segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Animais Fantásticos e Onde Habitam – De olho no subtexto

Animais Fantásticos e Onde Habitam – De olho no subtexto






         A primeira história do universo de Harry Potter escrita diretamente para o cinema. Lembrando que houve outra direcionada ao teatro “HP e A Criança Amaldiçoada” e já transposto para livro.

     
    HP foi uma franquia da literatura infanto-juvenil que fez muito sucesso e teve os direitos comprados pela Warner, tudo se multiplicou. Quem não leu os livros assistiu os filmes e voltou e leu os livros ou comprou todos os objetos relacionados ao mundo de J.K. Rowling: canetas, camisetas, cadernos, canecas, brinquedos e todo tipo de quinquilharia que fãs adoram. Até um parque temático foi aberto para os aficionados em Orlando nos EUA.


        

Como o interesse aqui é o filme um breve resumo de “Animais Fantásticos...”: Os EUA é um país onde ser bruxo é perigoso. Por questões históricas o mundo bruxo é mantido sob total proteção e escondido. Animais mágicos foram caçados e mortos e todos vivem em estado de histeria. Newt Scamander (Eddie Redmayne, ruinzinho como só ele pode ser), desembarca em Nova York, em uma data imprecisa, no pós-guerra, com um carregamento de animais mágicos dentro de uma mala ampliada magicamente.

Ao mesmo tempo que ocorre o ataque de uma criatura "sobrenatural" aos olhos dos não-mágicos à cidade.  Scamander acaba por trocar de mala com um no-maj (não-mágicos), como os americanos chamam os trouxas, Jacob (Dan Fogler) e sem querer liberta algumas criaturas inofensivamente letais. Porpentina Goldstein (Katherine Waterston), funcionária do ministério da magia americano, se envolve com os dois para tentar resolver o problema que causaram e pode desencadear uma guerra civil entre "no-majs" e bruxos. Porém, acontecimentos maiores estão se desdobrando diante desses problemas e ninguém percebe.

        



Deste ponto em diante Spoilers ..... spoiles... spoilers – depois não digam que não avisei....








Aqui faço algumas ressalvas: o roteiro tem furos. O Redmayne é de doer. E o melhor ator do longa, Collin Farrell fazendo o suspeito e ambíguo Percival Graves, é “destruído”.  Grindelwald é uma caracterização mal-sucedida de Johnny Depp. E os elfos domésticos estão menos realistas que o habitual, menos até que os animais. Tudo bem, a fantasia supera isso.

        

          No mais a história é boa como um todo. Novos personagens carismáticos são introduzidos, com exceção do Scamander. Temos até um típico “freak” americano, Credence, feito pelo interessante Ezra Miller que é submisso à sua mãe adotiva, beata e odiável Mary Lou (Samantha Morton).

        
Outro ponto interessante é que um dos pares românticos que se forma no enredo é encabeçado por um tipo sempre delegado a um estereótipo patético, um gordo. Jacob teria tudo para ser o coadjuvante que dá um contrapeso cômico a uma história. O que vemos é um personagem bem resolvido que engata um romance com uma das personagens mais bonitas da história, a Queenie, irmã de Porpentina, vivida pela Alison Sudol. E o casal demonstra muito carisma juntos. Desde o primeiro encontro na casa das duas irmãs o que vemos é um tratamento humano a um personagem gordo, coisa rara em Hollywood.
E Jacob não é apenas engraçado, é além de tudo alguém que, lançado sem querer em um mundo que não sabia que existia, consegue embarcar na paixão de Scamander e entender a beleza das “bestas”, mesmo que perigosas. A palavra “animais” que nossos tradutores adotaram não dá a densidade e perigo embutido que a palavra “bestas” possui. Por qualquer razão que seja não usar essa palavra nos dá uma noção de preconceito que nos leva a acreditar que “besta” é algo não só animalesco, mas também desprovido de qualquer tipo de sensibilidade. E os “Animais Fantásticos” possuem um lado bem racional e doce que se perderia nesse termo duro do português.

           
Outra coisa que não sei dizer se imaginei demais ou realmente faz parte propositalmente do roteiro foi uma pegada LGBT. Sim, nada mais gay, por exemplo, que dois homens trocando informações em um beco escuro, longe das vistas de todos. Um homem novo e um mais velho que em certos momentos quase se beijam. É nítida a sedução exercida pelo mais experiente tentando conseguir “favores” do mais inexperiente. Sabendo da revelação de Rowling sobre Dumbledore ser gay não seria de se estranhar a mensagem que ela passa sobre os personagens de Percival e Credence. Percival não é realmente quem aparenta ser. Por isso, a relação com a revelação de Dumbledore.


         “Animais Fantásticos e Onde Habitam” é um bom filme família e com um subtexto que aborda temas espinhosos. Isso é bom enquanto a maioria dos filmes americanos insistem em ficar na mesmice de sempre. Quando um filme, supostamente para a família, fala de preconceito religioso, perseguição, faz alusões a esconder sua verdadeira identidade, bruxos não poderem se relacionar e namorar, é sinal que o filme não é meramente entretenimento. Tem uma mensagem forte ali que entendedores conseguirão captar.    




2 comentários:

  1. Assisti no fds e achei o roteiro muito infanto juvenil, sei que é o intuito. Mas pesaram na mão.

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  2. Sim, tem uma "pegada" para esse público sim. Acho que o tema "adulto" ficou para o subtexto como comentei no artigo.

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