quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Memórias de Minhas Putas Tristes: Título quase misógino

Memória de Minhas Putas Tristes: Título quase misógino





                Apesar da preguiça, a que comentei no post anterior, eu me considero um leitor assíduo. Leio histórias que me agradam, os “Best Sellers”. Gosto muito de Stephan King, Anne Rice, Agatha Christie, Edgar Alan Poe. Envergo de vez em quando em algum clássico como o Decamerão de Boccaccio. Porém a leitura tem sempre que ser prazerosa. Por conta das faculdades que fiz, andei lendo muita teoria então eu pego livros que “não precisem pensar muito”. Adoro literatura infanto-juvenil, tanto que devorei Harry Potter, li e reli até perder as contas. Estou com livros de contos de horror de vários autores e até algumas crônicas brasileiras ando lendo. Do tempo da escola possuo o ranço de “não gostar” de literatura brasileira. Mero preconceito, pois, recentemente li Dom Casmurro, Helena, Triste fim de Policarpo Quaresma, A Relíquia e gostei muito.


                Admito que tenho o pé atrás com os livros considerados “eruditos” ou de “qualidade literária”. Ainda não li Saramago, não li Mario Vargas Llosa, não li Dostoievski, não li Tolstói, não li Alexandre Dumas. Em contrapartida li Jules Verne, Milan Kundera, Henry Miller, Hermann Hesse, Franz Kafka entre outros que me fogem da memória.


            Tudo isso para tentar mostrar o quão inusitado, ou não, foi uma escolha de leitura que veio mais do descaramento do título: Memória de Minhas Putas Tristes. Um título quase misógino de Gabriel Garcia Márquez. Digo quase pois é apenas uma provocação. Não há “putas tristes” no livro. Há um homem, de idade avançada, que viveu uma vida medíocre, sem amor, sem casar, que se aliviava em puteiros e na derrocada da vida se vê apaixonado e tão incapaz de lidar com a situação quanto um adolescente. É quase repugnante a trajetória do velho escritor de alma tão árida quanto os papéis onde escreve suas crônicas para o jornal local. Com 90 anos decide se presentear com um sopro de juventude, quer uma noite de amor com uma adolescente virgem. E toda a preparação ronda seus apontamentos sobre a expectativa e um pouco da sua vida até aquele momento. Porém o peso da solidão desse homem, já idoso e equivocado em suas escolhas, é tamanha que não dá para odiar essa figura. Ele é humano, errou muito em sua vida, principalmente por suas não escolhas, porém está tão desamparado quanto qualquer pessoa. E se agarra a um sentimento que traz vida para ele: a paixão. Se sentir é viver, esse idoso estava morto até essa noite que vai tentar deflorar a jovem que se prostitui.


            Porém, o que mais me encantou neste livro não foi o enredo, que é simples, foi o estilo desenvolvido por Gabriel Garcia Márquez. Direto e de fácil “degustação” é um primor de simplicidade, elegância e maestria. Li que nem percebi as 127 páginas desta edição. E senti uma pitada de um autor que li há muito tempo, uma pitada dos livros adultos de Marcos Rey. Porém Rey foi prisioneiro do jeito tradicional de escrever livros. Aqui, Márquez, inova no fluxo de pensamento parando pouco o ritmo do texto com “dois pontos, na outra linha e travessão”. O texto flui como água em nosso cérebro.


            Pode não ser uma das histórias mais marcantes da literatura mundial. Porém é uma ótima iniciação ao autor colombiano ganhador do Prêmio Nobel de Literatura. Realmente faz querer ler outros textos mais renomados dele.

