quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Setembro - Filmes Nacionais: Tropa de Elite

Tropa de Elite









      
   O que os filmes anteriores possuem em indicações ao Oscar “Tropa de Elite” angariou simpatia do público daqui. Apesar que foi o grande ganhador do Urso de Ouro de Melhor Filme no Festival de Berlim. O que mais chega perto em popularidade é “Cidade de Deus”. Com “Tropa...” a popularidade foi maior. Com a direção e roteiro de José Padilha vemos um bom drama policial na tela com todos os pontos altos de ação. Caminhamos junto ao Capitão Nascimento (Wagner Moura) e sua nova tropa que ele está treinando.
É “faca na caveira”, o BOPE, um esquadrão especializado em enfrentar os bandidos mais perigosos nas favelas do Rio de Janeiro. Enquanto sua carreira deslancha, sua vida pessoal naufraga. Ao mesmo tempo temos uma radiografia realista da sociedade carioca que é mais envolvida com o tráfico do que quer imaginar ou admitir. Não é fácil um policial ser honesto no Brasil e “Tropa de Elite” deixa isso claro. Não há glamour, não há heroísmo. Há pessoas que querem sobreviver e pessoas que seguem ordens. Tudo em função do dinheiro que corre solto nas veias corruptas do estado. Um dos filmes mais contundentes, e até complexos, mas pela realidade estar tão próxima à população, conseguiu ser entendido e caiu no gosto do povo.
O Rio de Janeiro não é o maravilhoso cartão postal retratado pela ideologia da classe média alta, ele é sujo, feio, cheio de pessoas que matariam sem pestanejar se alguém entrar em seus feudos, os morros, onde os senhores ficam lá, ironicamente presos, controlando o tráfico miúdo. E é na sequência que vemos que o tráfico graúdo está lá onde os políticos se reúnem para nos governar.

         O elenco é enorme e bem azeitado. Tudo funciona no roteiro, na direção, nas atuações. Dos principais aos coadjuvantes todos são bons. Vale cada minuto de filme assistido. 

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Setembro - Filmes Nacionais: Cidade de Deus

Cidade de Deus






       
  Aqui chegamos a outro patamar. Se até então conseguimos indicações a Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz, o que é muito comum entre filmes que não são produzidos em língua inglesa, “Cidade de Deus” foi diretamente indicado a quatro categorias do Oscar. Sendo duas delas importantes, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado e duas categorias “menores”, Melhor Edição e Fotografia. Isso mostra que o filme foi considerado um “igual” entre os demais indicados. Perdemos todos os prêmios. O diretor Fernando Meirelles perde para Peter Jackson que corou sua obra monumental, adaptar o livro “O Senhor dos Anéis” para o cinema e seu trabalho épico foi reconhecido através da terceira parte da trilogia “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei”. Esse ano não tinha como não dar os prêmios a Jackson. E em roteiro perdemos também para o mesmo filme. Era absurdo a obra monumental de Tolkien não ser reconhecida também em roteiro. Dizem que merecíamos pelo menos melhor edição. Pois éramos mais inovadores, mas o ano era de “Senhor dos Anéis”. Não tinha muito que fazer.
                  A história segue contada por Buscapé. Ele vive na favela Cidade de Deus e num momento crítico, em meio a uma briga de gangues rivais ele vai contar sua infância. E como conheceu o mundo do crime. Nesse período nos é apresentado Dadinho que vem a se tornar Zé Pequeno que se torna um dos traficantes mais influentes e perigosos da região. Sua ascensão culmina com a vida de Buscapé em vários pontos. Buscapé tem o gosto pela fotografia e registra em suas lentes e fotos tudo o que pode. A epopeia de Zé Pequeno é o ponto forte do filme. Ele não tem piedade de ninguém e busca o poder e o dinheiro que o tráfico pode propor. Porém isso gera inimizades. E tudo culmina em um apoteótico desfecho digno dos dramas shakespearianos.

