Processo da memória
A história seria bem
simples se não houvesse dois planos narrativos. No primeiro plano vemos a vida
da garotinha Riley que vê sua rotina ir embora junto com sua infância ao ser
obrigada a se mudar para outra cidade devido ao trabalho do pai. Porém esse é só
o estopim, a história verdadeiramente acontece dentro da cabecinha da criança,
a segunda linha narrativa. E isso é genial.
O cérebro seria uma espécie de cabine de
controle, como se a garota fosse um robô, onde criaturas manteriam o seu bem
estar, em outras palavras: a manteria feliz. Essas criaturas são as personificações
das emoções mais básicas dos seres humanos. De certa forma foram reduzidas a
apenas 5: Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojo (Nojinho aqui no Brasil). É certo
que a gama de sentimentos não se reduzem a estes, porém, por vários motivos, nesse
filme se simplificou apenas nesse grupo.
E como são sentimentos personificados
cada um é unidimensional. A multidimensionalidade fica para Riley. Então, assim
como a garota, essas emoções não são “maduras” estão ainda em processo de
desenvolvimento. Uma característica disso é a Alegria querer a todo custo
afastar a Tristeza do comando das memórias da Riley, algo bem imaturo. Outra
coisa que fica genial é que, de forma bem didática, se consegue explicar todo o
processo de produção, seleção e retenção de memórias. O cérebro vira uma
metáfora, como se fosse uma espécie de fábrica, com todas as funções
correspondentes. As emoções ajudam a criar as memórias que irão para campos
diferentes de acordo com sua importância.
E Riley que tem 11 anos e começa a viver
sua primeira crise. Adivinhem, suas emoções piram e começa uma grande jornada
de crescimento.
De início a Alegria só quer que a garota
seja feliz e menospreza e poda ao máximo a única que poderia impedir isso: a
Tristeza. Esta por sua vez quer participar da vida da garota. Toda memória vira
uma esfera para armazenamento saindo da cor referente a cada emoção que a causou.
A maioria das esferas são amarelas, pois são emoções alegres. Com seu toque a
Tristeza consegue transformar uma lembrança alegre em infeliz, torna a esfera
azul, cor simbólica desse sentimento. Em uma confusão causada por essa mania da
Tristeza em tocar as esferas de memória, as duas emoções, Tristeza e Alegria,
acabam sendo sugadas para fora da sala de controle. Junto toda a estrutura
básica emocional é quebrada e precisam repor algumas memórias que acabaram indo
com elas de volta no local de origem. E como na sala fica somente a Raiva, o
Medo e a Nojinho, o pandemônio está armado na cabecinha da garota.
É bem interessante que, simbolicamente, a
Alegria e a Tristeza têm que fazer a jornada juntas para retornar ao controle
da vida da garota. Entram em vários campos distintos do cérebro, desde o campo
da Imaginação, passando pelo campo da Abstração, indo pelo labirinto onde se
armazenam as memórias e chegam até descer no nível do Subconciente. Tudo isso é
mostrado de uma forma tão simples e lúdica a ponto de uma criança entender. E
como isso é delicioso e tecnicamente bem complicado, ponto máximo aos
roteiristas Meg LeFauve, Josh Cooley e Pete Docter, este último que também
dirige a animação.
Que legal
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