terça-feira, 5 de setembro de 2017

Setembro - Filmes Nacionais: O Pagador de Promessas

O Pagador de Promessas






      Então companheiros… A luta continua. Esse Brasil nunca esteve numa situação tão periclitante quanto estamos em nossa política. Nunca antes na história deste país vivemos um retrocesso tão inclemente…
Mas, como diria um ícone das vendas de coisas inúteis pelos canais de televisão aberta “Temos coisa boa pra você”. Setembro em homenagem ao truque da Independência vamos falar aqui no blog de filmes nacionais. Sim, grandes filmes nacionais. Eu, para quem acompanha um pouco o blog, tenho minhas ressalvas com o cinema nacional. Apesar de saber de toda a sua importância, necessidade, blá-blá-blá… Assim como outros tipos de “artes”, no nosso país, é praticamente a elite que produz os grandes nomes que vão para as salas de exibição. E ficou clara a sabotagem, do governo, no caso,  de filmes que acham inadequados, e estou falando de “Aquarius”. Boicotado de todas as formas principalmente pelo diretor e elenco se posicionar contra o golpe que se articulava, na época, onde a ilustre decoração quis tomar o lugar da dona da casa… E conseguiu. Voltando ao cinema, a minha ressalva é infinita… Não caberia aqui. E não quero criar inimizades (piada!).
Entre vários filmes nacionais bons eu começo com um ilustre desconhecido que foi indicado ao Oscar de 1963, “O Pagador de Promessas”. O mais surpreendente é ver alguns atores televisivos consagrados e ainda sem plásticas em seus rostinhos lindos e jovens. E outro ponto assombroso é perceber que esses atores pasteurizados pela Globo eram grandes atores, dignos, que faziam bonito. Um deles, Leonardo Villar, é Zé do Burro. Mal sabemos de Villar pois nas novelas era apenas o pai de alguém mais “famoso”. Zé do Burro fez uma promessa, seu burro levou um raio na cabeça. E promete levar uma cruz, andando, até a igreja de Santa Bárbara. E alcançando a graça do seu burro sobreviver, vai até lá carregando seu fardo. porém, ao chegar na igreja o padre encrespa e não permite que Zé do Burro entre com a tosca e pesada cruz feita por ele. Tudo isso desencadeia fatos e situações que acabam em desastre. 
Toda a história nos lembra em algum momento de outras histórias que já vimos em algum lugar. Isso se deve  ao roteiro ser de ninguém menos que Dias Gomes que virou um dos grandes autores de novelas globais. Glória Menezes ainda morena, rechonchuda e com o nariz um pouco diferente do que estamos acostumados faz a esposa de Zé, Rosa, que se limita a seguir o marido na sua empreitada. Norma Bengell faz a boazuda Marly que se interessa por Zé. O padre intransigente é feito por Dionísio Azevedo. Talvez o grande nome conhecido seja apenas de Glória Meneses. Othon Bastos faz um repórter sensacionalista ávido por uma matéria popular. É interessante que todo o elenco teve sua relevância nos tempos áureos do cinema nacional. E hoje prefiguram no esquecimento. Somos bem deselegantes quanto nossos astros. 
“O Pagador de Promessas” é um grande exemplo de filme nacional que alcançou seu apogeu e, segundo más línguas, foi sabotado pelos EUA que exigiu,  trocarmos nossa exportação de café pelo nosso cinema numa bandeja de prata. Segundo suas analises neuróticas nosso cinema poderia rivalizar com ele Imagine Bollywood? Mas são só más línguas que que dizem, não dá para confiar… !!!
Esse filme mereceu as indicações que teve aos diversos prêmios pelo mundo. E mesmo que, hoje, nos pareça uma história simples, temos que entender que na época de sua execução ele foi um pouco ousado ao colocar um padre como “vilão” da história que acusa Zé do Burro de seguir Iansã e não ter devoção verdadeira por Santa Bárbara. Se passa na Bahia e o sincretismo é colocado como tema. Se hoje é comum mostrar a hipocrisia do clero, em 1962 não. Principalmente quando o assunto é o confronto com religiões de matriz africana. O filme é inspirado, com interpretações complexas, afinal, pessoas simples são mais difíceis de fazer com maestria. Direção de Anselmo Duarte que prefigurou a frente de vários filmes que deveriam ser clássicos de nosso cinema mas estão lá, esquecidos e mofando em algum lugar. E viva o pendão da esperança cultural… 
          E sim, ele é em preto e branco. 

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