catolicismo pecou por esconder os ensinamentos o protestantismo peca por não estudar muito a história. Tudo que é retratado no filme, pelo filtro modernoso que vemos, já foi abordada à exaustão pelos teólogos católicos desde os primeiros séculos: Dionísio de Corinto, Dionísio de Alexandria, Tertuliano, Orígenes, Agostinho, Abelardo, Anselmo, Guilherme de Ockan, Tomás de Aquino até os contemporâneos, sejam os católicos, sejam os protestantes.

         Então o questionamento do filme é antigo e a busca pela resposta tão antiga quanto. E já aviso que é estabelecido um consenso sobre o tema há pelo menos uns 1800 anos de história cristã. Não ache que “A Cabana” descobre o segredo mais imperscrutável do universo pois não descobre. Só faz colocar de forma simples o que os teólogos já o fizeram e continuam fazendo.


        
O filme no geral pode emocionar quem não tiver um coração já calejado pelas hipocrisias cristãs. Infelizmente é o meu caso. Me entediei aos 20 minutos de filme. Claro que quem nunca ouviu sequer a menção  “Deus é mãe!” achará tudo muito inusitado. E a propósito, o primeiro a citar essa ideia de forma oficial ao mundo foi o papa João Paulo I... Coitado, morreu com apenas 33 dias de pontificado... 

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