            

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Pandora e o Orfanato - Comentário de livros

Pandora e o Orfanato - Comentário de livros



                Ando com preguiça de ler. Porém, sei o quanto é importante para ativar os neurônios amortecidos por tantos filmes hollywoodianos. E para entender melhor o que aconteceu tenho que informar que leio vários livros ao mesmo tempo. Alguns eu estou lendo há mais de um, dois, quatro anos. Não sei como isso é possível mas tenho esse costume. Acabo por me enrolar com um enredo ou outro e continuo como dá. O que penso é “se a história for boa eu me lembrarei”. No geral eu tenho uma boa memória.
                A partir desse fato eu explico que há mais de um ano eu comprei “O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares”. Fiquei empolgado com a premissa: em cima de fotos estranhas, verdadeiras e antigas, provindas de coleções, o autor, Ransom Riggs elabora uma história.
                De início, o livro parece ser um terror para adolescentes. O que deixa mais instigante. E logo se percebe que o enredo não se sustenta e muitas coisas ficam forçadas e perde a graça. Um garoto americano, vê o avô sendo assassinado por criaturas que ninguém mais vê. Crente que está sofrendo de problemas psicológicos começa um tratamento que culmina em uma viagem com o pai para uma ilha que fica no litoral da Inglaterra. A ilha era o local de onde misteriosas cartas vinham para o avô. E na ilha ele encontra primeiramente os destroços de um antigo orfanato atingido por uma bomba há uns 60 anos. Desanimando, por não descobrir mais sobre a vida do avô ele tenta se distrair com outras coisas na ilha. E com a ajuda de uma garota misteriosa descobre um portal, uma espécie de dobra temporal que perpetua as horas anteriores ao bombardeio e lá ele vai descobrir os mistérios das crianças peculiares e da Srta. Peregrine. Tudo permeado pelas extravagantes fotos.

                Como disse a premissa é bem interessante. E se perde no meio das primeiras páginas para virar uma espécie de paródia de “X-Men” com seus alunos mutantes do diretor Charles Xavier. Esse livro tem 332 páginas e eu levei mais ou menos um ano e meio para ler inteiro. Começava, parava, continuava com um capítulo, parava... E o tempo passou. Assumo que também coincidiu com o último ano da faculdade. E quando o ritmo de leitura é quebrado, se reanimar é um pouco mais difícil. Principalmente quando a história deixa a desejar.
                E o contraponto que queria levantar é que, em casa, estava dando sopa o livro “Pandora” de Anne Rice. Paquerava sempre, mas não ia mais fundo no “relacionamento”. Já tinha lido outros livros desta escritora e gostei do seu estilo. Sem contar os filmes “Entrevista com o Vampiro” e “A Rainha dos Condenados” baseados em suas obras dos quais eu havia gostado muito.
                Duas semanas atrás eu estava de bobeira e com tédio e estava olhando para meus livros na estante. Meu primeiro impulso foi dar uma olhada num exemplar que contém 3 histórias clássicas em um único volume “Frankenstein” de Mary Shelley,  “Drácula” de Bram Stoker e “O Médico e o Monstro” de Robert Louis Stevenson. Folheei, olhei, li um trecho aqui e ali e já o larguei. Peguei “Pandora” comecei a ler o primeiro capítulo e já me fisgou. Não parei mais até o terminar em 9 dias as 203 páginas. Demorei esse tempo pois entre os afazeres diários eu ficava com pouco tempo para o escrito. A história é a própria Pandora contando como era sua vida de mortal e como acabou conhecendo Marius, que a transformou em vampira, e como se desentendo acabaram por se separarem. São dois personagens que já deram as caras em outras histórias de Rice, porém, sem grandes detalhes de suas vidas.

                Então perceba, um levei mais de 18 meses para finalizar um, outro pouco mais de uma semana. E é assim que percebemos quando um texto é bom: vontade de terminar o livro o mais rápido possível. Sendo um tanto superficial essa comparação eu estou puxando a sardinha descaradamente para Rice. Um livro que promete algo e não cumpre não merece tanta consideração. Não entendi direito o marketing em cima do livro de Riggs, porém é mais evidente que haverá uma continuação e possivelmente uma versão cinematográfica. Já li as especulações a respeito pela internet.

