segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Filme: O destino de uma nação

O destino de uma nação






            Para quem não gosta de filmes políticos “O destino de uma nação” vai ser frustrante e enfadonho. Já para quem gosta de filme, de verdade, de ótimas atuações, principalmente do transfigurado Gary Oldman, esse é o filme. Falas, gaguejos e situações onde a força e as fraquezas do personagem são exploradas estão abundando neste filme. Churchill é uma figura emblemática na luta de resistência ao nazismo.
        
    “O destino de uma nação” tem como título original “Darkst hour” que literalmente é traduzido como “hora mais escura”. Imagino que não usaram esse título para não se confundir com o filme de mesmo nome de 1992 sobre uma agente da CIA que caça Bin Laden. É uma pena, pois somente com o título em inglês podemos ter mais clareza, olha a ironia, da escuridão que é o filme em tela. Toda a fotografia do filme é envolta em sombras e escuridão. É literalmente os momentos de dúvida que Churchill enfrentou antes de convocar toda a nação para a guerra. A esperança dos ingleses era de que nunca seriam alcançados numa guerra ou invadidos de forma fácil pelo país estar numa ilha quase isolada do restante da Europa.
Porém os tempos mudaram e as estratégias também. Hitler está às portas do Reino Unido e por uma falha do primeiro-ministro anterior desguarnecida. Elevado ao cargo para enfrentar uma situação delicada vemos um Churchill que não foge da tarefa, o contrário do seu oponente político, Halifax (Stephen Dilane), que não vê vantagem em assumir o cargo neste conturbado período, mas insiste em querer dar as cartas para que se assine um tratado de paz, mesmo que para isso precise dar um golpe no primeiro-ministro escolhido. Diferente do Brasil, os ingleses, tanto os de classe alta, média e até mesmo os mais pobres, conseguiram perceber que se Churchill era um mal, naquele momento se fazia necessário. E ele faz uma coisa que nossos políticos esquecem, propositalmente, que é consultar o povo. Ele deixa de lado seu carro e motorista e vai andar pelo metrô e lá percebe a garra do povo, e a consciência política, coisa que aqui é um tanto controversa. O povo deixa claro que prefere lutar a se render através de um tratado de paz com o posteriormente considerado um dos maiores tiranos de nossa história contemporânea. Claro que nada é tão claro quando se está passando pelo problema. E os políticos ingleses não sabem como agir. E somente com a perspicácia e oratória de Churchill é que vão perceber o erro que seria um tratado de paz.  Como sabemos pela história, a Inglaterra consegue a vitória nessa primeira guerra com a articulação do primeiro-ministro.

             
Atuação de Oldman é fenomenal. Digna de suas indicações e vitórias de vários prêmios. Está irreconhecível como o primeiro-ministro britânico. O tempo todo minha mente se perdeu e desassociou o ator do personagem. Seu balbuciar, seus muxoxos, suas empostação de voz calculadas e feitas para convencer a plateia foram perfeitos. Sua caracterização está perfeita. A direção é exímia e o roteiro certeiro. Consegue, com todos os elementos juntos, ilustrar algo que não é tão fácil ao público médio: explicar os trâmites políticos de uma situação complexa de um país do nível da Inglaterra. A construção de época é notável, o figurino, apesar de predominar ternos pretos, é bem competente. Todos os elementos criam um ótimo filme que vale assistir. E repito, só para quem gosta de filmes políticos e de atuação. Ação é outro departamento.

           
Gosto muito de assistir esses filmes que não ficam atrás de atores festejados pela indústria. Dão-nos oportunidade de ver em primeiro plano profissionais que sempre ficam como coadjuvantes obsoletos em outros tipos de filmes. É extremamente constrangedor ver um monstro do cinema tento que assumir um personagem secundário em alguma franquia para se mostrar ao público mais novo que anda se mostrando incapaz de assistir algo que tenha sido gravado antes de 2010. Não culpo a geração. Se há algum culpado é a própria indústria que gera essa necessidade eminente de filmes novos e estrondosos. Também não vejo como algo negativo. É algo que está aí e pronto. Enquanto isso vemos disparidades de filmes e atuações. O que também enriquece o nosso entretenimento. Porém, entretenimento com um pouco de conteúdo é mais instigante... Ou deveria ser!

domingo, 28 de janeiro de 2018

Filme: O rei do show

O rei do show  




         
       Em 2002 houve um musical que brincou com a questão de mulheres perigosas que eram presas. Era tão irônico que usava a repercussão dos crimes cometidos pelas garotas para satirizar a questão da busca do sucesso a qualquer custo. E de forma direta mostrava que a vida delas, por mais glamorosas que pudesse parecer, não era fácil e que elas eram detentas e seus crimes nem sempre bonitos. O musical se chamava “Chicago”. E ano passado, 2017, tivemos o agridoce “La La Land” que elaborou para as telas uma história de amor que durou o tempo que tinha que durar e depois acabou. Particularmente acho “Chicago” bem melhor que “La La Land” em vários sentidos. E ambos resgataram um gênero que sempre anda esquecido, o musical.  E este ano temos “O rei do show”. Se “Chicago” colocou tudo para frente e explorou   o tema da celebridade e suas “sujeiras” este filme de 2018 pegou uma premissa de exclusão social e jogou para o pano de fundo e fez o musical perder uma força que poderia dar mais sustança à produção. No fundo não passa de uma fábula de amor de um cara sonhador e exagerado que decide ficar com a mulher de sua vida e suas duas filhas. E todo o restante é cenário. O contrário devia acontecer.
Então trabalhemos o que temos.
   
Este musical conta com nomes estrelares como Hugh Jackman, Michelle Williams, Zac Efron e Zendaya. Força a barra no pieguismo, junta uma música composta para agradar o Oscar e coloca uma trupe de “estranhos” combatendo o preconceito, e o velho drama do empresário americano, conciliar brilhantismo na carreira com a vida familiar. Momentos lapidados para choro, para enternecimento e o que sobra no final? É o que o roteiro mesmo diz: um momento de felicidade. Ou apenas um entretenimento vazio. Valeu pelo momento, valeu o ingresso pago, pois nos deixou bem por duas horas após o consumo, igual a um Big Mac ou ainda um churros cheio de granulados coloridos. Porém passado essas horas a fome volta como se nada houvesse no estômago.  

               
É pura diversão e nada mais. Querer ter uma reflexão mais profunda ou ainda tentar conseguir um sentido só se formos tão superficiais quanto o próprio filme. Então, correndo o risco de ofender uma grande parcela que não me lê, o filme será um sucesso com, quase, todo o público. Alcança a todos em suas intenções.  Mas há umas verdades lá. Indiferente a qualquer coisa o show deve continuar. E nem entrarei no mérito desses tipos de shows serem exploratórios quando surgiram. Há vários vídeos e documentários sobre isso. Mas o próprio roteiro não deixa questionar isso. É uma fábula com final feliz.  E um comentário besta: Zac Efron consegue ser duro e denso perto do Hugh Jackman. Apesar de tanta maromba para compor Wolverine por anos ele tem uma bela de uma ginga para dançar e sacolejar.  


sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Filme: Me chame pelo seu nome

