Julieta: Almodóvar + Munro
Alice
Munro é uma escritora ganhadora do prêmio Nobel de Literatura de 2013 que
coloca sua visão sobre o feminino em seus escritos, em grande maioria contos.
Separados
ambos são mestres em suas narrativas. Juntos temos “Julieta”. Almodóvar decidiu
escrever seu novo filme se baseando em três contos de Munro. Meu TCC (Trabalho
de Conclusão de Curso) no curso de Letras foi sobre um conto de Munro e o
feminino presente em sua narrativa. Foi quando
conheci essa autora. Já Almodóvar foi através do filme “Tudo Sobre Minha Mãe”
só depois é que assisti a outros. Como não li especificamente os contos que o
diretor se baseou para escrever o roteiro fico com o filme pelo filme nesse
comentário.
A
película anterior de Almodóvar tinha sido “A Pele que Habito” e não agradou
muito. Parece, apesar de tudo, não ter se mantido “fiel” ao seu estilo denso,
dramático e povoado pelo universo feminino. E por incrível que pareça, nesse
filme não existe o feminino no sentido estrito da coisa. É uma outra pegada que
não posso dizer muito senão entrego o final. Em “Julieta” ele volta sua lente
às mulheres que tão bem representa. E vemos aqui o velho desembaraço de seu
estilo. Ainda sinto que “Tudo Sobre Minha Mãe” e “Volver” são melhores que “Julieta”
apesar de ter seu charme. A história se passa praticamente em Madri. Onde uma
mulher, já madura, resolve escrever uma carta para sua filha que há anos a
abandonou. E descobrimos alguns fatos que podem ter ajudado na escolha de sua
filha em querer ficar longe dela. Nada é absolutamente inusitado e isso que dá mais
dramaticidade a trama pois é algo que poderia acontecer com qualquer um. E vemos
o desenrolar dos fatos na tela como se fosse a vida de uma vizinha. Julieta não
é louca, não é tão intensa, não é difícil no lidar. É alguém bem normal que se
vê diante de um acontecimento que não compreende direito. Sua filha
simplesmente não a quer por perto mais e some de sua vida.
De
forma específica, tenho que lembrar que não é um filme pipoca, é um filme
europeu e almodoviano. Esses pontos fazem toda a diferença. Não é algo fácil e
de ritmo vertiginoso. Não tem o inodoro “happy end” comum a filmes de
Hollywood. Dito isso saiba onde está se metendo e aproveite.
É
um respiro diante dos filmes já manjados que estão em cartaz nos cinemas. E uma
menção especial vai para a fotografia. Mostra lugares lindos com uma
sensibilidade tocante. Sem contar as atuações um tanto atônitas e passivas das
duas atrizes que fazem a Julieta: Adriana Ugarte (Julieta mais nova) e Emma
Suárez (Julieta mais velha). Ugarte se mostra mais uma musa do diretor. Além é
claro de Rossy de Palma que há anos tralha com o diretor espanhol fazendo uma
megera das mais amargas.
Almodóvar
sempre vale o preço do ingresso do cinema. Então, se esse estilo te agrada, não
perca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário