Trapaça - Cuidado para não cair em uma
Eu não escolheria
assistir esse filme meramente pela sinopse. Confesso que só assisti por estar
indicado ao Oscar. E num primeiro momento, eu pensei: “Que pohah chata!”.
Com uma hora de filme
eu parei, respirei, tomei uma água, fui resolver umas coisas da vida. Quando voltei
a assistir, já com a cabeça mais tranquila, vi o que fez esse filme brilhar. E como
brilha. Há uma constelação no elenco.
Eu também não tinha
entendido o motivo de um filme desses concorrer como comédia no Globo de Ouro. Por certo
está todo permeado de uma fina ironia. Mas não dá para rir no filme. É quase um
pastelão, no sentido que o tempo todo parece um embuste. Não se enganem, eu
quase caí nessa. É um filme dramaticamente moldado na ironia, na sutileza, no “todos
contra todos”. Então se os americanos acham isso uma comédia, então é uma
comédia. O roteiro é intrincado. Há muitos personagens fortes. E há uma
complexidade em alguns personagens que pode passar desapercebida. Apesar de
certas coisas parecerem óbvias já no começo.
Vamos pelos atores: Christian
Bale, novamente irreconhecível, com barriga eu careca que esconde comicamente, faz um elaborado exercício de atuação com seu trambiqueiro safado, com
esposa e amante, Irving Rosenfeld. Vive em uma corda bamba que justifica seus
comprimidos para o coração. Está ótimo e também está ótima sua parceira de
trambiques Amy Adams em um papel bem atípico em sua carreira, Sydney Prosse. Digo
atípica, pois ela sempre foi perfeita em papéis mais bucólicos e “puros”. Aqui sua
Sydney, que usa o nome de golpista Edith, tem uma sensualidade e uma malícia
que esta atriz não tinha experimentado antes em outro papel. Sempre gostei
dela, ela já foi indicada muitas vezes para passar despercebida nessa edição do
Oscar. Porém seu personagem surge com força plena na primeira metade do filme e
perde o vigor na segunda metade. Aí quem brilha é a Jennifer Lawrence com sua
atuação magistral da esposa totalmente inconstante e cabeça dura Rosalyn. É bem
interessante ver um viés de sua personalidade quando o marido ganha de presente
um micro-onda, utensílio moderníssimo para o fim dos anos 70 do século passado,
e ela insiste em usar do seu jeito, recusando-se a seguir as instruções simples.
Resultado um pequeno caos na cozinha. Lawrence realmente acerta o tom de sua
dona-de-casa tipicamente americana que tem uns parafusos faltando em sua
cabecinha oca e determina muita coisa na história. Já Bradley Cooper está em um
papel bem interessante. Seu Richie DiMaso é ansioso, precipitado, ambicioso, mora com a mãe autoritária e para se manter na
moda faz permanente no cabelo em casa. Um bom papel em sua carreira. Mas ainda
prefiro o trabalho do Jared Leto...
Estou reduzindo muito
o que o filme é. Um ótimo elenco, muito bem dirigido. É um pouco modorrento de
início, lembro muito dessa palavra usada por Monteiro Lobato, ele dizia que
devia estar num estado “modorrento” para conseguir pegar um Saci. Quando o
cerco começa a se fechar, o filme realmente dá seu “pulo-do-gato” e mostra que
tudo e todos estão em perfeita sintonia. Um roteiro bem construído e muito
interessante. Vale a pena assistir e comparar com “Dallas Buyers Club” para a disputa
ao Oscar. Ah!! Ia esquecendo que temos também o Robert De Niro numa pontinha
bem significativa no filme. Já o diretor David O. Russel tinha feito dois
filmes onde trabalhou com quase todos atores citados: “O Vencedor” e “O lado
bom da vida”.
vinimotta2012@gmail.com
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