quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Séries: The Get Down – Moulin Rouge no Bronx

Get Down – Moulin Rouge no Bronx






        The Get Down é a mistura de adolescentes descobrindo como serem adultos em uma cidade grande, corrupta e com inúmeras mazelas sociais, a loucura disco que está no auge nas casas noturnas mais badaladas, e o despertar de uma nova força musical que arrebata e o sonho de se tornar alguém especial. Agora a tudo isso misture a capacidade do Baz Luhrmann ( Diretor e roteirista) de criar uma aura onírica de contos de fadas contemporâneo.


        E como é difícil transformar o Bronx dos anos de 1970, quase destruído por gangues e descaso de políticos, em algo onírico. E Luhrmann consegue. Tudo contribui para a sua visão kitsch, afinal o lurex reinava nesta época. E o que não dizer da grafitagem que surge neste período como força catalizadora dos jovens sem grandes perspectivas no futuro que se revoltam contra o mundo dos adultos fazendo a contravenção de pintar muros e trens com uma lata de tinta spray? Tudo é motivação para contar uma história bem gostosinha de se assistir. Tudo é visto não só como contravenção, o caminho mais fácil, mas também como algo maior. Tanto que um personagem já no primeiro episódio já faz a “previsão” de que logo aquela pichação, a grafitagem, estará em grandes museus sendo expostos como arte.


        Apesar de tratar uma temática até certo ponto inovadora no fundo vemos um Moulin Rouge mais desenvolvido. Baz Luhrmann foi diretor deste filme de 2001 que contava com o casal  Satine (Nicole Kidman) e Christian (Ewan MacGregor) e seus amigos descolados de uma época boêmia de Paris. Sai o charme parisiense entra o destruído bairro do Bronx, sai Satine e Christian e entra Mylene (Herizen F. Guardionla) e Ezekiel  (Justice Smith) e os amigos descolados são trocados por uns não tão descolados e outros muito mais descolados. Há entre tantos personagens um garoto que picha muros, ou melhor, grafita e é fã de lutas marciais chinesas, o Shaolin Fantastic (Shameik Moore) e seu fã no grafite, que também busca sua fama nas artes do spray, Marcus “Dizzee” (Jaden Smith) e seus irmãos. No meio do caminho há uma mulher que comanda o tráfico de drogas e seu filho idiota, que por sua vez comanda uma boate disco, que quer a jovem Mylene para si. Há o tio da Mylene que é um politiqueiro corrupto que tenta comandar o bairro e seu pai, pastor picareta de uma congregação falida.

        Os personagens são icônicos e mostram bem a índole da época retratada. Ao lado de trens pichados que passam cortando a imagem como se fossem o convite de fadas para uma história amena temos inúmeras imagens ou fotos de um lugar que estava longe de ser um sonho. Lixo amontoado, prédios pegando fogo, tráfico e uma escolha de fotografia que nos faz entender o calor sufocante que pode ocorrer em Nova York. Tudo parece acontecer no verão causticante para justamente não remeter a nenhuma idealização fantasiosa natalina.

        Outra mudança que não chega a ser tão drástica, é que em Moulin Rouge havia a “fada verde” que flutuava pelos personagens os levava à embriagues. Aqui, o mundo é menos sofisticado para se ter absinto e o que vemos é uma profusão de cocaína e muita maconha. E não se espantem, é só prestar atenção nas ruas de hoje para ver que não mudou muita coisa.



        Outro contraponto que percebo na série da Netflix, sim minha gente é mais uma produção instigante desse serviço de streaming, e que o filme de 2001 não consegue é colocar a loucura de drogas e amor inconsequente em jovens menores de idade. O que no filme não acontece. Todos parecem ter mais de 30 anos e fica um pouco difícil acreditar naquela pataquadas.



