A culpa é das estrelas
Simbolicamente a história de Romeu e
Julieta é um lembrete que um amor “adolescente” não vive eternamente. Ele morre
quando o casal vira adulto. Lógico que o ideal, e o que ocorre em muitos casos,
é que ele também amadureça. Mas a arte faz com que os personagens sofram e “morram”
no final. Entre uma adaptação e outra este tema vem sempre à tona.
Esta é uma historinha típica de um casal
com problemas que os separariam. Ao contrário de Romeu e Julieta, que têm a
rivalidade dos seus familiares, os Capuletos e os Montecchios, como agente
dificultador, aqui o grande antagonista do casal é o câncer. Uma doença bem
emblemática em nossa era. Por mais avanços que se tenha na medicina, nem todo câncer
é controlável ou curável com tratamentos. Ele surge ramificando-se de uma
célula que não foi detectada, ou não foi “pega” pela quimioterapia. E o câncer não
afeta apenas o paciente, os familiares ficam arrasados também. Seja pela perda
do ente querido, seja pelo prejuízo arrasador nas economias da família... Caso
não se consiga um tratamento gratuito.
Enfim, aqui temos o casalzinho Hazel
(Shailene Woodley) e Augustus Waters (Ansel Elgort) que possuem o cancro
venenoso do câncer que afetou o pulmão da garota, e fez do rapaz um perneta. Os
dois são lutadores. Tudo no filme faz amenizar seus problemas. Porém ele sempre
está lá. O bom humor de Augustos é tocante. Ele é quase um bobão. Em diversos
momentos esquecemos que ele é apenas uma criança. Sua esperança é tocante e
tocante é o que vai acontecer entre ele e Hazel, o já citado amor adolescente. Em
certo momento o filme toma ares de fantasia, pois há um livro, o preferido da
garota, e surge a oportunidade de conhecer o autor, que mora na Holanda. E lá
vão eles para o mundo dos sonhos em um passeio. Porém a realidade se mostra um
pouco realista demais e surge a decepção com o escritor. Personagem esse vivido
por Willem Dafoe que continua estranho com seu rosto esquisito e com sua
atuação que não consigo classificar nem como ruim. O casal de protagonistas têm
uma boa presença na tela e uma atuação muito competente. Soam muito naturais. E
o amigo de Augustus, que possui câncer nos olhos e em determinado momento fica
cego, pois tira o único olho que tinha restado, causa alguns momentos de risos,
ingênuos, mas válidos. Vivido por Nat Wolff, Isaac é um contra ponto ao casal.
Outra deliciosa presença no filme é Laura
Dern que faz mãe de Hazel. Sua interpretação é um refresco diante de um tema
pesado como este. É uma mãe sofredora, sem as frescuras do gênero. Outra presença
bem interessante é Lotte Verbeek que faz a assistente do escritor amargo do
Dafoe, Lidewij. Ela leva o casal para um passeio por Amsterdã. Achei estranha a
escolha de se visitar a casa de Anne Frank, principalmente por uma voz
fantasmagórica ficar recitando o tempo todo trechos de seu diário dando uma
ponte entre a vida da pequena judia morta no campo de concentração nazista e a
jovem americana que também sofre em um campo de concentração pessoal.
O filme é baseado na obra de John Green,
que não li, mas dá vontade de ler. Houve sim um chororô no cinema. E eu por
motivos particulares, que não convém citar aqui, não senti nem uma lágrima
escorrendo. Para falar a verdade fiquei até irritado. A culpa não foi do filme
em si, e sim do que já escrevi: motivos particulares. Li em várias sinopses que
o filme não era piegas. Não, ele é piegas... Não exageradamente a ponto de
causar vergonha de estar assistindo aquilo. É um filme bem bonitinho e
gostosinho, se não tiverem “motivos particulares” que também os irritem. Não vá
esperando um típico “happy end”, lembrem-se: é a história de duas pessoas com
uma doença que nem sempre tem cura. Porém não é um final que causa um nó na
garganta nem vontade de cortar os pulsos no banheiro do cinema. Vale assistir
até o fim. Vale o preço absurdo que os cinemas estão cobrando por um ingresso. Vale
até você estar com alguém especial do lado para sentir umas fungadas de emoção
no seu ombro nos momentos mais críticos... Fica a dica!!!!
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