Trumbo: Lista Negra – Filme de Atuação
Dalton
Trumbo foi um grande roteirista. Entre suas obras a mais conhecida está “A
Princesa e o Plebeu” com a adorável Audrey Hepburn e o carismático Gregory Peck
de 1953. O interessante foi que, por sua história, ele não pode assumir a
autoria da obra nesta época.
Trumbo
(Bryan Cranston) é comunista nos EUA bem na época que começa a “briga” com a
União Soviética, que se estenderia por longas décadas. Participava de reuniões
em casa de amigos famosos e quando o medo se instalou entre os políticos e o
povo americano, um medo anticomunista idiota, foi perseguido pelo governo. O
então formado Comitê de Atividades Antiamericanas acaba, por denúncia, chamando-o
para depor sobre suas reuniões suspeitas, com mais nove amigos, todos
roteiristas. Como se recusou a responder as perguntas capciosas dos políticos,
Trumbo foi julgado e preso e o Governo, com a ajuda de um grupo de atores,
produtores e jornalistas de Hollywood, teve a carreira boicotada. Supostamente
ele e seus companheiros não poderiam trabalhar como roteiristas. Entre os
membros do grupo, ligado diretamente ao “Comitê de Atividades Antiamericanas”,
estava a comentarista maliciosa, que derrubava ou elevava carreiras com sua
língua ferina, Hedda Hopper (Helen Mirren). Trumbo mesmo com o boicote consegue
trabalhar usando pseudônimos e até mesmo um amigo para colocar o nome em um de
seus roteiros. Por anos ficou nesse limbo trabalhando para Frank (John Goodman)
e Rhymie (Stephen Root) King, produtores de filmes de baixo orçamento. Tudo imposto
pelos americanos cristãos de bem que zelavam pelo país e almejavam elevar a
moral e os bons costumes. O interessante é ver que pessoas renomadas, como John
Wayne (David James Elliott) entre outros, foram tão imbecis e equivocados por causa de
uma ideologia de direita totalmente equivocada. O problema aqui não foi ser de
direita, o problema foi, como consta no discurso que Trumbo fez ao ser
homenageado pela Associação de Roteiristas, destruir famílias e pessoas que eram boas e
não mereciam o julgamento e condenação por terem opiniões diferentes da
maioria.
E o mais interessante, que nesse meio tempo, que estava impedido de
trabalhar, ele conseguiu angariar dois Oscars de Melhor Roteiro, pelo filme já
citado “A Princesa e o Plebeu” e por “Arenas Sangrentas”. Ou seja, o “Comitê”
era tão incompetente que não conseguiu impedir Trumbo de fazer o que estava proibido
pelo Governo, era um desperdício de dinheiro público. Com o tempo, Trumbo consegue
dar a volta por cima com três ajudas inusitadas: Kirk Douglas (Dean O’Gorman)
que o contrata para refazer o roteiro de “Spartacus”, grande sucesso; Otto
Preminger (Christian Berkel) que, incentivado por Kirk, também o contrata para
adaptar um livro para o cinema; e por fim, a inusitada e involuntária opinião
favorável ao filme “Spartacus” do então presidente americano John F. Kennedy
que simplesmente acaba por desarmar a língua de Hedda, afinal, ela não poderia
se contrapor ao parecer do presidente.
“Trumbo”
é um filme de atuações. Bryan Cranston, que faz o papel título, para quem não
conhece, fez o sucesso televisivo “Breaking Bad”. E como dava um show de
atuação lá, ele consegue aqui também. Como a maledicente Hedda, Helen Mirren dá
o tom ideal a uma cobra venenosa. E todo o elenco de apoio tem seus momentos.
Até Diane Lane, que faz a esposa, “apagada” de Trumbo, consegue se mostrar da
forma adequada ao papel. Elle Fanning vai se firmando em sua carreira e uma
surpresa é Louis C. K. que faz o amigo, roteirista e jornalista com câncer
Arlen Hird. Louis é um pouco desconhecido no Brasil, possui séries e é
comediante por lá.
Enfim,
todas as indicações de “Trumbo: Lista Negra” são merecidas. Porém, como já
comentei em algum momento em outras resenhas, desacreditei desse prêmio por
vários motivos. Torcerei por esse filme, mas sei que é complicado quando
algumas cartas estão marcadas.
Não
espere um filme ágil e cheio de reviravoltas. É um filme estilo “biografia” de
um tempo sombrio de Hollywood, marcado pela histeria macarthista e intolerância
política. Para nós uma grande fonte de reflexão em tempos de Brasil cheio de
uma “militância política” de Facebook.
Abaixo o verdadeiro Trumbo trabalhando na banheira editando seus textos.
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