segunda-feira, 6 de junho de 2016

Séries: Grace & Frankie: Uma pérola

Grace & Frankie: Uma pérola




        Dois fatores tornariam essa série espinhosa há alguns anos. O primeiro deles, o mais óbvio, é tratar do tema da homossexualidade e o segundo, não menos óbvio, é sobre a questão da terceira idade. Ambos os fatores são tratados com delicadeza e humor. E foi o reavivamento da qualidade das produções televisivas que nos deu as inúmeras pérolas como esta que comento.


        Grace & Frankie é uma produção da Netflix, que já proporciona uma qualidade ímpar na história. E para dar mais brilho a essa joia, um dos criadores não é ninguém menos que Martha Kauffman. Não sabe quem é Martha Kauffman???? Bom, entre outras criações ela tem uma série que quase todo mundo já assistiu pelo menos um episódio na vida, ou ouviu a chamada, ou ama, ou odeia, a grande maioria ama: Friends. Isso mesmo, Friends é criatura dessa distinta pessoa Martha Kauffman. Para melhorar ainda a expectativa Tate Taylor divide a direção. Ele simplesmente foi o diretor e roteirista de um dos filmes mais simpáticos da última década “Vidas Cruzadas” que conta a vida de empregadas domésticas negras no Mississipi nos anos de 1960 com as ótimas Viola Davis, Octavia Spencer e Emma Stone.

        Percebeu que o naipe do baralho está bem alto? E melhora. No elenco temos duas ótimas atrizes que já trabalharam juntas nos anos 1980 no divertido “Como Eliminar Seu Chefe” , pouco vistas ultimamente, e imagino devido à idade: Lily Tomlin e a oscarizada Jane Fonda. Gostaria muito de uma participação especial ou mais que especial de Dolly Parton para completar o trio, porém, ainda não aconteceu.
E há ainda o elenco de apoio competente encabeçado pelos veteranos Martin Sheen e Sam Waterston, este último mais conhecido na televisão.

        No primeiro capítulo da primeira temporada já temos o acontecimento que vai motivar toda a temporada: o divórcio dos dois casais Grace e Robert (Fonda e Sheen) e Frankie e Sal (Tomlin e Waterston). Os dois maridos chamam as esposas para um jantar num restaurante chique e comunicam que estão se separando pois são amantes há 20 anos. Ambos estavam casados com suas esposas há 40 anos. E depois disso acompanhamos o desdobramento das angústias, inseguranças e o sofrimento, principalmente, das duas esposas “traídas”. Para piorar, ou melhorar, Grace e Frankie acabam morando juntas na casa da praia que os casais mantinham. E para piorar mais ainda, ou melhorar mais ainda, Grace é o oposto de Frankie.

A primeira é bem sucedida dondoca dona de uma empresa de cosméticos que está passando a bola para a filha e a outra é uma riponga que ainda fuma maconha em várias situações e faz rituais xamânicos para purificação espiritual. Detalhe, se vocês fizeram as contas, nenhum dos personagens possui menos de 70 anos. Sim, são personagens que estão no ocaso da vida, mas tem tanta vida pela frente que resolvem deixar convenções sociais para trás e decidem trilhar um novo caminho em busca da felicidade que lhes foi negada. Pelo menos os dois personagens masculinos pensam assim. As duas personagens femininas são obrigadas a se reinventarem.


        A história poderia ser um dramalhão dolorido, mas nas mãos de roteiristas hábeis, se torna em vários momentos uma deliciosa comédia, ou uma tragicomédia.

        Os “70 anos” é uma idade em que a maioria das pessoas já sossegaram o facho. Estão aposentadas, ou só trabalham por prazer, caso não sejam pessoas brasileiras de classe mais baixa. Como os personagens são americanos então já estão na fase de desfrutar de uma aposentadoria ou de uma vida menos desacelerada. E algo que nossa sociedade nega é a sexualidade de pessoas acima dos 65 anos, que por sinal, existe. Então não espere velhinhos fofinhos que ficam tricotando e lendo jornais. Eles vão à luta no amor e no sexo. Tanto que o motor da trama é o divórcio de dois homens que querem se casar aos 70 anos.    

        Outra coisa é que os atores possuem a idade que aparentam. Não foi contratado nenhum ator ou atriz de 50 anos para ser uma pessoa de 70. Com diferença de um ou dois anos o quarteto principal possui essa faixa etária. E mesmo a linda e conservadíssima Jane Fonda não passa por menos idade. E isso é um alívio em época de plásticas que desfiguram a velhice de forma bizarra. Não que Tomlin e Fonda não tenham nenhuma intervenção. Elas têm. Mas não estão desfiguradas. E isso traz um charme todo especial.

        A primeira temporada trata do trauma e do constrangimento que todos são obrigados a lidar. Já a segunda, período de um ano transcorrido, eles estão já conformados e encaminhados para seus respectivos destinos. Apesar de ainda manterem um certo cordão que os liguem e que dificilmente será cortado.


        A série diverte e enternece. É um refresco diante de tanto rostinho novinho e bonitinho. As interpretações são inspiradas, Tomlin ganhou uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Atriz de Comédia. E bem indicada. Mesmo não possuindo um roteiro mirabolante como outras séries de sucesso na moda. No mais é só diversão garantida. Aproveitem.  



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