Get Down – Moulin Rouge no
Bronx
The Get Down é a mistura de adolescentes descobrindo como serem
adultos em uma cidade grande, corrupta e com inúmeras mazelas sociais, a
loucura disco que está no auge nas casas noturnas mais badaladas, e o despertar
de uma nova força musical que arrebata e o sonho de se tornar alguém especial.
Agora a tudo isso misture a capacidade do Baz Luhrmann ( Diretor e roteirista) de
criar uma aura onírica de contos de fadas contemporâneo.
E como é difícil transformar o Bronx dos anos de 1970, quase
destruído por gangues e descaso de políticos, em algo onírico. E Luhrmann
consegue. Tudo contribui para a sua visão kitsch, afinal o lurex reinava nesta
época. E o que não dizer da grafitagem que surge neste período como força
catalizadora dos jovens sem grandes perspectivas no futuro que se revoltam
contra o mundo dos adultos fazendo a contravenção de pintar muros e trens com
uma lata de tinta spray? Tudo é motivação para contar uma história bem
gostosinha de se assistir. Tudo é visto não só como contravenção, o caminho
mais fácil, mas também como algo maior. Tanto que um personagem já no primeiro
episódio já faz a “previsão” de que logo aquela pichação, a grafitagem, estará
em grandes museus sendo expostos como arte.
Apesar de tratar uma temática até certo ponto inovadora no
fundo vemos um Moulin Rouge mais desenvolvido. Baz Luhrmann foi diretor deste
filme de 2001 que contava com o casal
Satine (Nicole Kidman) e Christian (Ewan MacGregor) e seus amigos
descolados de uma época boêmia de Paris. Sai o charme parisiense entra o
destruído bairro do Bronx, sai Satine e Christian e entra Mylene (Herizen F.
Guardionla) e Ezekiel (Justice Smith) e
os amigos descolados são trocados por uns não tão descolados e outros muito
mais descolados. Há entre tantos personagens um garoto que picha muros, ou
melhor, grafita e é fã de lutas marciais chinesas, o Shaolin Fantastic (Shameik
Moore) e seu fã no grafite, que também busca sua fama nas artes do spray,
Marcus “Dizzee” (Jaden Smith) e seus irmãos. No meio do caminho há uma mulher
que comanda o tráfico de drogas e seu filho idiota, que por sua vez comanda uma
boate disco, que quer a jovem Mylene para si. Há o tio da Mylene que é um
politiqueiro corrupto que tenta comandar o bairro e seu pai, pastor picareta de
uma congregação falida.
Os personagens são icônicos e mostram bem a índole da época
retratada. Ao lado de trens pichados que passam cortando a imagem como se
fossem o convite de fadas para uma história amena temos inúmeras imagens ou
fotos de um lugar que estava longe de ser um sonho. Lixo amontoado, prédios
pegando fogo, tráfico e uma escolha de fotografia que nos faz entender o calor
sufocante que pode ocorrer em Nova York. Tudo parece acontecer no verão
causticante para justamente não remeter a nenhuma idealização fantasiosa
natalina.
Outra mudança que não chega a ser tão drástica, é que em Moulin
Rouge havia a “fada verde” que flutuava pelos personagens os levava à
embriagues. Aqui, o mundo é menos sofisticado para se ter absinto e o que vemos
é uma profusão de cocaína e muita maconha. E não se espantem, é só prestar
atenção nas ruas de hoje para ver que não mudou muita coisa.
Outro contraponto que percebo na série da Netflix, sim minha
gente é mais uma produção instigante desse serviço de streaming, e que o filme
de 2001 não consegue é colocar a loucura de drogas e amor inconsequente em
jovens menores de idade. O que no filme não acontece. Todos parecem ter mais de
30 anos e fica um pouco difícil acreditar naquela pataquadas.
Uma série de jovens que nada tem de infantiloide. É uma série
para quem quiser assistir.
E tem um monte de luzinhas coloridas, não são "coisas estranhas"????
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