        Uma série de jovens que nada tem de infantiloide. É uma série para quem quiser assistir.
             E tem um monte de luzinhas coloridas, não são "coisas estranhas"????

domingo, 21 de agosto de 2016

Séries: American Crime – Primeira Temporada – Densa e pesada

American Crime – Primeira Temporada – Densa e pesada





          
           O cinema está um pouco na mesmice. Os grandes produtores preferem investir em megafilmes que garantirão um retorno polpudo aos seus bolsos. Quem perde com isso somos nós e também as boas atrizes e os bons atores que ficam relegados a coadjuvantes de luxo em papéis que nada mostram suas qualidades e potencial.
           E as séries vieram preencher um pouco essa falha dos filmes. Cada temporada que passa somos presenteados com roteiros mais inteligentes e com o desenvolvimento narrativo melhor, pois o tempo é prolongado. Em American Crimes, Primeira Temporada, vemos como o tempo ajudou a história. São 11 episódios, de cerca de 45 minutos cada, onde desenrola uma história aparentemente bem repetida em inúmeros filmes.


           Com a tranquilidade necessária para nos contextualizar, percebemos que alguns pontos de vistas são trocados. Não há um detetive machão que irá conduzir as investigações. Não há um personagem masculino querendo ser um vingador. Há o comunicado de um crime ao pai da vítima. Um rapaz é morto a tiros e sua esposa fica gravemente ferida e em estado coma. O pai fica devastado e entra em contato com a ex-esposa. E começamos a ver que o quadro foi pintado já com cores não tão óbvias. Lentamente descobrimos que a família foi em algum momento desestruturada pelo vício em jogos do pai. A mãe levou nas costas a criação de dois filhos e os idolatra como se fossem seres angelicais e perfeitos. Uma perfeição que é maculada por um crime aparentemente hediondo. Os suspeitos são “repulsivos” e “insuportáveis” imigrantes ilegais e um negro. A mulher que se coloca o tempo todo como uma boa mãe e dona de casa, contudo é racista e preconceituosa. O pai tem seus demônios do passado, foi preso e convive com isso. E o filho morto se mostra menos perfeito ainda. Há indícios contundentes que ele era um traficante e a sua esposa mantinha casos com outros homens para se livrar da pressão. Em certo momento algo deu errado e acabou sendo morto. Não sabemos o motivo real do assassinato. Os roteiristas são hábeis em procrastinar o máximo possível a explicação. O que sabemos é o que os pais, tanto do rapaz assassinado quanto da moça em coma, sabem. E o importante é a reação que ambos os casais têm ao saber das mazelas de seus filhos. Um lado quer justiça a qualquer custo, mesmo que o custo seja a prisão, julgamento e condenação de um inocente que parece culpado, o outro quer apenas não ser exposto, quer discrição para enfrentar com uma certa dignidade a vergonha da qual são obrigados a padecerem.

           Em meio a esse lado dos “mocinhos”, ou melhor, das “vítimas” vemos o lado dos “bandidos”, ou melhor, dos envolvidos direta e indiretamente no crime, propositalmente sem aspas. Um casal de viciados, a moça é branca, isso é importante na trama, o cara é negro e é acusado como o feitor do crime. Um mexicano ilegal é acusado de cúmplice pois estava com os cartões de crédito do rapaz assassinado. E há um rapaz, menor de idade, que se vê envolvido como cumplice no crime por ter alugado o carro para ganhar uma grana sem saber que os locatários eram “bandidos”. E é aqui que vemos algo realmente humano: tanto no drama do casal que se ama e que não consegue se manter devido ao vício, quanto na angústia do imigrante ilegal que tem medo de voltar ao seu país de origem por pendências que possui lá, ou ainda, pelo jovem de origem latina que se vê envolvido em uma situação que seu pai tanto lutou para que nunca acontecesse.

