Sr. Holmes - Velhice, Decrepitude e Esperança
“Sr.
Holmes” foi um filme que acabou passando despercebido pelos grandes lançamentos
anabolizados da temporada. Porém, acabei me deliciando com ele. É um filme de
atuação e com uma história interessante.
Aqui vemos um grande personagem da literatura, que Sherlock Holmes, o grande detetive, está vivendo sua velhice na solidão e amargura. Tentando se lembrar de seu último caso que o fez se aposentar. Porém, todo o brilhantismo e toda lógica sucumbe diante da inefável passagem do tempo que leva consigo as memórias do velho homem. A luta desesperada de Holmes é de resgatar suas lembranças do limbo que seus neurônios criaram em seu cérebro. Para tanto ele vai virar assíduo consumidor de geleia real e de uma planta japonesa milagrosa. Porém a devastação da velhice é implacável. Nenhum elixir pode ajudá-lo e essa falta da lembrança o tortura. Ele precisa recordar para poder entender o motivo de sua aposentadoria e culpa.
Morando
em uma casa de campo ele se vê cercado pela infantil presença do garoto Roger (Milo
Parker), filho de sua governanta. E toda essa amizade se forma através de um
apiário que o detetive aposentado cultiva. E o inusitado, para a mentalidade
contemporânea, começa a acontecer. Estimulado pela curiosidade e vigor pueril
do garoto, Holmes vai exercitando suas capacidades mentais a tal ponto de
recordar-se de tudo o que é necessário para poder colocar um ponto final naquele
caso.
A
história em si não é das mais fantásticas e mirabolantes, mas tem o seu charme
compensatório. E como um roteiro bem escrito, e bem executado por um bom diretor,
Bill Condon, faz adiferença. Para o velho Holmes foi escolhido o ator Ian
McKellen que convive com sua governanta, Sra Munro, viúva e desgostosa com o
apego que o filho demonstra pelo patrão, a ótima Laura Linney. Ambos estão
ótimos. É de angustiar ver um detetive, que sempre foi retratado com muito
vigor, sucumbido aos nefastos efeitos da terceira idade.
Antes,
sempre interpretado como um homem de lógica irrefutável, capaz de deduzir os
fatos mais verdadeiros a respeito dos outros, quase um deus idolatrado pela
humanidade através das histórias que Watson escrevia a seu respeito. E agora um
senhor, frágil, que luta com as poucas forças que lhe resta para recordar de
algo que julga ser importante. E essa fraqueza se desdobra em erros passados
que um “deus” jamais deveria cometer.
“Sr. Holmes”
é um filme sensível, que apesar da velhice e decrepitude encenada, mostra um
grande senso de esperança e amor à vida. Um filme que celebra um grande
personagem de nossa literatura dando-lhe não o fim, mas a dignidade uma
história que resgata seu espírito ao mesmo tempo que a atualiza. Pode não ser
um “recomeço” para lançar franquias infinitas de cunho comercial, mas é uma
homenagem bonita ao detetive que Sir Arthur Conan Doyle compôs há mais de 120
anos. E muito melhor que os últimos filmes baseados em suas histórias.
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