quinta-feira, 23 de junho de 2016

Lanche MacDonald's ou Coq au Vin? - Sim é um comentário sobre filme

Lanche MacDonald's ou  Coq au Vin? - Sim é um comentário sobre filme








Antes de mais nada, isso é sim um comentário sobre filme. Só que através de uma analogia.

    Estava pronto para escrever uma resenha sobre uma série que comecei a acompanhar quando neste fim de semana eu resolvi assistir dois filmes que se mostraram tão diferentes, mas tão diferentes, que foi inevitável não querer falar do abismo entre os dois.


        De cara eu já fiz uma analogia entre um lanche MacDonald’s e um Coq au vin (Frango ao vinho). Propositalmente escolho as iguarias dos respectivos países: EUA e França. Pois simbolicamente foi o que senti ao terminar os dois filmes. Estou fazendo um certo suspense pois, reparem que nem no título coloquei os nomes dos filmes, quero muito passar a sensação que tive. E como “gordinho” que sou, que só pensa em gordices, a comida representa bem o que quero passar. Então pense nos dois pratos.
A grande maioria das pessoas, talvez induzida por uma estratégia de marketing mundial, acha o lanche americano muito prático e gostoso de se comer. É algo que sai rápido e tem um sabor agradável principalmente para crianças. Fica pronto em 5 minutos e se come em 10 minutos. Caloricamente falando é uma bomba, muitas calorias, muito sal e gordura, e proporcionalmente poucos nutrientes. Alguns podem até torcer o nariz para ele, porém, um adulto com menos de 50 anos, de cidade um pouco maior, cresceu e se criou comendo vez ou outra um belo “Big Mac” ou um “Quarteirão de Queijo”, não generalizando, sei que existem exceções. Por sua vez, um Coq au Vin é um prato tido como sofisticado. Tem origem francesa, dizem até que foi criado para o Imperador Júlio Cesar, com galos mais velhos e o vinho seria para amaciar a carne dura. Deu que a mistura ficou gostosa e com o tempo galgou a um patamar mais elevado pela índole francesa de aperfeiçoamento e o prato virou um clássico. Com sabor característico, acentuado pelo vinho, acaba por agradar também a grande maioria. Porém, o marketing foi mais “discreto” e com o tempo ganhou sua reputação pela aura de sofisticação, apesar de ser apenas galinha cozida no vinho. Ao contrário do seu oponente americano, ele é mais proporcional no equilíbrio calorias versus nutrientes. E uma certeza: o Coq au Vin dá muito mais sustância que o MacDonald’s. A idade das iguarias cinematográfica também conta, um é recente, o outro, remonta a data longínqua do milênio passado, 1967.
O filme americano é relativamente jovem diante do francês. Assim como as iguarias se comparadas, “Mac” surge em 1955 e Coq au Vin por volta do ano 10 a.C (não há registros provando data certa). E assim como as iguarias que levam carne bovina, farinha, alface, queijo, cebola e pepino em conserva para um e para o outro vinho e carne frango, cebola, cenoura, tomilho, louro, alho, sal e pimenta, os materiais em si dos dois filmes são relativamente simples e fáceis de achar, estão no imaginário popular de nossa cultura. O que vai diferenciar os dois será a feitura. Nas mãos de americanos práticos e ávidos de lucro, onde tempo é dinheiro, o produto atinge um processo de produção industrial em série para compensar a necessidade de mercado que a procura acarreta. Produto pronto é comercializado de forma padronizada aos milhares pelo mundo. Tanto que se for ao Japão e ao Canadá no mesmo dia e pedir o mesmo lanche nos dois lugares o sabor e forma será similar nos dois países que são totalmente diferentes em suas culturas. Porém, um Coq au Vin vai depender mais do cozinheiro que tomar seus ingredientes.
Coisas relativamente simples que misturados da forma certa e com técnica pode ser apenas mais um prato de frango com vinho ou se tornar uma delícia inigualável e memorável, único. O que é o caso do filme francês. Virou clássico pois estava nas mãos certas e hábeis de um grande “chef” que por ironia não era desse país.

        E assim que acabei de assistir ao primeiro eu fiquei empanturrado, estufado, com um gostinho gostoso, que logo se desvencilhou num arroto de gás de refrigerante, e meia hora depois já estava de novo com fome. Logo esqueceria. O outro, o sabor da iguaria ficou profundamente marcado, não só nas papilas gustativas, na memória que se formou diante da experiência.
O sabor foi mais profundo e duradouro. Horas depois ainda voltava a refletir sobre uma nuance de sabor que se difundiu pelos meus neurônios. Um filme logo vai ser esquecido, há outros milhões produzidos em série com o mesmo sabor. O outro, o chef foi único e nunca mais produziu algo igual. Sua obra é única e por mais que outros copiem, nenhum chegou aos pés do original...

        Bom, já houve muito suspense hora de revelar os pratos, no caso, os filmes. A mesmice americana foi “O Caçador e a Rainha de Gelo”, elenco estelar que poderia ser utilizado com maestria, mas que só foi realizado para suprir “demanda de mercado”.
Nada de novo, roteiro simples que tenta mostrar um visual bacana. Direção burocrática. Para piorar o resultado final, usa um desenho infantil de sucesso recente como muleta para se projetar. Refiro-me a “Frozen”. O outro, denso em roteiro e com interpretações marcantes de um elenco proporcionalmente estelar em seu país de origem.
Sem explicações fáceis, sem julgamentos moralistas: “A Bela da Tarde” de Luis Buñuel. Claro que não é uma comparação justa. Porém coincidiu dos dois filmes serem assistidos quase que simultaneamente e não houve como fazer uma comparação. São filmes antagônicos, um mercadológico o outro autoral. Tenho certeza que se a intenção dos realizadores de “O Caçador e a Rainha de Gelo” fosse mais comprometida com a qualidade a história seria magnífica. Contudo é só mais um enlatado que me fez pensar muito sobre o motivo de se consumir “junk food” quando temos “alimentos” saudáveis e saborosos ao nosso alcance. Novamente aqui aparece a analogia da comida. Acho que ando com fome...

        Por certo que não dá para comer o tempo todo um Coq au Vin e que em certos momentos um MacDonald’s acaba por ser bem-vindo. Dosar é sempre o caminho mais sensato.
O extremismo em qualquer setor da vida pode gerar alguns desconfortos, seja a nós mesmos, seja aos outros. Ficar apenas nos “clássicos” nos torna anacrônicos, pessoas exóticas que não conseguem dialogar com o novo. E ficar só na “novidade” faz nossa vida um pouco mais pobre e superficial sem referências. Enfim, já disseram que o caminho do meio é o melhor. Hora ou outra acabamos desequilibrando a balança, porém é bom sempre se atentar


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