American
Crime – Primeira Temporada – Densa e pesada
O cinema está um pouco na mesmice. Os
grandes produtores preferem investir em megafilmes que garantirão um retorno
polpudo aos seus bolsos. Quem perde com isso somos nós e também as boas atrizes
e os bons atores que ficam relegados a coadjuvantes de luxo em papéis que nada
mostram suas qualidades e potencial.
E as séries vieram preencher um pouco
essa falha dos filmes. Cada temporada que passa somos presenteados com roteiros
mais inteligentes e com o desenvolvimento narrativo melhor, pois o tempo é
prolongado. Em American Crimes, Primeira Temporada, vemos como o tempo ajudou a
história. São 11 episódios, de cerca de 45 minutos cada, onde desenrola uma
história aparentemente bem repetida em inúmeros filmes.
Com a tranquilidade necessária para
nos contextualizar, percebemos que alguns pontos de vistas são trocados. Não há
um detetive machão que irá conduzir as investigações. Não há um personagem
masculino querendo ser um vingador. Há o comunicado de um crime ao pai da
vítima. Um rapaz é morto a tiros e sua esposa fica gravemente ferida e em
estado coma. O pai fica devastado e entra em contato com a ex-esposa. E
começamos a ver que o quadro foi pintado já com cores não tão óbvias. Lentamente
descobrimos que a família foi em algum momento desestruturada pelo vício em
jogos do pai. A mãe levou nas costas a criação de dois filhos e os idolatra
como se fossem seres angelicais e perfeitos. Uma perfeição que é maculada por
um crime aparentemente hediondo. Os suspeitos são “repulsivos” e “insuportáveis”
imigrantes ilegais e um negro. A mulher que se coloca o tempo todo como uma boa
mãe e dona de casa, contudo é racista e preconceituosa. O pai tem seus demônios
do passado, foi preso e convive com isso. E o filho morto se mostra menos
perfeito ainda. Há indícios contundentes que ele era um traficante e a sua
esposa mantinha casos com outros homens para se livrar da pressão. Em certo
momento algo deu errado e acabou sendo morto. Não sabemos o motivo real do
assassinato. Os roteiristas são hábeis em procrastinar o máximo possível a
explicação. O que sabemos é o que os pais, tanto do rapaz assassinado quanto da
moça em coma, sabem. E o importante é a reação que ambos os casais têm ao saber
das mazelas de seus filhos. Um lado quer justiça a qualquer custo, mesmo que o
custo seja a prisão, julgamento e condenação de um inocente que parece culpado,
o outro quer apenas não ser exposto, quer discrição para enfrentar com uma
certa dignidade a vergonha da qual são obrigados a padecerem.
Em meio a esse lado dos “mocinhos”,
ou melhor, das “vítimas” vemos o lado dos “bandidos”, ou melhor, dos envolvidos
direta e indiretamente no crime, propositalmente sem aspas. Um casal de
viciados, a moça é branca, isso é importante na trama, o cara é negro e é
acusado como o feitor do crime. Um mexicano ilegal é acusado de cúmplice pois
estava com os cartões de crédito do rapaz assassinado. E há um rapaz, menor de
idade, que se vê envolvido como cumplice no crime por ter alugado o carro para
ganhar uma grana sem saber que os locatários eram “bandidos”. E é aqui que
vemos algo realmente humano: tanto no drama do casal que se ama e que não
consegue se manter devido ao vício, quanto na angústia do imigrante ilegal que
tem medo de voltar ao seu país de origem por pendências que possui lá, ou ainda,
pelo jovem de origem latina que se vê envolvido em uma situação que seu pai
tanto lutou para que nunca acontecesse.
Digo que o lado “bandido” é mais
humano pois em nenhum momento eles são pintados como coitadinhos. Eles têm
atitudes dignas de pena mas não são coitadinhos. Estão cientes de seus erros
até certo ponto. Porém querem seguir a vida. O que revolta é o núcleo
“bonzinho”. Saindo de todo o estereótipo que o cinema pode ter criado, ou até
mesmo outras séries, esse grupo é a representação do típico americano de bem,
cristão que só quer trabalhar e viver sua vida. Porém, na hora que o cerco
aperta, vemos que não são tão bons quanto aparentam. Isso os distingue do
“malvados”, eles se acham bons e são tão contraditórios e problemáticos quanto
os “malvados”. Vemos que a perfeição não existe, vemos que a humanidade é
contraditória e em muitos casos mesquinha.
Tudo isso que disse não seria nada se
a produção não se esmerasse em encontrar bons atores para passar a mensagem que
o roteiro manda. E como os atores são bons nessa série. É de arrepiar, por
exemplo, ver a mãe que sofre pelo filho morto e se mostra rancorosa, amarga,
preconceituosa e ao mesmo tempo insegura e solitária que Felicity Huffman nos
dá. Ela simplesmente está perfeita. Uma mulher comum que guarda no coração
frustração e mágoa tão profundas pela vida que não consegue ver a verdade à sua
frente. Por mais que os detetives lhe esfreguem na cara as evidências. O pai é
algo também aterrador, um misto de arrependido, resignação com uma raiva
latente que pode se mostrar letal, mérito de Timothy Hutton. E os demais
personagens transitam na mesma linha de atuações. Passaria horas falando, ou no
caso escrevendo, de cada um. Até o ruinzinho consegue um momento de atuação que
convence e dá o tom necessário.
É uma série pesada e densa. O que não
tira nada a agilidade dos acontecimentos. Porém não espere o estilo policial
típico. É um drama. O que mais conta é o desdobramento das situações pelo ponto
de vista dos envolvidos. As autoridades na maioria das vezes estão num ângulo
que quase os tiram de cena. O que importa aqui é as ações e reações das pessoas
comuns emboscadas pelo acaso em uma situação limite que eles mesmos, de uma
forma ou de outra, contribuíram em construir. Todos têm sua parcela de culpa
nos acontecimentos. Nada é isolado.
Atuação, roteiro e produção são ótimos. Pode não ser uma
série badalada e famosinha. Para quem gosta do gênero não pode perder essa
maravilha.
Amo American Crime, acho que é uma serie super boa. Eu também gosto das series hbo, e uma da minhas favoritas é Sr. ávila. Sem dúvida, é uma das melhores series de ação dos nossos tempos. Agora, com esta sétima temporada estou além animada, e eu quero para ser lançado o novo capítulo. Acho que a trama é muito boa, é uma das minhas series preferidas. Recomendo. Para uma tarde de lazer é uma boa opção.
ResponderExcluirNunca assisti Sr. Ávila. Preciso tentar, mas o tempo é curto.
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