                Entre Rice e Riggs a primeira sai ganhando com sua história neogótica e vampiresca. A cópia de “X-Men” não chega nem perto. Não tem consistência, mesmo para um livro infanto-juvenil. 

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

What Happened, Miss Simone? - Apontamentos após assistir o documentário

What Happened, Miss Simone?- Apontamentos após assistir o documentário





         Meu primeiro contato com Nina Simone foi através do filme “A Assassina” (1993). Além dela fazer parte da trilha sonora era também inspiração para o codinome da assassina vivida por Bridget Fonda: Nina. Gostei do filme, mas gostei mais das migalhas de música de Miss Simone que nos eram lançadas. Era outra época, a internet não tinha chegado ainda aos sertões e rincões do interior do Estado de São Paulo e logo arquivei em minha memória aquela cantora. Passou alguns anos e novo filme me chamou a atenção, não só pela história, mas por uma das músicas que estava em sua trilha sonora. O filme era “Beleza Roubada” (1996) de Bernardo Bertolucci e lá, entre tantas músicas ótimas, Miss Simone com a icônica “My Baby Just Cares For Me”. Como trabalhava numa locadora, que logo começou a vender CDs, tive a oportunidade de escutar várias vezes essa música. O tempo passou e, novamente sem internet, continuei a vida. E esqueci de Miss Simone.

         Porém, toda vez que ensaiava uma lista de cantoras que mais gostava, eu lembrava dessa mulher que eu nem sabia ainda que rosto tinha. Até que um dia, já não morava numa cidadezinha de interior, lembrei-me dessa cantora. Aproveitei a internet, que já possuía com mais facilidade e descobri o rosto da diva. E o mais importante, descobri outras músicas. Fui criando afeto por aquela voz grossa e baixa. E a cada música que ouvia mais eu gostava.


         Existia duas lacunas na minha história com Nina Simone. A primeira era o limite linguístico. Não sabendo inglês não entendia o que ela cantava. Logo, isso foi superado com os sites que davam a música traduzida. E me encantei mais ainda.

         A outra lacuna era a contextualização de sua vida. Sabia pouco sobre ela. Sabia que era uma importante cantora do “circuito” alternativo americano. Sabia que era respeitadíssima, sabia que em algum momento de sua vida se tornara ativista. E, falha total minha, me contentei só com isso. Vez ou outra escutava suas músicas e estava tudo bem.

         Até que ela morreu em 2003 e aquilo me partiu o coração. Como bom católico que era, até rezei em intenção à sua alma. E pesquisei um pouco mais da sua vida.

         E vergonhosamente, só agora, com o documentário do Netflix “What happened, Miss Simone?” que eu me inteirei o suficiente. Para mim a diva cantora era só um ícone de veneração. E a surpresa foi constatar que ela era bem humana. Humana até demais. Com limitações tão constrangedoras como constatações de que ela ainda continuava sendo diva. Não mais a diva idealizada, mas uma diva humana. Com erros e com acertos. Descobri como foi sua infância pobre, como enfrentou o fato de ser negra e sofrer preconceito. Como se iniciou sua genialidade com o piano e depois como, novamente devido ao preconceito, não pode realizar um sonho. Logo descobri como casou, como começou a ser reconhecida e como teve uma filha, como se amorteceu na segurança do sucesso e como tudo isso a sufocou. E como um evento nefasto a colocou no ativismo pelos direitos civis dos negros compondo uma música forte “Mississippi Goddam”. Como ela conheceu pessoas interessantes e caminhou até Selma com eles. Era amiga de Martin Luther King, compôs uma música quando ele foi assassinado. Foi amiga de Malcom X e tantos outros ativistas de sua época. Pagou um preço por sua ousadia política e, renegada pela indústria, desceu ao inferno pessoal. Com a ajuda de amigos se levantou e continuou sendo quem sempre foi, uma diva da música americana, um dos melhores expoentes de sua geração musical.

