Gabriel e Iago V - A viagem
Para quem não se lembra do início aqui estão os links para as outras partes dessa história.
http://assuntocronicoviniciusmotta.blogspot.com.br/2014/01/gabriel-e-iago-2-era-um-comum-ficcao.html
Os semestres
passaram tranquilos e sem grandes mudanças em minha amizade com o Gabriel. Só
ficamos mais unidos. Ele me salvava em algumas matérias e eu a ele em outras.
Éramos grandes parceiros no nosso curso, quase simbióticos. O povo queria muito
fazer trabalhos conosco pois a nota era garantida. E alguns convites começaram
a aparecer. Festas em repúblicas e algumas baladas. O Gabriel nunca dava a
resposta afirmativa e nunca se negava também. Porém em todas que decidi ir, ele
nunca apareceu. Quando a festa era na casa de alguém mais próximo ele “dava uma
passadinha”, sempre tinha outro compromisso. Via a todos, beijava o rosto das
amigas e ia até o dono ou a dona da festa e se desculpava e logo partia. Mal me
via, ia lá me dar um abraço caloroso. Mas nunca comentava para onde iria
depois. E para minha maior tristeza, nunca me convidava para ir.
As féria de julho foram normais. Mesmo sem nos ver nas aulas um ligava para o outro para um convite para fazer algo, um cinema, um lanche, pizza no shopping. Fiquei surpreso
quando pouco antes das férias ele comentou de sua viagem:
- Cara não queria
viajar essas férias!
- Nem sabia que ia viajar.
Para onde vai? – Perguntei quase me convencendo que não estava interessado em
saber.
- Escócia! – Ele
disse como se fosse algo bem ordinário aqui do lado.
- Nossa! Escócia na
Europa? – perguntei o óbvio como se fosse extraordinário.
- Sim! – e rindo de
minha cara completou – E tem outra na Ásia?
- Não! – disse meio
ofendido – não é isso. É que me surpreende você ir para lá...
E antes que
concluísse outro pensamento brilhante ele me cortou dizendo:
- Meus bisavós são
escoceses – levantou as sobrancelhas em
sinal de justificativa – e estão vivos ainda. Acho que estão com uns cento e
cinquenta anos. E meu pai faz questão de ir para lá umas duas ou três vezes ao
ano. E me obriga a ir. Consegui escapar de ir lá em julho.
- Mas isso é bem legal – disse
sinceramente quase pedindo para me levar junto – “muito legal” na verdade. Eu
tenho só minha avó por parte de pai. Avó é tudo de bom... Hum, Pelo menos a
minha é! Me dá dinheiro, mesmo eu já sendo crescido, faz um monte de bolos e
doces e me obriga comer tudo, o que não é nenhum sacrifício. Quase todos os
domingos vamos lá na casa dela, quando ela não vem na nossa ou saímos todos
juntos para comer em algum lugar.
Eu continuaria a
falar e falar se não visse a cara de desgosto de Gabriel.
- É Iago, os meus
bisavós não são tão simpáticos assim. E minha avó mora aqui no Brasil. Ela
brigou com eles e não se falam há anos. Eles são bem difíceis de se tratar. Mau
humorados demais. E meu pai sempre foi muito apegado a eles. Minha avó teve meu
pai lá, e ficou viúva. Parece que ela culpa meus bisavós pela morte dele. Eu
não sei a história direito. Só sei um pouco por ter escutado sem querer uma
conversa de meu pai com minha mãe. Ele
veio para o Brasil com uns 10 anos, acho.
Senti que o Gabriel estava se
abrindo mais que o costume e o tranquilizei:
- Não deve ser tão
ruim assim. Eles moram em “Dúblim”? – disse com o acento bem abrasileirado.
- Não, imagina! –
disse desconfortável corrigindo minha confusão de localidades – Dublin é
capital da Irlanda. Da Escócia é “Edinburgh” – pela primeira vez ouvi o seu
sotaque carregado em uma palavra - Moram bem ao norte da Escócia em Thurso longe para “carái”.
E como se quisesse
me enfeitiçar concluiu:
- De onde você achou
que vinha esse cabelo vermelho cheio de cachos?
- e passando a mão pelos anéis que formavam fez um balanço na cabeça
para frente e eu realmente me senti encantado.
Só lembro que fui
ver onde ficava essa tal de “Turso” e descobri que era muito longe mesmo, bem
ao norte.
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