Lanche MacDonald's ou Coq au Vin? - Sim é um comentário sobre filme
Antes de mais nada, isso é sim um comentário sobre filme. Só que através de uma analogia.
Estava pronto para escrever uma resenha sobre uma série que
comecei a acompanhar quando neste fim de semana eu resolvi assistir dois filmes
que se mostraram tão diferentes, mas tão diferentes, que foi inevitável não
querer falar do abismo entre os dois.
De cara eu já
fiz uma analogia entre um lanche MacDonald’s e um Coq au vin (Frango ao vinho).
Propositalmente escolho as iguarias dos respectivos países: EUA e França. Pois
simbolicamente foi o que senti ao terminar os dois filmes. Estou fazendo um
certo suspense pois, reparem que nem no título coloquei os nomes dos filmes,
quero muito passar a sensação que tive. E como “gordinho” que sou, que só pensa
em gordices, a comida representa bem o que quero passar. Então pense nos dois
pratos.
A grande maioria das pessoas, talvez induzida por uma estratégia de
marketing mundial, acha o lanche americano muito prático e gostoso de se comer.
É algo que sai rápido e tem um sabor agradável principalmente para crianças.
Fica pronto em 5 minutos e se come em 10 minutos. Caloricamente falando é uma
bomba, muitas calorias, muito sal e gordura, e proporcionalmente poucos nutrientes.
Alguns podem até torcer o nariz para ele, porém, um adulto com menos de 50
anos, de cidade um pouco maior, cresceu e se criou comendo vez ou outra um belo
“Big Mac” ou um “Quarteirão de Queijo”, não generalizando, sei que existem
exceções. Por sua vez, um Coq au Vin é um prato tido como sofisticado. Tem
origem francesa, dizem até que foi criado para o Imperador Júlio Cesar, com
galos mais velhos e o vinho seria para amaciar a carne dura. Deu que a mistura
ficou gostosa e com o tempo galgou a um patamar mais elevado pela índole
francesa de aperfeiçoamento e o prato virou um clássico. Com sabor
característico, acentuado pelo vinho, acaba por agradar também a grande
maioria. Porém, o marketing foi mais “discreto” e com o tempo ganhou sua
reputação pela aura de sofisticação, apesar de ser apenas galinha cozida no
vinho. Ao contrário do seu oponente americano, ele é mais proporcional no
equilíbrio calorias versus nutrientes. E uma certeza: o Coq au Vin dá muito
mais sustância que o MacDonald’s. A idade das iguarias cinematográfica também
conta, um é recente, o outro, remonta a data longínqua do milênio passado,
1967.
O filme americano é relativamente jovem diante do francês. Assim como as
iguarias se comparadas, “Mac” surge em 1955 e Coq au Vin por volta do ano 10
a.C (não há registros provando data certa). E assim como as iguarias que levam carne
bovina, farinha, alface, queijo, cebola e pepino em conserva para um e para o
outro vinho e carne frango, cebola, cenoura, tomilho, louro, alho, sal e
pimenta, os materiais em si dos dois filmes são relativamente simples e fáceis
de achar, estão no imaginário popular de nossa cultura. O que vai diferenciar
os dois será a feitura. Nas mãos de americanos práticos e ávidos de lucro, onde
tempo é dinheiro, o produto atinge um processo de produção industrial em série
para compensar a necessidade de mercado que a procura acarreta. Produto pronto
é comercializado de forma padronizada aos milhares pelo mundo. Tanto que se for
ao Japão e ao Canadá no mesmo dia e pedir o mesmo lanche nos dois lugares o
sabor e forma será similar nos dois países que são totalmente diferentes em
suas culturas. Porém, um Coq au Vin vai depender mais do cozinheiro que tomar
seus ingredientes.
Coisas relativamente simples que misturados da forma certa e
com técnica pode ser apenas mais um prato de frango com vinho ou se tornar uma
delícia inigualável e memorável, único. O que é o caso do filme francês. Virou clássico
pois estava nas mãos certas e hábeis de um grande “chef” que por ironia não era
desse país.
E assim que
acabei de assistir ao primeiro eu fiquei empanturrado, estufado, com um
gostinho gostoso, que logo se desvencilhou num arroto de gás de refrigerante, e
meia hora depois já estava de novo com fome. Logo esqueceria. O outro, o sabor
da iguaria ficou profundamente marcado, não só nas papilas gustativas, na
memória que se formou diante da experiência.
O sabor foi mais profundo e
duradouro. Horas depois ainda voltava a refletir sobre uma nuance de sabor que
se difundiu pelos meus neurônios. Um filme logo vai ser esquecido, há outros
milhões produzidos em série com o mesmo sabor. O outro, o chef foi único e
nunca mais produziu algo igual. Sua obra é única e por mais que outros copiem,
nenhum chegou aos pés do original...
Bom, já houve
muito suspense hora de revelar os pratos, no caso, os filmes. A mesmice
americana foi “O Caçador e a Rainha de Gelo”, elenco estelar que poderia ser
utilizado com maestria, mas que só foi realizado para suprir “demanda de
mercado”.
Nada de novo, roteiro simples que tenta mostrar um visual bacana. Direção
burocrática. Para piorar o resultado final, usa um desenho infantil de sucesso
recente como muleta para se projetar. Refiro-me a “Frozen”. O outro, denso em
roteiro e com interpretações marcantes de um elenco proporcionalmente estelar
em seu país de origem.
Sem explicações fáceis, sem julgamentos moralistas: “A
Bela da Tarde” de Luis Buñuel. Claro que não é uma comparação justa. Porém coincidiu
dos dois filmes serem assistidos quase que simultaneamente e não houve como
fazer uma comparação. São filmes antagônicos, um mercadológico o outro autoral.
Tenho certeza que se a intenção dos realizadores de “O Caçador e a Rainha de
Gelo” fosse mais comprometida com a qualidade a história seria magnífica. Contudo
é só mais um enlatado que me fez pensar muito sobre o motivo de se consumir “junk
food” quando temos “alimentos” saudáveis e saborosos ao nosso alcance. Novamente
aqui aparece a analogia da comida. Acho que ando com fome...
Por certo que não dá para comer o tempo todo um Coq au Vin e
que em certos momentos um MacDonald’s acaba por ser bem-vindo. Dosar é sempre o
caminho mais sensato.
O extremismo em qualquer setor da vida pode gerar alguns
desconfortos, seja a nós mesmos, seja aos outros. Ficar apenas nos “clássicos”
nos torna anacrônicos, pessoas exóticas que não conseguem dialogar com o novo. E
ficar só na “novidade” faz nossa vida um pouco mais pobre e superficial sem
referências. Enfim, já disseram que o caminho do meio é o melhor. Hora ou outra
acabamos desequilibrando a balança, porém é bom sempre se atentar
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