quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Trumbo: Lista Negra - Filme de Atuação

Trumbo: Lista Negra – Filme de Atuação




         Dalton Trumbo foi um grande roteirista. Entre suas obras a mais conhecida está “A Princesa e o Plebeu” com a adorável Audrey Hepburn e o carismático Gregory Peck de 1953. O interessante foi que, por sua história, ele não pode assumir a autoria da obra nesta época.


Trumbo (Bryan Cranston) é comunista nos EUA bem na época que começa a “briga” com a União Soviética, que se estenderia por longas décadas. Participava de reuniões em casa de amigos famosos e quando o medo se instalou entre os políticos e o povo americano, um medo anticomunista idiota, foi perseguido pelo governo. O então formado Comitê de Atividades Antiamericanas acaba, por denúncia, chamando-o para depor sobre suas reuniões suspeitas, com mais nove amigos, todos roteiristas. Como se recusou a responder as perguntas capciosas dos políticos, Trumbo foi julgado e preso e o Governo, com a ajuda de um grupo de atores, produtores e jornalistas de Hollywood, teve a carreira boicotada. Supostamente ele e seus companheiros não poderiam trabalhar como roteiristas. Entre os membros do grupo, ligado diretamente ao “Comitê de Atividades Antiamericanas”, estava a comentarista maliciosa, que derrubava ou elevava carreiras com sua língua ferina, Hedda Hopper (Helen Mirren). Trumbo mesmo com o boicote consegue trabalhar usando pseudônimos e até mesmo um amigo para colocar o nome em um de seus roteiros. Por anos ficou nesse limbo trabalhando para Frank (John Goodman) e Rhymie (Stephen Root) King, produtores de filmes de baixo orçamento. Tudo imposto pelos americanos cristãos de bem que zelavam pelo país e almejavam elevar a moral e os bons costumes. O interessante é ver que pessoas renomadas, como John Wayne (David James Elliott) entre outros,  foram tão imbecis e equivocados por causa de uma ideologia de direita totalmente equivocada. O problema aqui não foi ser de direita, o problema foi, como consta no discurso que Trumbo fez ao ser homenageado pela Associação de Roteiristas,  destruir famílias e pessoas que eram boas e não mereciam o julgamento e condenação por terem opiniões diferentes da maioria.
E o mais interessante, que nesse meio tempo, que estava impedido de trabalhar, ele conseguiu angariar dois Oscars de Melhor Roteiro, pelo filme já citado “A Princesa e o Plebeu” e por “Arenas Sangrentas”. Ou seja, o “Comitê” era tão incompetente que não conseguiu impedir Trumbo de fazer o que estava proibido pelo Governo, era um desperdício de dinheiro público. Com o tempo, Trumbo consegue dar a volta por cima com três ajudas inusitadas: Kirk Douglas (Dean O’Gorman) que o contrata para refazer o roteiro de “Spartacus”, grande sucesso; Otto Preminger (Christian Berkel) que, incentivado por Kirk, também o contrata para adaptar um livro para o cinema; e por fim, a inusitada e involuntária opinião favorável ao filme “Spartacus” do então presidente americano John F. Kennedy que simplesmente acaba por desarmar a língua de Hedda, afinal, ela não poderia se contrapor ao parecer do presidente.

         “Trumbo” é um filme de atuações. Bryan Cranston, que faz o papel título, para quem não conhece, fez o sucesso televisivo “Breaking Bad”. E como dava um show de atuação lá, ele consegue aqui também. Como a maledicente Hedda, Helen Mirren dá o tom ideal a uma cobra venenosa. E todo o elenco de apoio tem seus momentos. Até Diane Lane, que faz a esposa, “apagada” de Trumbo, consegue se mostrar da forma adequada ao papel. Elle Fanning vai se firmando em sua carreira e uma surpresa é Louis C. K. que faz o amigo, roteirista e jornalista com câncer Arlen Hird. Louis é um pouco desconhecido no Brasil, possui séries e é comediante por lá.

         Enfim, todas as indicações de “Trumbo: Lista Negra” são merecidas. Porém, como já comentei em algum momento em outras resenhas, desacreditei desse prêmio por vários motivos. Torcerei por esse filme, mas sei que é complicado quando algumas cartas estão marcadas.


         Não espere um filme ágil e cheio de reviravoltas. É um filme estilo “biografia” de um tempo sombrio de Hollywood, marcado pela histeria macarthista e intolerância política. Para nós uma grande fonte de reflexão em tempos de Brasil cheio de uma “militância política” de Facebook. 

Abaixo o verdadeiro Trumbo trabalhando na banheira editando seus textos.


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