sábado, 5 de dezembro de 2015

Sr. Holmes - Velhice, Decrepitude e Esperança

Sr. Holmes - Velhice, Decrepitude e Esperança




“Sr. Holmes” foi um filme que acabou passando despercebido pelos grandes lançamentos anabolizados da temporada. Porém, acabei me deliciando com ele. É um filme de atuação e com uma história interessante.


Aqui vemos um grande personagem da literatura,  que Sherlock Holmes, o grande detetive, está vivendo sua velhice na solidão e amargura. Tentando se lembrar de seu último caso que o fez se aposentar. Porém, todo o brilhantismo e toda lógica sucumbe diante da inefável passagem do tempo que leva consigo as memórias do velho homem. A luta desesperada de Holmes é de resgatar suas lembranças do limbo que seus neurônios criaram em seu cérebro.  Para tanto ele vai virar assíduo consumidor de geleia real e de uma planta japonesa milagrosa. Porém a devastação da velhice é implacável. Nenhum elixir pode ajudá-lo e essa falta da lembrança o tortura. Ele precisa recordar para poder entender o motivo de sua aposentadoria e culpa.

Morando em uma casa de campo ele se vê cercado pela infantil presença do garoto Roger (Milo Parker), filho de sua governanta. E toda essa amizade se forma através de um apiário que o detetive aposentado cultiva. E o inusitado, para a mentalidade contemporânea, começa a acontecer. Estimulado pela curiosidade e vigor pueril do garoto, Holmes vai exercitando suas capacidades mentais a tal ponto de recordar-se de tudo o que é necessário para poder colocar um ponto final naquele caso.

A história em si não é das mais fantásticas e mirabolantes, mas tem o seu charme compensatório. E como um roteiro bem escrito, e bem executado por um bom diretor, Bill Condon, faz adiferença. Para o velho Holmes foi escolhido o ator Ian McKellen que convive com sua governanta, Sra Munro, viúva e desgostosa com o apego que o filho demonstra pelo patrão, a ótima Laura Linney. Ambos estão ótimos. É de angustiar ver um detetive, que sempre foi retratado com muito vigor, sucumbido aos nefastos efeitos da terceira idade.

Antes, sempre interpretado como um homem de lógica irrefutável, capaz de deduzir os fatos mais verdadeiros a respeito dos outros, quase um deus idolatrado pela humanidade através das histórias que Watson escrevia a seu respeito. E agora um senhor, frágil, que luta com as poucas forças que lhe resta para recordar de algo que julga ser importante. E essa fraqueza se desdobra em erros passados que um “deus” jamais deveria cometer.


“Sr. Holmes” é um filme sensível, que apesar da velhice e decrepitude encenada, mostra um grande senso de esperança e amor à vida. Um filme que celebra um grande personagem de nossa literatura dando-lhe não o fim, mas a dignidade uma história que resgata seu espírito ao mesmo tempo que a atualiza. Pode não ser um “recomeço” para lançar franquias infinitas de cunho comercial, mas é uma homenagem bonita ao detetive que Sir Arthur Conan Doyle compôs há mais de 120 anos. E muito melhor que os últimos filmes baseados em suas histórias. 

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