Me Chame Pelo Seu Nome





         Reta final do mês de Janeiro e de minhas férias e estou aqui de novo. Sim, voltei para fazer uma pequena resenha sobre o filme que intitula esse texto.  Logo volto a trabalhar, mas já garanti um tempo para me dedicar mais aos meus feitos “escriativos”. Sim, até criei uma palavra para manifestar o que queria realmente fazer. E sim, eu sei que isso é considerado horroroso na nossa língua a não ser que você seja um escritor ‘phoda’ como Guimarães Rosa ou um intelectual que renegou toda sua obra acadêmica em função de sua carreira política como o FHC. Mas me deixem... Tenho direito a digressões e licenças poéticas ou ainda grafias alternativas, direito este concedido por mim mesmo. <3
E vamos parar de papo-furado. No filme “Me chame pelo seu nome” (estou mudando também a grafia dos nomes dos filmes, antes colocava as palavras em maiúsculas, seguindo um padrão de escrita de sites e afins, agora escreverei só a inicial maiúscula e todas as demais em minúsculas, salvo nomes próprios) Gente o que está dando em mim? Que surto gramático-linguístico está me assolando? E essa falsa e artificial forma de expressar espanto? E essa ironia cínica? Acho que um ser há muitos anos preso nas masmorras de meu âmago está ressurgindo. Um ser feito de medo, ironia, sarcasmo, dor de cotovelo, falta de amor e muito ódio, grosseria, teatralidade, divagações, corrosões, rudeza: o verdadeiro eu!!!!  E aquela frase que eu comecei e não conclui???? E de quem é o tríplex? E cadê a prova? E o ‘helicoca’ de quem é? E por qual motivo nenhum outro político é julgado tão rápido assim? Quem matou Odete Roitman? Bom, essa eu sei, foi a Leila... 
Quanto às outras perguntas ficamos sem respostas por hora. Já esse surto psicótico-gramático-linguístico talvez seja só gases intelectualoides mesmo. Dando um peido passa...
Em função desse estado de espírito gaseificado eu já começo falando de como eu achei chato “Me chame pelo seu nome”... Afff... Que chute no saco dado pelo tédio. Pelo menos nos 2/3 iniciais do filme. A descoberta da adolescência que não foi uma descoberta de verdade, a vida perfeita de Elio, jovem rico que tem acesso aos conhecimentos intelectuais mais amplos possíveis, moradia na Itália numa propriedade charmosíssima, com toda criadagem necessária, com tudo pronto, a descoberta da paixão através de um homem mais velho e com uma aparência de Deus grego, perfeição, beleza, família de boa com mãe e pai abertos e amorosos, atitudes fofas... Zzzzzzzzzz!
O filme toma verdadeiro viço no 1/3 final onde as emoções são expostas e conversas são feitas. Elio está triste com a partida de Oliver. A fala de conforto do pai de Elio é a melhor do filme todo. Ele, sem entregar muito da história, vai na jugular de uma mentalidade muito difundida hoje em dia: o não querer sentir o que nos faça sofrer. A fala é muito pertinente e nos lembra de que muitas vezes o sentimento “ruim” está atrelado ao bom. Uma má lembrança, por vezes, carrega consigo uma boa lembrança, se considerar um todo maior. Erradicando uma também excluímos a outra. Para se entender melhor eu transcrevi a fala: "Nós tiramos tanto de nós mesmos para nos curarmos das coisas mais rápido que vamos à falência aos 30 anos... E temos menos a oferecer cada vez que recomeçamos com uma nova pessoa. Mas forçar a si mesmo a não sentir nada... Para não sentir nada... Que desperdício!" É desperdício tentar não sofrer, como é tentar não se alegrar ou ainda não se divertir ou não sentir tédio. Todas são emoções humanas e todas merecem e devem ser vividas. Mesmo não agradando muito. É o que nos torna humanizados. Sofrer por um amor “perdido” faz parte do jogo para nos preparar ao reencontro de um novo amor. Ter saudade de alguém que se foi é algo bom para não sermos tão egocêntricos e valorizar mais quem ficou ou quem vai entrar na nossa vida. O problema é ficar preso nessa emoção negativa. Não ressignificar e não continuar a vida em função disso. Sempre escutei de pessoas que tiveram cães, por exemplo, que depois da morte de um animalzinho, nunca mais queriam ter outro, “é muito sofrimento” e que “a vida não é justa”, “é duro eles morrerem”.
E isso me soa tão estranho. Eu já tive mais de 10 animais de estimação e todos morreram e eu senti do fundo do coração por cada um. E isso não me fez querer nunca mais ter outro bichinho na minha vida. Pois apesar do sofrimento da perda foi ótima a alegria diária de ter um cachorro como companheiro, as brincadeiras, a beleza de ter um ser ao seu lado numa relação de confiança. Era chato limpar o cocô, mas era ótimo a lambida que, na linguagem deles, era puro afeto. Mesmo com tantas perdas de cães que tive isso me motivou a ter minhas princesinhas comigo hoje, duas Shih-tzus fofas.
Voltando ao filme... Divaguei um pouco agora. Não é por eu ter achado um pouco chato o começo que ele não seja um bom filme, acima da média na verdade. A direção se esmerou a mostrar uma história com um lindo cenário. A Itália sempre é retratada com uma aura exuberante que também é utilizada neste filme. As interpretações estão ótimas. Timothée Chalamet convence como Elio, jovem com vida perfeita que tem acesso ao seu primeiro confronto amoroso. E seu par romântico Oliver (Armie Hammer) cumpre o papel de galã “deflorador” que vai embora, bem típico em histórias gays. Talvez ele seja menos FdeP, ou não... O que quero dizer é que ambos convencem no amor que manifestam e isso é bem legal. Nada é forçado, tudo é mostrado com delicadeza, lirismo, palavra essa muito usada para falar do filme. O pai de Elio, Mr. Perlman, interpretado pelo ótimo Michael Stuhlbarg, é de uma compreensão e de uma sensibilidade incrível. Esse ator anda me chamando muito atenção. E tudo isso é também obra do roteiro bem elaborado, baseado no livro de mesmo nome do escritor André Acimam, e do diretor que consegue executar um ótimo trabalho. O elenco todo está bem afinado. É no todo um filme bonito que demora um pouco para decolar. Para quem nunca assistiu outros filmes de temática gay talvez esse pareça ser o mais bonito, o mais inovador, o mais t
udo. Só lembrando que há outros filmes com suas especificidades e próprios da época de suas execuções. Para os iniciantes que gostam do tema vale conferir os outros.

E lembrete: homofóbicos não assistam, ou melhor, homofóbicos não existam!!! Beijos de luz!