quinta-feira, 24 de março de 2016

O Regresso: Sofrimento

O Regresso: Sofrimento 






         Ahhhhh semana santa de 2016. Paz, amor, equilíbrio. Tudo conspirando para um momento de transcendência... Não fosse o caos político que se instaurou no país. E para ajudar, além desse caos, ando com um monte de situações que me tomam tempo e energia, não chegam a ser um outro caos, mas me atrasou muito com minhas resenhas. Tanto que essa de “O Regresso” já deveria ter saído. E minha fila de filmes cresceu absurdamente.

         Mimimis colocados, volto ao assunto.



         Bom, quem acompanhou um pouco minhas últimas resenhas percebeu que andei um pouco desgostoso com os Oscar. Chegando até “fazer a egípcia” durante a premiação. Por vários motivos achei que deveria boicotar, como se eu fosse alguém de importância ímpar. Por isso assisti poucos filmes que concorriam.



          E “O Regresso” é um desses. Nos quesitos técnicos é impecável. Fotografia idem. Porém o que me causa um pouco de aborrecimento é que o diretor, Alejandro González Iñárritu, tem uma predisposição a nos mostrar um sofrimento "incômodo" nas telas. Desde “Amores Brutos” de 2000, primeiro filme seu que assisti, que ele me causa uma certa repulsa. Porém não tenho como não reconhecer sua habilidade. Esse asco pelo sofrimento, que vi de novo em “21 Gramas” (2003), me fez não querer assistir “Babel” (2006) nem “Biutiful” (2010). Porém quatro anos depois assisti um instigante “Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância” que me fez rever um pouco os meus conceitos a seu respeito. E então, veio “O Regresso”.

         A história em si é simples. Uma vendeta, nada mais simples que isso. O que a torna diferente é ser baseado em fatos reais, muito romanceado por sinal, e ser no passado “selvagem” dos EUA ainda cheio de índios e com uma fauna indomada. É interessante notar o tratamento dado aos indígenas, pena que nenhum recebeu indicação ao Oscar, nem negros, nem orientais, e a única mulher transgênero, Anohni, indicada pela música “Manta Rey”, foi vetada de participar... O motivo???? O de sempre, não é comercial!!!! Aí colocaram o Dave Grohl...

         Além de tudo temos no filme o Leonardo DiCaprio fazendo o personagem principal, Hugh Glass, que literalmente volta de baixo da terra para consumar sua vingança contra o personagem de Tom Hardy, como John Fitzgerald, um homem que para lucrar passa por cima de qualquer um.

Definitivamente DiCaprio cresceu muito como ator desde que o vi pela primeira vez em “Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador” (1993) filme que deu sua primeira indicação ao Oscar, como coadjuvante no ano seguinte e contava com seus 20 anos. De lá para cá foram mais 3 indicações como ator principal, fora outras premiações. Contudo esbarrava sempre em interpretações melhores que a dele: Jamie Foxx por “Ray” (2005), Forrest Whitaker por “O Último Rei da Escócia” (2007), Matthew McConaughey por “Clube de Compras Dalla” (2014). O irônico é que o melhor papel que ele fez foi de coadjuvante em “Gilbert Grape”, fazia o irmão com autismo do personagem título. Vindo em seguida o emblemático “Diamante de Sangue” e, novamente de forma bem particular, achei que ele estava até melhor em “Titanic” do que em “O Regresso”. Mas, esse era seu ano. E essa foi uma das outras decepções do Oscar, perceber que nem sempre quem merece ganha. Não que não haja ganhadores que realmente mereceram e não que o Leonardo não mereça um prêmio. Com esse filme não. Só isso.


         Particularmente Tom Hardy brilhou mais no filme dando consistência a história. Sua interpretação tinha mais falas, a de Leonardo por um bom tempo não emitia sequer um “ai” em tela. A construção do personagem de Hardy foi bem mais instigante dando uma merecida indicação a coadjuvante.


         E agora, apesar de várias partes interessantes, o que sintetiza a grandiosidade do filme, mesmo eu não gostando desse sofrimento retratado que o Iñárrito tanto gosta, é o ataque da ursa ao personagem Glass. É de uma brutalidade ímpar, com uma força que mostra a ferocidade de um animal acuado por um suposto perigo aos seus filhotes. O urso é um dos animais mais temidos da fauna americana, e esse filme fez jus a essa fama.
Acostumado com Ursinhos Carinhosos, Zé Colmeia e Catatau, Balú, Ted e Po podemos esquecer que esses animais simpáticos podem manifestar o lado mais destruidor e mortal da natureza. E o filme mostra isso de forma crua. Sentimos as garras penetrando a carne de Glass, sofremos com ele e tentamos viver com ele. Como disse não é o tipo de filme que me agrada, mas essa cena vale mais que o restante que passa na tela.




         E, finalizando, acho bem simbólico Iñárrito ganhar como melhor Diretor pelo segundo ano consecutivo. Um dos candidatos à presidência dos EUA desse ano tem como motivação a “caça” os latinos e Iñárrito é latino. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário