quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Julieta: Almodóvar + Munro

Julieta: Almodóvar + Munro



       
Almodóvar é um conhecido diretor espanhol que gosta de personagens femininas fortes.

        Alice Munro é uma escritora ganhadora do prêmio Nobel de Literatura de 2013 que coloca sua visão sobre o feminino em seus escritos, em grande maioria contos.


        Separados ambos são mestres em suas narrativas. Juntos temos “Julieta”. Almodóvar decidiu escrever seu novo filme se baseando em três contos de Munro. Meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) no curso de Letras foi sobre um conto de Munro e o feminino presente em sua narrativa.  Foi quando conheci essa autora. Já Almodóvar foi através do filme “Tudo Sobre Minha Mãe” só depois é que assisti a outros. Como não li especificamente os contos que o diretor se baseou para escrever o roteiro fico com o filme pelo filme nesse comentário.


        A película anterior de Almodóvar tinha sido “A Pele que Habito” e não agradou muito. Parece, apesar de tudo, não ter se mantido “fiel” ao seu estilo denso, dramático e povoado pelo universo feminino. E por incrível que pareça, nesse filme não existe o feminino no sentido estrito da coisa. É uma outra pegada que não posso dizer muito senão entrego o final. Em “Julieta” ele volta sua lente às mulheres que tão bem representa. E vemos aqui o velho desembaraço de seu estilo. Ainda sinto que “Tudo Sobre Minha Mãe” e “Volver” são melhores que “Julieta” apesar de ter seu charme. A história se passa praticamente em Madri. Onde uma mulher, já madura, resolve escrever uma carta para sua filha que há anos a abandonou. E descobrimos alguns fatos que podem ter ajudado na escolha de sua filha em querer ficar longe dela. Nada é absolutamente inusitado e isso que dá mais dramaticidade a trama pois é algo que poderia acontecer com qualquer um. E vemos o desenrolar dos fatos na tela como se fosse a vida de uma vizinha. Julieta não é louca, não é tão intensa, não é difícil no lidar. É alguém bem normal que se vê diante de um acontecimento que não compreende direito. Sua filha simplesmente não a quer por perto mais e some de sua vida.


        De forma específica, tenho que lembrar que não é um filme pipoca, é um filme europeu e almodoviano. Esses pontos fazem toda a diferença. Não é algo fácil e de ritmo vertiginoso. Não tem o inodoro “happy end” comum a filmes de Hollywood. Dito isso saiba onde está se metendo e aproveite.


        É um respiro diante dos filmes já manjados que estão em cartaz nos cinemas. E uma menção especial vai para a fotografia. Mostra lugares lindos com uma sensibilidade tocante. Sem contar as atuações um tanto atônitas e passivas das duas atrizes que fazem a Julieta: Adriana Ugarte (Julieta mais nova) e Emma Suárez (Julieta mais velha). Ugarte se mostra mais uma musa do diretor. Além é claro de Rossy de Palma que há anos tralha com o diretor espanhol fazendo uma megera das mais amargas.



        Almodóvar sempre vale o preço do ingresso do cinema. Então, se esse estilo te agrada, não perca.  

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