quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O Rei de Amarelo – Robert W. Chambers - Resenha/ comentário de Livro

O Rei de Amarelo – Robert W. Chambers



                Ano passado me deparei com este livro e lembrei vagamente que já havia ouvido falar dele. E a minha maior surpresa foi o preço: R$ 19,99. Com 254 páginas e editado pela Intrínseca, o livro se mostrou bem simpático. Na capa desenho de uma figura arcada em sua  própria corcunda revestido de amarelo e coroada, com as mangas das vestes acabando em trapos rasgados. E a impressão de palavras de tamanho razoáveis ajuda muito.  O que é ótimo para pessoas que usam óculos, como eu, e os quebram, como eu, e são obrigados a ler sem o auxílio das lentes, como eu.

                Com mais curiosidade sobre o livro, consultei rapidamente o Google, tomando o cuidado de não ler nada que entregasse o enredo das histórias. Achei a informação de que esse escritor influenciou pelo menos dois autores que admiro muito: H.P. Lovecraft e Stephen King. Isso me bastou para começar a leitura. E o que me auxiliou também foi que esta edição possuir um comentarista que nos inicia no universo de Chambers. Como essa é a primeira parte de minha “resenha/comentário” eu apenas falo dos quatro contos que abrem. Sim o livro é de contos. E segundo o comentarista (Carlos Orsi) e as informações da internet, esses contos são especificamente os que fazem alusão direta ao universo do “Rei de Amarelo”. Para situar, em uma espécie de realidade paralela, que é muito parecida com a nossa, em algum momento foi escrito um livro, na verdade uma peça de teatro com aquele título. Aparentemente o livro é uma obra simples e bem escrita, porém perturba a serenidade de quem quer que a leia por inteiro, até parece uns livros que andam perturbando muitos aficionados pelo mundo. Uma terra lendária, ou não, é evocada, e a loucura se instala na alma dos leitores incautos. Tanto que o livro foi banido de alguns países. Não é revelado muito dos personagens, nem do enredo, nem do desfecho. Tudo é dado por migalhas que apenas nos deixa mais ávidos por informações.         O mais interessante é que os contos iniciais não se complementam, têm referências um do outro de alguma forma. Além da própria lenda da peça do “O rei de amarelo”.
 
                Não é fácil a leitura desses contos, eles fazem muitas alusões a um universo criado pelo autor, e se não houver uma iniciação, realmente ficamos perdidos. Em “O Reparador de Reputações” há uma Nova York fictícia, que pode bem ser o devaneio do personagem principal. Não fica muito claro o que é um reparador de reputação. E causa estranheza que o personagem principal é um “ex” louco; o Sr Castaigne sofrera dos nervos e após internado foi realocado ao convívio em sociedade. O motivo de sua queda na loucura foi a obra “O Rei de Amarelo” que tinha lido. Assim na realidade, que não sabemos se provinda dos devaneios de Castaigne ou da realidade desse mundo paralelo, a trama se molda estranhamente até um desfecho desconcertante.

                No segundo conto, “A Máscara”, alguns pontos da história anterior são citadas forjando uma espécie de ficção científica e um leve suspense sobrenatural. Nada tão denso e direto como estamos acostumados hoje em dia. Nada tão psicológico como em Edgar Allan Poe. Mas é um leve terror que ambienta este conto. Uma sutileza fantasmagórica que nos incita até a pensar no pior. Este conto é mais simpático e mais fácil de entender que o anterior.

                O terceiro, “No Pátio do Dragão”, há uma espécie de confusão mental retratada, que também nos deixa confusos. Vemos os sentimentos do personagem principal, dentro de uma igreja, durante o sermão do padre, dando asas a sua imaginação, ou a sua realidade. Tudo é muito dúbio em Chambers. E como nos outros personagens perturbados, este também havia lido a peça maldita. Então percebemos que ele pode não estar com sua mente em ordem.

                O encerramento do quarteto se dá com “O Emblema Amarelo”. Considerado o melhor, evoca mais claramente, mas sempre de forma sutil, o sobrenatural. Somos envoltos na atmosfera que o autor quer. E junto com os personagens chegamos ao limite da loucura, sem padecer desse mal, e sem a necessidade de ler o texto do Rei de Amarelo.

                Como uma opinião muito particular minha, até agora o texto não se mostrou inovador, mas tenho que lembrar que ele foi escrito há cerca de 120 anos. Então a genialidade consiste nisso. Ele parece tão familiar e tão contemporâneo que não julgaria ser um texto tão antigo. Salvo algumas referências evidentes. De fácil digestão na narrativa simples, o enredo pode ser o problema. Ele se torna hermético se não houver uma prévia do que é, e algumas notas explicativas, como ocorrem nesta edição, nos salva do naufrágio no mar de referências existentes. E com todo esse aparato para nos impedir de afogarmos ainda saímos com a boca ressecada pelo sal da sensação que há muito mais por trás do que o Chambers escreveu. E assumo que esse gostinho não é tão agradável, porém nos instiga a ir atrás de saber mais.



(Continua...Não sei quando... Mas continua... ) 

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