           Digo que o lado “bandido” é mais humano pois em nenhum momento eles são pintados como coitadinhos. Eles têm atitudes dignas de pena mas não são coitadinhos. Estão cientes de seus erros até certo ponto. Porém querem seguir a vida. O que revolta é o núcleo “bonzinho”. Saindo de todo o estereótipo que o cinema pode ter criado, ou até mesmo outras séries, esse grupo é a representação do típico americano de bem, cristão que só quer trabalhar e viver sua vida. Porém, na hora que o cerco aperta, vemos que não são tão bons quanto aparentam. Isso os distingue do “malvados”, eles se acham bons e são tão contraditórios e problemáticos quanto os “malvados”. Vemos que a perfeição não existe, vemos que a humanidade é contraditória e em muitos casos mesquinha.

           Tudo isso que disse não seria nada se a produção não se esmerasse em encontrar bons atores para passar a mensagem que o roteiro manda. E como os atores são bons nessa série. É de arrepiar, por exemplo, ver a mãe que sofre pelo filho morto e se mostra rancorosa, amarga, preconceituosa e ao mesmo tempo insegura e solitária que Felicity Huffman nos dá. Ela simplesmente está perfeita. Uma mulher comum que guarda no coração frustração e mágoa tão profundas pela vida que não consegue ver a verdade à sua frente. Por mais que os detetives lhe esfreguem na cara as evidências. O pai é algo também aterrador, um misto de arrependido, resignação com uma raiva latente que pode se mostrar letal, mérito de Timothy Hutton. E os demais personagens transitam na mesma linha de atuações. Passaria horas falando, ou no caso escrevendo, de cada um. Até o ruinzinho consegue um momento de atuação que convence e dá o tom necessário.
           É uma série pesada e densa. O que não tira nada a agilidade dos acontecimentos. Porém não espere o estilo policial típico. É um drama. O que mais conta é o desdobramento das situações pelo ponto de vista dos envolvidos. As autoridades na maioria das vezes estão num ângulo que quase os tiram de cena. O que importa aqui é as ações e reações das pessoas comuns emboscadas pelo acaso em uma situação limite que eles mesmos, de uma forma ou de outra, contribuíram em construir. Todos têm sua parcela de culpa nos acontecimentos. Nada é isolado.

         Atuação, roteiro e produção são ótimos. Pode não ser uma série badalada e famosinha. Para quem gosta do gênero não pode perder essa maravilha.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Esquadrão suicida: Heróis, Vilões e Preguiça

Esquadrão suicida: Heróis, Vilões e Preguiça





        Não vou perder muito tempo sobre o que falar desse filme. Ele é phodástico! Vale cada centavo gasto na bilheteria e cumpre o que promete. Os personagens são, na medida do possível, “fiéis” ao universo dos quadrinhos. E temos participações especiais fantásticas com coadjuvantes de luxo. Se bem que todos são coadjuvantes. Não há um principal, não há um mais ou menos fundamental.

Até há, mas são mortos no meio do caminho ou quase. E como as músicas são bem usadas nas apresentações de cada personagem para dar o impacto sobre sua personalidade. O começo é muito legal por isso.



        O que me instiga a ver esses filmes é não ser um fã/consumidor de quadrinhos. Conheço o básico e necessário sobre vários personagens. Porém não compro as HQ há pelo menos uns 28 anos. Os meus primeiros e últimos HQs que comprei foi com suado dinheirinho de criança. Fui até a banca e fiquei horas e horas escolhendo bem e, para fugir da Turma da Mônica, acabei comprando dois gibis dos X-Men. E ao chegar em casa a frustração me consumiu. Percebi que os dois eram continuação de uma história maior que parecia estar no meio, tinha perdido os números anteriores e ainda teria que comprar inúmeros exemplares posteriores. E a partir dali eu nunca mais comprei os gringos e me mantive fiel até meus quinze anos aos pequerruchos do Maurício de Sousa. Como eu gostava do Almanacão de Férias...