         E que bonito foi descobrir tudo isso e recordar das músicas percebendo o que havia por trás de cada acorde, de cada verso, de cada refrão. A beleza que sentia em sua voz carregada de uma certa tristeza tomou profundidade após me contextualizar. Fiquei totalmente pasmo com o que realmente era a voz que ouvira pela primeira vez em 1993. Uma profundidade adquirida com a vida, com a alegria, com a tristeza e com a inteligência de uma mulher que ousou pensar, falar e cantar o sofrimento do seu povo e pagou o preço de ser quem foi: Nina Simone.




terça-feira, 11 de agosto de 2015

Pixels - Então...

Pixels - Então...





         Então...
         Sabe quando surge uma ótima ideia e uma pessoa consegue milhões de acessos no Youtube por faze algo inovador e bacana? Aí aparecem os produtores hollywoodianos com milhões de dólares, com tecnologia e roteiristas e tudo o que o dinheiro pode promover querendo usar essa ideia para um grande filme de sucesso incomensurável?


E aí escalam o Adam Sandler para o papel principal.
         Então, é Pixels.




         Tinha tudo para funcionar bem. Há uma onda de nostalgia pairando no ar. Muitos adultos dos 35-40 anos foram criança por volta do ano de 1982-1985 e mantiveram um fascínio pela cultura pop dessa época de tal forma que o povo insinua lamentações no Facebook do tipo “Se você não viveu isso”, postam uma foto de algo tosco da época, e conclui “Você não teve infância”. Uma sentença que atesta a nostalgia de um tempo que passou. Algo que nos faz recordar com um carinho melancólico do passado onde algumas preocupações e complexidades do presente “magicamente” não existiam. Isso em si não é ruim de se ter, o ruim é colocar sua memória nostálgica como única coisa de valor real no universo.


         Voltando ao filme, esse sentimento de saudade de um tempo que não volta mais quando bem aproveitado dá filmes bons. Só fazendo referência à década de 1980 temos o instigante “Super 8” de J.J. Abrams, e a simpática e inteligente animação “Detona Ralph” que por sinal também se utiliza dos games antigos, que surgiram basicamente nesse período, como coadjuvantes e figurantes especiais.

         E Pixels não dá certo. Tudo bem um filme não se levar a sério, é até uma virtude. Já “chutar o balde” é desastroso. Então o roteiro começa promissor, no passado mostrando a veneração que havia por parte dos adolescentes em torno dos jogos de videogames e as disputas entre eles para ver quem era o melhor. Quando volta ao presente, os adultos são estilizados com a mesmice de clichês onde os colocam como meros nerds fracassados. Mesmo que um dos personagens seja o atual presidente dos EUA é inegável sua “manezice”. E só se redimem quando um grupo de alienígenas, fazendo má interpretação de um ato amistoso terráqueo, começa invadir a Terra com personagens do mundo do games feitos de uma espécie de luz sólida. Em certo momento, toda uma equipe de militares treinados não se mostra eficaz na luta contra os inimigos de luz, são inábeis e para salvar o mundo, os sedentários quarentões nerds vão assumir o controle da missão.

         Tudo afunda na vergonha de interpretações previsíveis. Principalmente de Sandler que parece estar no piloto automático desde 1996. Em alguns momentos vislumbramos uma incidência de humor que logo se perde. E não tem como não sentir a nostalgia que tanto falei quando os personagens dos antigos games aparecem.

         Se tirar os atores, se tirar os clichês, se tirar tudo que for forçado demais, então o saldo fica com os efeitos especiais que saltam aos olhos e nos transportam ao passado mais distante; a uma infância perdida ou reencontrada.


         Nem Chris Columbus dirigindo consegue dar força ao filme. Foca nos efeitos especiais que pode ser que se divirta. Pode ser.