O Regresso: Sofrimento
Ahhhhh
semana santa de 2016. Paz, amor, equilíbrio. Tudo conspirando para um momento
de transcendência... Não fosse o caos político que se instaurou no país. E para
ajudar, além desse caos, ando com um monte de situações que me tomam tempo e
energia, não chegam a ser um outro caos, mas me atrasou muito com minhas
resenhas. Tanto que essa de “O Regresso” já deveria ter saído. E minha fila de
filmes cresceu absurdamente.
Mimimis
colocados, volto ao assunto.
Bom,
quem acompanhou um pouco minhas últimas resenhas percebeu que andei um pouco
desgostoso com os Oscar. Chegando até “fazer a egípcia” durante a premiação.
Por vários motivos achei que deveria boicotar, como se eu fosse alguém de importância
ímpar. Por isso assisti poucos filmes que concorriam.
E “O Regresso” é um desses. Nos quesitos
técnicos é impecável. Fotografia idem. Porém o que me causa um pouco de
aborrecimento é que o diretor, Alejandro González Iñárritu, tem uma
predisposição a nos mostrar um sofrimento "incômodo" nas telas. Desde “Amores
Brutos” de 2000, primeiro filme seu que assisti, que ele me causa uma certa
repulsa. Porém não tenho como não reconhecer sua habilidade. Esse asco pelo
sofrimento, que vi de novo em “21 Gramas” (2003), me fez não querer assistir
“Babel” (2006) nem “Biutiful” (2010). Porém quatro anos depois assisti um
instigante “Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância” que me fez rever um
pouco os meus conceitos a seu respeito. E então, veio “O Regresso”.
A
história em si é simples. Uma vendeta, nada mais simples que isso. O que a
torna diferente é ser baseado em fatos reais, muito romanceado por sinal, e ser
no passado “selvagem” dos EUA ainda cheio de índios e com uma fauna indomada. É
interessante notar o tratamento dado aos indígenas, pena que nenhum recebeu
indicação ao Oscar, nem negros, nem orientais, e a única mulher transgênero,
Anohni, indicada pela música “Manta Rey”, foi vetada de participar... O motivo????
O de sempre, não é comercial!!!! Aí colocaram o Dave Grohl...
Além
de tudo temos no filme o Leonardo DiCaprio fazendo o personagem principal, Hugh
Glass, que literalmente volta de baixo da terra para consumar sua vingança
contra o personagem de Tom Hardy, como John Fitzgerald, um homem que para lucrar
passa por cima de qualquer um.
Definitivamente
DiCaprio cresceu muito como ator desde que o vi pela primeira vez em “Gilbert
Grape - Aprendiz de Sonhador” (1993) filme que deu sua primeira indicação ao
Oscar, como coadjuvante no ano seguinte e contava com seus 20 anos. De lá para
cá foram mais 3 indicações como ator principal, fora outras premiações. Contudo
esbarrava sempre em interpretações melhores que a dele: Jamie Foxx por “Ray”
(2005), Forrest Whitaker por “O Último Rei da Escócia” (2007), Matthew
McConaughey por “Clube de Compras Dalla” (2014). O irônico é que o melhor papel
que ele fez foi de coadjuvante em “Gilbert Grape”, fazia o irmão com autismo do
personagem título. Vindo em seguida o emblemático “Diamante de Sangue” e,
novamente de forma bem particular, achei que ele estava até melhor em “Titanic”
do que em “O Regresso”. Mas, esse era seu ano. E essa foi uma das outras
decepções do Oscar, perceber que nem sempre quem merece ganha. Não que não haja
ganhadores que realmente mereceram e não que o Leonardo não mereça um prêmio.
Com esse filme não. Só isso.
Particularmente
Tom Hardy brilhou mais no filme dando consistência a história. Sua
interpretação tinha mais falas, a de Leonardo por um bom tempo não emitia
sequer um “ai” em tela. A construção do personagem de Hardy foi bem mais
instigante dando uma merecida indicação a coadjuvante.
E
agora, apesar de várias partes interessantes, o que sintetiza a grandiosidade
do filme, mesmo eu não gostando desse sofrimento retratado que o Iñárrito tanto
gosta, é o ataque da ursa ao personagem Glass. É de uma brutalidade ímpar, com uma
força que mostra a ferocidade de um animal acuado por um suposto perigo aos
seus filhotes. O urso é um dos animais mais temidos da fauna americana, e esse
filme fez jus a essa fama.
Acostumado com Ursinhos Carinhosos, Zé Colmeia e
Catatau, Balú, Ted e Po podemos esquecer que esses animais simpáticos podem
manifestar o lado mais destruidor e mortal da natureza. E o filme mostra isso
de forma crua. Sentimos as garras penetrando a carne de Glass, sofremos com ele
e tentamos viver com ele. Como disse não é o tipo de filme que me agrada, mas
essa cena vale mais que o restante que passa na tela.
E,
finalizando, acho bem simbólico Iñárrito ganhar como melhor Diretor pelo
segundo ano consecutivo. Um dos candidatos à presidência dos EUA desse ano tem
como motivação a “caça” os latinos e Iñárrito é latino.
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