        
O elenco é gigantesco, em sua maioria de atores iniciantes ou mesmo vindo de comunidades do Rio de Janeiro. O filme tem tudo que a maioria das pessoas gosta. Violência, cenas engraçadas, palavrões proferidos nos momentos certos, um enredo, que apesar de complexo é de fácil digestão e personagens cativantes. Por isso ouso dizer que esse é o melhor filme até agora retratado em nossos cinemas. Talvez só perca em popularidade para o próximo filme que será apresentado. 






domingo, 17 de setembro de 2017

Setembro - Filmes Nacionais: Central do Brasil

Central do Brasil





       
  Dora uma senhora trambiqueira, pois escreve cartas para pessoas analfabetas, cobra pelo serviço, mas nunca as envia se vê numa encruzilhada da vida. Assumir ou não o garoto recém-órfão Josué. Uma história com a direção de Walter Salles que até então havia feito poucos filmes ainda. Walter consegue o inusitado ao escalar Fernanda Montenegro para a personagem principal, uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz. O filme também foi indicado à Melhor Filme Estrangeiro. De filme estrangeiro perdemos para o eloquente “A Vida é Bela”. Atriz, que lástima. Fernanda perde para Gwyneth Paltrow e olha que as outras concorrentes eram Emily Watson, Cate Blanchett e Maryl Streep, uma ótima atriz e duas “deusas”. E Paltrow levou...
        
Enfim, essas coisas acontecem...
         A história é bem estruturada mostrando um lado bem humano e brasileiro dos personagens. Em certo momento até “vender” Josué é cogitado por Dora. No último minuto ela desiste e vai atrás de resolver a vida do menino. Fazendo o certo Dora entra numa jornada de redenção onde nada é tão evidente. Seu mau-humor é fruto da sua frustração pela vida. Sua idade já não permite muita coisa.
Então, esse pequeno presente da vida a faz tentar o que é mais correto. Vinícius Oliveira é um achado. Imagine alguém atuando com Fernanda Montenegro? E dando conta do recado? E sem nenhuma experiência anterior. O garoto faz bonito. É cativante a química que Fernanda desprende e envolve o menino. Ambos são realmente a alma do filme. Ambos são o material perfeito para Salles fazer sua obra.
        
Contudo o que disse de “O Quatrilho” serve para “Central do Brasil”, é arrastado. Lento, mesmo não desmerecendo o poder do filme é um pequeno lapso que o atinge. E quem se importa se o filme já entrou para o hall internacional da fama?
E para dizer que não falo só de Oscar ele concorreu a inúmeros prêmios e ganhou um Urso de Ouro e Fernanda um Urso de Prata. Acho que esses prêmios são um pouco mais sérios que o Oscar, só para se ter uma ideia da grandeza desse filme.





Título: Central do Brasil (Original);
Ano produção – 1998;
Dirigido por Walter Salles;
Estreia: 3 de Abril de 1998 ( Brasil );
Duração – 110 minutos;
Classificação - Não recomendado para menores de 12 anos;
Gênero: Drama Nacional;
Países de Origem: Brasil e França;
Roteiro: João Emanuel Carneiro, Marcos Bernstein, Walter Salles;
Produtores: Arthur Cohn, Martine de Clermont-Tonerre;

Atores: Fernanda Montenegro, Vinícius Oliveira, Caio Junqueira, Maria Menezes, Marília Pêra, Matheus Nachtergaele, Othon Bastos, Otávio Augusto, etc. 

Setembro - Filmes Nacionais: O Quatrilho

O Quatrilho







        
Como comecei com um indicado ao Oscar, vou agora ao segundo filme brasileiro também indicado, o que ocorreu somente em 1996: “O Quatrilho”. Se com o primeiro perdemos para “Les Dimanches de Ville d'Avray” do francês Serge Bourguignon, que lembro vagamente quem seja, temos no segundo filme a família Barreto por trás. Novamente perdemos e para um ótimo filme, “A Excêntrica Família de Antônia” de Marleen Gorris, lá dos Países Baixos.
        
“O Quatrilho” aborda uma situação que anda mais comum ultimamente, a troca de casais. Se fosse hoje a MBL ou algum grupo fanático religiosos iria protestar diante as portas do cinema ou iam pedir para um juiz tapado proibir a exibição, pois “atenta contra a moral e contra a família”. A nossa grande sorte é que esse povo nunca é muito inteligente e na maioria dos casos não conseguem avaliar uma obra artística verdadeiramente. E artistas geralmente são inteligentes e hábeis nas suas técnicas e conseguem driblar sempre esse povo “de bem” que presa pela moral e pelos bons costumes.
        
Como “O Quatrilho” surgiu nos anos de 1990 temos um bom exemplo de uma “contravenção” artística. Baseado num fato real, duas famílias de colonos italianos no Rio Grande do Sul vão morar numa mesma casa, para poderem sobreviver, temos um jogo de troca de parceiros que beira a ingenuidade para os dias de hoje. A obra tem o esforço de reproduzir uma comunidade rural do início do século passado, quando os italianos chegam ao Brasil, fugindo da guerra e tentando nova vida. O meio moralista católico traz o entrave do impudico na relação dos casais. O falatório, o preconceito velado, típico que sempre tivemos por aqui. Mas o que pesa mais é a percepção de que houve a escolha errada de parceiro. Vemos uma sonhadora e solar Teresa (Patrícia Pilar) casada com o introspectivo e calado Angelo.
E num viés inverso temos Pierina (Glória Pires), que perto de Teresa é até feiosa e séria demais, casada com o bonitão e falador Massimo (Bruno Campos).  Com o convívio, lógico que os solares se atraem e pegam fogo e dão um pé na bunda dos lunares. Por Teresa e Massimo serem mais impetuosos e seguros de si eles percebem logo o equívoco que se meteram ao se casarem com os seus respectivos parceiros. Pierina e Angelo por serem mais introspectivos demoram um pouco para assimilar a situação. E praticamente quando são abandonados é que se unem em uma parceria de necessidade e carência.
       
  O nome “quatrilho” vem de um jogo que parecia ser muito comum na região e entre os colonos onde se trocava de parceiro durante a partida. Esse jogo representa bem o caso de infidelidade e troca que o filme retrata. Ainda consta no elenco nomes conhecidos da nossa televisão brasileira como os saudosos Gianfrancesco Guarnieri, José Lewgoy e Cláudio Mamberti, grandes atores cooptados e pasteurizados pela Globo que eram de um nível de talento que ia além das novelas.
        
Um “porém” deve ser dito, o filme é meio arrastado. Bem arrastado. Não que seu concorrente e ganhador do Oscar não seja um pouco, mas a direção de Fábio Barreto ganha. Mesmo para o padrão daqueles anos de 1990 o filme deixava os mais acostumados aos filmes pipocas com sono. Bom, neste quesito o próximo comentado também tem o mesmo efeito soporífero. Aguardem.

        
Mesmo causando tédio “O Quatrílho” é um grande filme. Lento, mas bem executado e com qualidade reconhecida pela crítica. Temos que lembrar que saíamos de um período que o cinema nacional tinha sido tão sucateado que praticamente só os filmes dos Trapalhões e da Xuxa faziam sucesso. “O Quatrilho” foi um bem vindo fôlego novo ao nosso cinema e deu a força necessária para retomar roteiros mais sérios e adultos em nossos cinemas. 


Título: O Quatrilho (Original);
Ano produção - 1995;
Dirigido por Fábio Barreto;
Estreia -  20 de Outubro de 1995 ( Mundial );
Duração   92 minutos;
Classificação:   L - Livre para todos os públicos;
Gênero: Drama Nacional/Romance
Países de Origem: Brasil.
Roteiro: Antônio Calmon, José Clemente Pozenato, Leopoldo Serran;
Elenco: Alexandre Paternost, Bruno Campos, Glória Pires, Patrícia Pillar, Antônio Carlos Pires, Cecil Thirré, Clláudio Mamberti, Gianfrancesco Guarnieri, José Lewgoy, etc. 


domingo, 10 de setembro de 2017

It - A Coisa - Mais Drama, Mais humor, Mais Acertos

It - A Coisa - Mais Drama, Mais humor, Mais Acertos




      
   Em 1986, Stephen King, lança o livro “It”. Sobre um palhaço sobrenatural que ataca as crianças de uma cidade e como um grupo de adolescentes o derrota para depois de mais de duas décadas essa mesma entidade voltar e eles se reunirem para combater o mal.
        
Em 1990 é lançada uma versão para a televisão baseada no livro que já detinha um grande sucesso de vendas. Com boas críticas conseguiu se firmar como um grande filme de terror daquela década. Aos olhos de hoje é um tanto quanto formal e careta e lento.
        
Já a versão de 2017 é remasterizada e turbinada com alguns efeitos interessantes. Sai de cena o Pennywise de Tim Curry, maquiado ao estilo da velha guarda, e entra o  Bill Skarsgård que se mostra tão competente quanto e uma maquiagem com alguns efeitos de computação gráfica. O elenco infantil é melhor e mais carismático que o anterior. E o terror não fica mais só por conta do sobrenatural palhaço. Os adultos, pelo menos os que aparecem, se mostram tão bestiais e perigosos quanto a entidade comedora de crianças.
        
