O escaravelho do Diabo - Adaptação que Tinha Tudo Para Dar Certo...
Aqui temos um
grande exemplo de adaptação de livro que tinha tudo para dar certo e não dá.
O livro fez parte
da vida escolar de inúmeras pessoas nos anos de 1980-1990. Alguns, como eu,
nutriram um carinho especial por “O Escaravelho do Diabo” dar a sensação de ser
um livro para “gente grande” pois era cheio de mistério e mortes. No fundo a
narrativa era simples e o mistério englobava uma situação que representava
muito o estilo de ser brasileiro no quesito investigação: o caso foi arquivado
e por acaso o personagem principal descobre o assassino depois de um tempo,
dando a entender que nossos “investigadores” não eram tão astutos quanto um
Sherlock Holmes, Hercule Poirot ou um Jules Maigret.
O livro foi
escrito pela autora mineira Lúcia Machado de Almeida que contava também com
outros livros icônicos. Porém, o filme, produzido por vários produtores e
co-produtores, fica bem a baixo da simplicidade instigante do livro. Ao tentar
adaptar o mistério, que envolve assassinatos de ruivos que recebem pelo correio
caixas com escaravelhos que possuíam um nome científico que prenunciava o modo
que iam morrer, os roteiristas se perdem tanto que é difícil conseguir extrair
algo de bom. Ao transformar o personagem principal em um pré-adolescente eles
colocam o mesmo em situações tão absurdas que nem o “Guia do Mochileiro das
Galáxias” conseguiria imaginar. Um grande exemplo é o garoto, que nem tem buço
na fuça, pegar a moto do irmão que morreu, um modelo de motocross, e ir ao
encontro da sua amada. Conseguindo acha-la no exato momento que o assassino
tenta cortar o pescocinho da moçoila. A cena fica mais grotesca se prestarmos
atenção na chuva mais falsa que eu já vi na vida. Até a chuva de “Dançando na
Chuva”, que foi totalmente executada dentro de um estúdio, consegue passar mais
verdade que a deste filme. E outra coisa duplamente absurda é perceber que o
ator mirim é tão baixo que jamais conseguiria montar na motocicleta, sem contar
a dificuldade de dirigir algo tão grande.
As interpretações
são outro desastre. O “menos pior” só o é por aparecer pouco no filme. O
casalzinho de protagonistas até que é fofo, mas o desenvolvimento da relação é
rasa demais. Os personagens secundários, foram escalados alguns nomes
conhecidos de nossas novelas, são insossos. Até uma premissa do investigador
possuir um mal que afeta a memória seria interessante se empregado com mais
maestria. Pena que o recurso se perde.
Não se dá para perceber qual a intenção dessa situação, se é cômica ou se é dramática.
Entre uma intenção ou outra não ficamos nem lá nem cá.
É triste. Cada dia
que passa menos interesse me causa as obras cinematográficas nacionais. Tem que
se garimpar muito ou esperar grandes estiagens criativas para se ter uma obra
que valha. Adoraria muito poder dizer o contrário. E o dia que assistir um bom
filme nacional terei enorme satisfação em comentar aqui. No mais, muitos filmes
parecem ser apenas confeccionados para passar na Sessão da Tarde da Globo.
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