Grace & Frankie: Uma pérola
Dois
fatores tornariam essa série espinhosa há alguns anos. O primeiro deles, o mais
óbvio, é tratar do tema da homossexualidade e o segundo, não menos óbvio, é
sobre a questão da terceira idade. Ambos os fatores são tratados com delicadeza
e humor. E foi o reavivamento da qualidade das produções televisivas que nos deu
as inúmeras pérolas como esta que comento.
Grace
& Frankie é uma produção da Netflix, que já proporciona uma qualidade ímpar
na história. E para dar mais brilho a essa joia, um dos criadores não é ninguém
menos que Martha Kauffman. Não sabe quem é Martha Kauffman???? Bom, entre
outras criações ela tem uma série que quase todo mundo já assistiu pelo menos
um episódio na vida, ou ouviu a chamada, ou ama, ou odeia, a grande maioria
ama: Friends. Isso mesmo, Friends é criatura dessa distinta pessoa Martha
Kauffman. Para melhorar ainda a expectativa Tate Taylor divide a direção. Ele
simplesmente foi o diretor e roteirista de um dos filmes mais simpáticos da
última década “Vidas Cruzadas” que conta a vida de empregadas domésticas negras
no Mississipi nos anos de 1960 com as ótimas Viola Davis, Octavia Spencer e
Emma Stone.
Percebeu
que o naipe do baralho está bem alto? E melhora. No elenco temos duas ótimas
atrizes que já trabalharam juntas nos anos 1980 no divertido “Como Eliminar Seu
Chefe” , pouco vistas ultimamente, e imagino devido à idade: Lily Tomlin e a
oscarizada Jane Fonda. Gostaria muito de uma participação especial ou mais que
especial de Dolly Parton para completar o trio, porém, ainda não aconteceu.
E
há ainda o elenco de apoio competente encabeçado pelos veteranos Martin Sheen e
Sam Waterston, este último mais conhecido na televisão.
No
primeiro capítulo da primeira temporada já temos o acontecimento que vai
motivar toda a temporada: o divórcio dos dois casais Grace e Robert (Fonda e
Sheen) e Frankie e Sal (Tomlin e Waterston). Os dois maridos chamam as esposas
para um jantar num restaurante chique e comunicam que estão se separando pois
são amantes há 20 anos. Ambos estavam casados com suas esposas há 40 anos. E
depois disso acompanhamos o desdobramento das angústias, inseguranças e o
sofrimento, principalmente, das duas esposas “traídas”. Para piorar, ou melhorar,
Grace e Frankie acabam morando juntas na casa da praia que os casais mantinham.
E para piorar mais ainda, ou melhorar mais ainda, Grace é o oposto de Frankie.
A primeira é bem sucedida dondoca dona de uma empresa de cosméticos que está
passando a bola para a filha e a outra é uma riponga que ainda fuma maconha em
várias situações e faz rituais xamânicos para purificação espiritual. Detalhe,
se vocês fizeram as contas, nenhum dos personagens possui menos de 70 anos.
Sim, são personagens que estão no ocaso da vida, mas tem tanta vida pela frente
que resolvem deixar convenções sociais para trás e decidem trilhar um novo
caminho em busca da felicidade que lhes foi negada. Pelo menos os dois
personagens masculinos pensam assim. As duas personagens femininas são
obrigadas a se reinventarem.
A
história poderia ser um dramalhão dolorido, mas nas mãos de roteiristas hábeis,
se torna em vários momentos uma deliciosa comédia, ou uma tragicomédia.
Os
“70 anos” é uma idade em que a maioria das pessoas já sossegaram o facho. Estão
aposentadas, ou só trabalham por prazer, caso não sejam pessoas brasileiras de
classe mais baixa. Como os personagens são americanos então já estão na fase de
desfrutar de uma aposentadoria ou de uma vida menos desacelerada. E algo que
nossa sociedade nega é a sexualidade de pessoas acima dos 65 anos, que por
sinal, existe. Então não espere velhinhos fofinhos que ficam tricotando e lendo
jornais. Eles vão à luta no amor e no sexo. Tanto que o motor da trama é o
divórcio de dois homens que querem se casar aos 70 anos.
Outra
coisa é que os atores possuem a idade que aparentam. Não foi contratado nenhum
ator ou atriz de 50 anos para ser uma pessoa de 70. Com diferença de um ou dois
anos o quarteto principal possui essa faixa etária. E mesmo a linda e conservadíssima
Jane Fonda não passa por menos idade. E isso é um alívio em época de plásticas
que desfiguram a velhice de forma bizarra. Não que Tomlin e Fonda não tenham
nenhuma intervenção. Elas têm. Mas não estão desfiguradas. E isso traz um charme
todo especial.
A
primeira temporada trata do trauma e do constrangimento que todos são obrigados
a lidar. Já a segunda, período de um ano transcorrido, eles estão já
conformados e encaminhados para seus respectivos destinos. Apesar de ainda
manterem um certo cordão que os liguem e que dificilmente será cortado.
A
série diverte e enternece. É um refresco diante de tanto rostinho novinho e
bonitinho. As interpretações são inspiradas, Tomlin ganhou uma indicação ao
Globo de Ouro de Melhor Atriz de Comédia. E bem indicada. Mesmo não possuindo um
roteiro mirabolante como outras séries de sucesso na moda. No mais é só
diversão garantida. Aproveitem.
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