Birdman (A Inesperada Virtude
da Ignorância) – Iñárritu me enerva!!!
Alejandro
González Iñárritu me deixa sempre desconcertado. Seus filmes são dolorosamente
dramáticos. E nunca ruim. Para meu gosto pessoal são sempre pesados. Tanto que
não concluí de assistir Babel por me dá mais sofrimento que embevecimento. Em
certos momentos ele causa a sensação de “socorro, me tirem daqui” e ao mesmo
tempo faz querer ficar e ver o que acontecerá. Não sinto facilidade em assistir
seus filmes. E isso não quer dizer que sejam ruins. No seu estilo, ele é ótimo.
Consegue contar uma história entrelaçada com outras subtramas como ninguém. Quem
também fazia algo parecido, com maestria, se foi de nosso meio, Robert Altman,
e Iñárritu lembra muito os trabalhos dele, com estilo bem próprio. As tramas
são entrecortadas, aparentemente complexas, cheias de simbolismo e densidade
dramática. O elenco está afiado. Até o Michel Keaton consegue uma interpretação
louvável. Ele sempre interpreta a si mesmo, e neste longa, consegue uma boa
(ótima) medida no seu Riggan Thomson. E por
isso conseguiu uma indicação de melhor ator. Soube que o roteiro foi escrito
especialmente para Michel Keaton, com todas as similaridades com sua vida, pois
também interpretou um herói fantasiado (Batman, 1989 e Batman- O Retorno, 1992)
e não fazia nada relevante e expressivo desde então. Coadjuvante masculino e
feminino vão respectivamente para Edward Norton e Emma Stone que estão
perfeitos. Nenhum é meu favorito para a estatueta, mas quem sou eu não é
mesmo???
A
história, sem spoilers, é uma sacada perfeita, que une crítica afiada ao mundo
dos atores decadentes que decidem fazer teatro para ganhar respeito. Até para
os críticos sobram farpas, ficaria ofendido se fosse um crítico profissional.
Retomo isso mais adiante. O resumo seria que Riggan interpretou um famoso
super-herói nos anos 90 do século passado. Porém se recusou fazer o 4º filme da
série e sua carreira desaba, junto com seu dinheiro. E mesmo continuando
popular entre os mais “velhos”, é um desconhecido para a nova geração sem
contar que é avesso aos conhecidos Facebook, Twitter ou qualquer outro instrumento
da internet de fama rápida. Então, como muitos atores decadentes que querem
ganhar respeito, apela para o teatro, adapta um livro famoso, dirige e atua na
peça. É bem aí começa as dificuldades. Além de lidar com os próprios problemas,
o Birdman não para de “gralhar” na sua cabeça, tem que lidar com os egos de um
monte de gente.
Entre
a fantasia e a realidade o filme acompanha a nuca, literalmente, de Riggan. A
câmera faz uma filmagem contínua, não desliga nuca e em grande parte do filme
acompanha esse personagem. Vez ou outra que o esquece para mostrar alguma subtrama
ou a fala de algum personagem, e mais que rapidamente volta de novo ao Riggan.
Uma bateria irritante dá o tom pretensamente cômico, mas não espere riso
frouxo, é mais provável se ter uma convulsão nervosa. Não é o filme que gosto,
como já disse. Iñárritu me enerva. Mas não têm como negar que é bem executado,
com diálogos e roteiro inteligentes, atores e atrizes inspirados.
Quanto
à crítica aos “críticos” achei bem interessante. Pois em certo momento o ator
principal entra no embate com a comentarista de teatro de um grande jornal com
uns pontos bem interessantes. Faz pensar na maldade que existe nas palavras
colocadas no papel, ou na tela do notebook. E também o quanto uma
peça/filme/livro/quadro/etc. tem a fama auxiliada ou implodida por pessoas que
se dizem especialista em julgar obras alheias... Enfim, faz pensar, não se
arrepender. Algumas vezes a crítica ácida pode “machucar” a pessoa, mas é o que
dá “graça” ao texto. É impossível ficar lendo algo que só “rasga seda” para o
lado do objeto comentado. E justamente esse diálogo me fez pensar (sem entregar
nada viu gente) o quanto o papel do crítico é relevante. Se não é apenas
amargura por não fazer o que os “artistas” fazem ou também se não é manipulação
do público que só leva em conta o que se é dito nessas críticas, que muitas
vezes são encomendadas pelas corporações que lucram, e muito, com salas lotadas
ou venda do material de interesse. Enfim, só uma leve reflexão. E o que me
motiva a fazer minhas críticas é justamente perceber isso. Uma crítica de um
grande veículo de comunicação é muito tendenciosa, por isso sempre tentava ler
coisas que fugiam desse padrão. E nessa empreitada percebi que realmente é
difícil fazer uma crítica inofensiva. É muito fácil destilar veneno por todos
os poros dos dedos no teclado. Então, sigo um pouco do que aprendi nas
faculdades que passei: não leio nada antes, capto o fato (no caso filme), tiro
minhas conclusões, faço um rascunho e só aí procuro ler comentaristas que podem
ou não convergir para a minha opinião e geralmente não mudo o meu sentimento em
relação, tento manter o meu ponto de vista e ser ponderado no que for possível.
Pelo menos esse é meu método.
Já o
veneno é intrínseco à constituição do ser... Então, depende do humor do dia. Se
estiver “virado no couro do capeta”, destilo tudo no texto, é uma ótima forma
para me sentir melhor, senão, acumula todo esse fel e sem querer corro o risco
de morrer dando uma mordida na própria língua... Agora se tudo estiver bem, sem
venenos, o texto fica sem graça... Eu confesso!!!!!
Contato: vinimotta@hotmail.com