domingo, 21 de agosto de 2016

Séries: American Crime – Primeira Temporada – Densa e pesada

American Crime – Primeira Temporada – Densa e pesada





          
           O cinema está um pouco na mesmice. Os grandes produtores preferem investir em megafilmes que garantirão um retorno polpudo aos seus bolsos. Quem perde com isso somos nós e também as boas atrizes e os bons atores que ficam relegados a coadjuvantes de luxo em papéis que nada mostram suas qualidades e potencial.
           E as séries vieram preencher um pouco essa falha dos filmes. Cada temporada que passa somos presenteados com roteiros mais inteligentes e com o desenvolvimento narrativo melhor, pois o tempo é prolongado. Em American Crimes, Primeira Temporada, vemos como o tempo ajudou a história. São 11 episódios, de cerca de 45 minutos cada, onde desenrola uma história aparentemente bem repetida em inúmeros filmes.


           Com a tranquilidade necessária para nos contextualizar, percebemos que alguns pontos de vistas são trocados. Não há um detetive machão que irá conduzir as investigações. Não há um personagem masculino querendo ser um vingador. Há o comunicado de um crime ao pai da vítima. Um rapaz é morto a tiros e sua esposa fica gravemente ferida e em estado coma. O pai fica devastado e entra em contato com a ex-esposa. E começamos a ver que o quadro foi pintado já com cores não tão óbvias. Lentamente descobrimos que a família foi em algum momento desestruturada pelo vício em jogos do pai. A mãe levou nas costas a criação de dois filhos e os idolatra como se fossem seres angelicais e perfeitos. Uma perfeição que é maculada por um crime aparentemente hediondo. Os suspeitos são “repulsivos” e “insuportáveis” imigrantes ilegais e um negro. A mulher que se coloca o tempo todo como uma boa mãe e dona de casa, contudo é racista e preconceituosa. O pai tem seus demônios do passado, foi preso e convive com isso. E o filho morto se mostra menos perfeito ainda. Há indícios contundentes que ele era um traficante e a sua esposa mantinha casos com outros homens para se livrar da pressão. Em certo momento algo deu errado e acabou sendo morto. Não sabemos o motivo real do assassinato. Os roteiristas são hábeis em procrastinar o máximo possível a explicação. O que sabemos é o que os pais, tanto do rapaz assassinado quanto da moça em coma, sabem. E o importante é a reação que ambos os casais têm ao saber das mazelas de seus filhos. Um lado quer justiça a qualquer custo, mesmo que o custo seja a prisão, julgamento e condenação de um inocente que parece culpado, o outro quer apenas não ser exposto, quer discrição para enfrentar com uma certa dignidade a vergonha da qual são obrigados a padecerem.

           Em meio a esse lado dos “mocinhos”, ou melhor, das “vítimas” vemos o lado dos “bandidos”, ou melhor, dos envolvidos direta e indiretamente no crime, propositalmente sem aspas. Um casal de viciados, a moça é branca, isso é importante na trama, o cara é negro e é acusado como o feitor do crime. Um mexicano ilegal é acusado de cúmplice pois estava com os cartões de crédito do rapaz assassinado. E há um rapaz, menor de idade, que se vê envolvido como cumplice no crime por ter alugado o carro para ganhar uma grana sem saber que os locatários eram “bandidos”. E é aqui que vemos algo realmente humano: tanto no drama do casal que se ama e que não consegue se manter devido ao vício, quanto na angústia do imigrante ilegal que tem medo de voltar ao seu país de origem por pendências que possui lá, ou ainda, pelo jovem de origem latina que se vê envolvido em uma situação que seu pai tanto lutou para que nunca acontecesse.

           Digo que o lado “bandido” é mais humano pois em nenhum momento eles são pintados como coitadinhos. Eles têm atitudes dignas de pena mas não são coitadinhos. Estão cientes de seus erros até certo ponto. Porém querem seguir a vida. O que revolta é o núcleo “bonzinho”. Saindo de todo o estereótipo que o cinema pode ter criado, ou até mesmo outras séries, esse grupo é a representação do típico americano de bem, cristão que só quer trabalhar e viver sua vida. Porém, na hora que o cerco aperta, vemos que não são tão bons quanto aparentam. Isso os distingue do “malvados”, eles se acham bons e são tão contraditórios e problemáticos quanto os “malvados”. Vemos que a perfeição não existe, vemos que a humanidade é contraditória e em muitos casos mesquinha.

           Tudo isso que disse não seria nada se a produção não se esmerasse em encontrar bons atores para passar a mensagem que o roteiro manda. E como os atores são bons nessa série. É de arrepiar, por exemplo, ver a mãe que sofre pelo filho morto e se mostra rancorosa, amarga, preconceituosa e ao mesmo tempo insegura e solitária que Felicity Huffman nos dá. Ela simplesmente está perfeita. Uma mulher comum que guarda no coração frustração e mágoa tão profundas pela vida que não consegue ver a verdade à sua frente. Por mais que os detetives lhe esfreguem na cara as evidências. O pai é algo também aterrador, um misto de arrependido, resignação com uma raiva latente que pode se mostrar letal, mérito de Timothy Hutton. E os demais personagens transitam na mesma linha de atuações. Passaria horas falando, ou no caso escrevendo, de cada um. Até o ruinzinho consegue um momento de atuação que convence e dá o tom necessário.
           É uma série pesada e densa. O que não tira nada a agilidade dos acontecimentos. Porém não espere o estilo policial típico. É um drama. O que mais conta é o desdobramento das situações pelo ponto de vista dos envolvidos. As autoridades na maioria das vezes estão num ângulo que quase os tiram de cena. O que importa aqui é as ações e reações das pessoas comuns emboscadas pelo acaso em uma situação limite que eles mesmos, de uma forma ou de outra, contribuíram em construir. Todos têm sua parcela de culpa nos acontecimentos. Nada é isolado.

         Atuação, roteiro e produção são ótimos. Pode não ser uma série badalada e famosinha. Para quem gosta do gênero não pode perder essa maravilha.

2 comentários:

  1. Amo American Crime, acho que é uma serie super boa. Eu também gosto das series hbo, e uma da minhas favoritas é Sr. ávila. Sem dúvida, é uma das melhores series de ação dos nossos tempos. Agora, com esta sétima temporada estou além animada, e eu quero para ser lançado o novo capítulo. Acho que a trama é muito boa, é uma das minhas series preferidas. Recomendo. Para uma tarde de lazer é uma boa opção.

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  2. Nunca assisti Sr. Ávila. Preciso tentar, mas o tempo é curto.

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