O Rei de Amarelo – Robert W. Chambers
Ano
passado me deparei com este livro e lembrei vagamente que já havia ouvido falar
dele. E a minha maior surpresa foi o preço: R$ 19,99. Com 254 páginas e editado
pela Intrínseca, o livro se mostrou bem simpático. Na capa desenho de uma
figura arcada em sua própria corcunda
revestido de amarelo e coroada, com as mangas das vestes acabando em trapos
rasgados. E a impressão de palavras de tamanho razoáveis ajuda muito. O que é ótimo para pessoas que usam óculos,
como eu, e os quebram, como eu, e são obrigados a ler sem o auxílio das lentes,
como eu.
Com
mais curiosidade sobre o livro, consultei rapidamente o Google, tomando o
cuidado de não ler nada que entregasse o enredo das histórias. Achei a
informação de que esse escritor influenciou pelo menos dois autores que admiro
muito: H.P. Lovecraft e Stephen King. Isso me bastou para começar a leitura. E
o que me auxiliou também foi que esta edição possuir um comentarista que nos
inicia no universo de Chambers. Como essa é a primeira parte de minha
“resenha/comentário” eu apenas falo dos quatro contos que abrem. Sim o livro é
de contos. E segundo o comentarista (Carlos Orsi) e as informações da internet,
esses contos são especificamente os que fazem alusão direta ao universo do “Rei
de Amarelo”. Para situar, em uma espécie de realidade paralela, que é muito
parecida com a nossa, em algum momento foi escrito um livro, na verdade uma
peça de teatro com aquele título. Aparentemente o livro é uma obra simples e
bem escrita, porém perturba a serenidade de quem quer que a leia por inteiro,
até parece uns livros que andam perturbando muitos aficionados pelo mundo. Uma
terra lendária, ou não, é evocada, e a loucura se instala na alma dos leitores
incautos. Tanto que o livro foi banido de alguns países. Não é revelado muito dos
personagens, nem do enredo, nem do desfecho. Tudo é dado por migalhas que apenas
nos deixa mais ávidos por informações. O
mais interessante é que os contos iniciais não se complementam, têm referências
um do outro de alguma forma. Além da própria lenda da peça do “O rei de
amarelo”.
Não é
fácil a leitura desses contos, eles fazem muitas alusões a um universo criado
pelo autor, e se não houver uma iniciação, realmente ficamos perdidos. Em “O
Reparador de Reputações” há uma Nova York fictícia, que pode bem ser o devaneio
do personagem principal. Não fica muito claro o que é um reparador de
reputação. E causa estranheza que o personagem principal é um “ex” louco; o Sr
Castaigne sofrera dos nervos e após internado foi realocado ao convívio em
sociedade. O motivo de sua queda na loucura foi a obra “O Rei de Amarelo” que
tinha lido. Assim na realidade, que não sabemos se provinda dos devaneios de
Castaigne ou da realidade desse mundo paralelo, a trama se molda estranhamente
até um desfecho desconcertante.
No
segundo conto, “A Máscara”, alguns pontos da história anterior são citadas
forjando uma espécie de ficção científica e um leve suspense sobrenatural. Nada
tão denso e direto como estamos acostumados hoje em dia. Nada tão psicológico
como em Edgar Allan Poe. Mas é um leve terror que ambienta este conto. Uma
sutileza fantasmagórica que nos incita até a pensar no pior. Este conto é mais
simpático e mais fácil de entender que o anterior.
O
terceiro, “No Pátio do Dragão”, há uma espécie de confusão mental retratada, que
também nos deixa confusos. Vemos os sentimentos do personagem principal, dentro
de uma igreja, durante o sermão do padre, dando asas a sua imaginação, ou a sua
realidade. Tudo é muito dúbio em Chambers. E como nos outros personagens
perturbados, este também havia lido a peça maldita. Então percebemos que ele
pode não estar com sua mente em ordem.
O encerramento
do quarteto se dá com “O Emblema Amarelo”. Considerado o melhor, evoca mais
claramente, mas sempre de forma sutil, o sobrenatural. Somos envoltos na
atmosfera que o autor quer. E junto com os personagens chegamos ao limite da
loucura, sem padecer desse mal, e sem a necessidade de ler o texto do Rei de Amarelo.
Como
uma opinião muito particular minha, até agora o texto não se mostrou inovador,
mas tenho que lembrar que ele foi escrito há cerca de 120 anos. Então a
genialidade consiste nisso. Ele parece tão familiar e tão contemporâneo que não
julgaria ser um texto tão antigo. Salvo algumas referências evidentes. De fácil
digestão na narrativa simples, o enredo pode ser o problema. Ele se torna
hermético se não houver uma prévia do que é, e algumas notas explicativas, como
ocorrem nesta edição, nos salva do naufrágio no mar de referências existentes.
E com todo esse aparato para nos impedir de afogarmos ainda saímos com a boca
ressecada pelo sal da sensação que há muito mais por trás do que o Chambers
escreveu. E assumo que esse gostinho não é tão agradável, porém nos instiga a
ir atrás de saber mais.
(Continua...Não sei quando... Mas continua... )
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