Não tenho como comparar com o livro, pois ainda não li, mas é interessante o quanto neste filme os adultos são “ausentes”. Os que aparecem só o fazem para dificultar a vida das crianças. Temos de tudo um pouco, pai abusador sexual, uma mãe superprotetora que até inventa uma doença para controlar o filho, um pai insensível com as necessidades emocionais do filho que perdeu o irmão, um responsável que é absurdamente insensível e a turma de garotos mais velhos e fortes que adoram praticar bullyng.
Sem contar algumas outras crianças que ajudam o quadro a piorar. Todos parecem fruto de um grande distúrbio de uma sociedade doente. E tudo isso desloca a tensão a vários momentos e não só nos aparecimentos de Pennywise. Como contraponto aos momentos de tensão, temos incríveis momentos cômicos. Não é um filme pesado como a franquia “Jogos Mortais” que chega a dar aflição. Pontuando todo o filme temos alívios que nos impulsionam novamente a outro momento de terror. Mais alívio, mais terror, intercalados de forma a construir não só o horror, mas também um grande filme de peso dramático.
        
Se o filme televisivo era um pouco longo, este já deixou clara sua intenção, haverá uma segunda parte, pois a primeira só foi o período da infância do grupo de crianças quando enfrentam pela primeira vez “a coisa”.
        
As crianças têm mais tempo de desenvolvimento de suas personagens e isso cria maior empatia pelos garotos, e lógico, pela garota do grupo. É de cortar o coração ver como uma criança pode sofrer em ambiente familiar ou estudantil. E nisso Stephen King acerta, apesar do sobrenatural ele sabe que a maior e pior maldade está dentro do ser humano.
         Fazia um tempo que não assistia a um filme bom de terror. Todos envergam pelo rumo de esquartejamentos e mortes estrambólicas desnecessárias e fins previsíveis. Apesar de ser uma releitura de uma história já conhecida, o processo é bem executado. Ponto para os roteiristas, o diretor e produtores. A escolha do elenco também ajudou muito, todas as crianças são fofas o suficiente para criar empatia e ao mesmo tempo com suas “malícias” para mostrar que são humanos apesar da pouca idade.

         O filme paga o ingresso caro. E dá o que promete. Cenas fortes foram colocadas para tentar mais fidelidade com o livro. E tudo funciona. 

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Setembro - Filmes Nacionais: Mazzaropi

Mazzaropi




               
Aqui mais uma vez não tem como falar de um filme. Temos que falar do artista em si. Mazzaropi começou com o filme “Sai da Frente” em 1952 mas já trabalhava com teatro e rádio. E por quase 30 anos teve uma carreira consistente com seus filmes de comédia caipira. Nascido em São Paulo vive parte da infância entre idas e vindas da capital para o interior. E se especializa em fazer o tipo que lhe rendeu fama: ingênuo, caipirão e caricato.
               
Seus filme não tinham grandes pretensões, mas agradavam muitas pessoas. Há um tempo, quando ainda trabalhava na locadora, eu via senhores mais velhos ou ainda homens trintões, correndo alugar Mazzaropi. Muita gente ainda não gostava de legendas e os recursos do DVD não existiam.
                De todos os que mais se destacam é o já citado “Sai da Frente”, “O Corintiano” e “Jeca Tatu”. O personagem era praticamente o mesmo. Um matuto caipira espertalhão, porém nunca burro só limitado pela falta de escolaridade. O que divergia muito do ator que diziam ser bem culto e inteligente. O grande trunfo de Mazzaropi era seu carisma. Ele convencia como homem simples do campo e alguém que usa mais a esperteza do que um intelecto e sempre se dá bem. Muitos dos filmes estão em preto e branco e nos traz histórias simples e engraçadas com situações inusitadas. Lembro também que nas tardes de domingo na rede Cultura de televisão sempre passavam seus filmes.
                Não falo que são os melhores filmes do mundo, mas todo cinéfilo que se prese deve pelo menos assistir um ou dois filmes desse grande expoente da comédia cinematográfica nacional. Filmes leves, roteiro se pautava pela simplicidade.  

                Depois de um tempo esse grande ator, um tanto esnobado pela grande mídia, começou a escrever sue próprios roteiros e até a co-dirigir alguns trabalhos. Percebo que Mazzaropi é pouco valorizado por sua aparente “simplicidade”. Mas ele lotava cinemas e todos se divertiam com ele. Isso ainda falta em muitas produções nacionais.