        Tudo que soube depois sobre os heróis da Marvel e DC foi através de desenhos que passavam na televisão. E como alguém “de fora do meio” eu percebi que o universo dos heróis era absurdamente enorme. E começou a ser tudo reformulado, em determinado momento, e a se criar arcos de histórias que dariam maiores possibilidades de sair de uma característica específica de algum personagem. Justificando assim um retorno em outro momento de fulano ou sicrano. Com o tempo o universo desses personagens ficou imenso, intrincado e truncado. Um personagem que tinha aparecido em 1961 volta triunfante e ululante em uma revistinha em 1997. Um vilão que foi morto e sepultado era remasterizado e aparecia lá na página 10 da edição de número 134 sem nenhuma explicação plausível. Vi, ou melhor, fiquei sabendo que o Batman, de fresco e gay que era nos anos de 1960, se tornou denso e sombrio. Teve a coluna quebrada. Passou a bola para o namoradinho. 
“Adotou” vários Robins na sua vida. Aprendi que o Super-homem era invencível até ele ser morto e reviver em três distintos seres, um deles um enorme ciborgue. Descobri que o super-cão não apareceria em lugar nenhum a não ser em um desenho antigo do Superboy. E que a Supergirl surge sei lá de onde e some sei lá por qual motivo. Isso sem contar o universo do Flash, do Aquaman, dos X-Mens, do Homem-Aranha, dos Smurfs e do “Jiraya a quatro”. Enfim. Tudo isso me deu uma preguiça, uma preguiça que me fez não ligar mais para esse universo das HQs. Só ficava com os desenhos de vez em quando.

     
   “Mas”, até começo um parágrafo novo com uma conjunção adversativa para dar uma ênfase toda especial e dramática à minha contrariedade, começaram a fazer as “adaptações” para o cinema que “deram” certo, ou não. Sem levar em consideração a opinião de fãs xiitas, as adaptações foram até que bem-intencionadas e satisfatórias. Enquanto as histórias mantinham a fórmula HxV=L+FF, onde H=herói, V = vilão, L = luta e FF = final feliz estava tudo bem. Histórias relativamente simples. Porém a simplicidade não se sustenta num universo que se acrescenta sempre mais heróis e vilões e outros membros. E com “Os Vingadores” a necessidade de elaborar mais os roteiros se tornou necessário. E a simplicidade se foi. Com muitos personagens no mesmo filme para atrair fãs as histórias  foi necessário deixar de lado recursos mais simplórios e aprofundar outros pontos. Para ajudar, uma batalha de direitos autorais encarece a produção e faz o filme não ter alguns personagens e transformar coadjuvantes em principais para não estourar o orçamento. Sem contar as séries derivadas dos heróis da primeira elite.
E volta a preguiça que tinha com as revistinhas. Os filmes e séries estão se complicando. Por mais que os filmes tentem colocar uma história fechada na tela, essa dá margem para outra, que se conecta com outra que está complementando mais outra. Veja só, antes de “Os Vingadores” foi necessário fazer “Capitão América”, “Homem de Ferro”, “Thor”, “Homem-Formiga” e tentativas frustradas de “Hulk”, sem contar Homem-Aranha, e só aí então foram para “Os Vingadores”. O Mesmo está se formando para um futuro “Liga da Justiça”. E o que dizer das séries “Jessica Jones”, “Demolidor”, “Luke Cage”, “Smallvile”, “Gotham”, “The Flash”, “Agentes da S.H.I.L.D.”, “Arrow”, “Agente Carter”, Supergirl e etc?



        Dá para ver o tanto de subprodutos que se forma para tentar dar cabo desse universo de heróis e vilões. Aí chegamos a “Esquadrão Suicida”. Que usa de vilões coadjuvantes para formar uma “liga” improvável para salvar o mundo.




        Toda essa complexidade pode dar um ar de sofisticação ao filme e até ajuda na diversão e ao mesmo tempo gera uma grande sensação daquela preguiça já citada. Espero que os produtores identifiquem isso e consigam transformar esse universo em algo mais "fácil".