segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Resenha de Filme: Trapaça - Cuidado para não cair em uma.

Trapaça - Cuidado para não cair em uma



            Eu não escolheria assistir esse filme meramente pela sinopse. Confesso que só assisti por estar indicado ao Oscar. E num primeiro momento, eu pensei: “Que pohah chata!”.
            Com uma hora de filme eu parei, respirei, tomei uma água, fui resolver umas coisas da vida. Quando voltei a assistir, já com a cabeça mais tranquila, vi o que fez esse filme brilhar. E como brilha. Há uma constelação no elenco.


            Eu também não tinha entendido o motivo de um filme desses concorrer como comédia no Globo de Ouro. Por certo está todo permeado de uma fina ironia. Mas não dá para rir no filme. É quase um pastelão, no sentido que o tempo todo parece um embuste. Não se enganem, eu quase caí nessa. É um filme dramaticamente moldado na ironia, na sutileza, no “todos contra todos”. Então se os americanos acham isso uma comédia, então é uma comédia. O roteiro é intrincado. Há muitos personagens fortes. E há uma complexidade em alguns personagens que pode passar desapercebida. Apesar de certas coisas parecerem óbvias já no começo.


            Vamos pelos atores: Christian Bale, novamente irreconhecível, com barriga eu careca que esconde comicamente, faz um elaborado exercício de atuação com seu trambiqueiro safado, com esposa e amante, Irving Rosenfeld. Vive em uma corda bamba que justifica seus comprimidos para o coração. Está ótimo e também está ótima sua parceira de trambiques Amy Adams em um papel bem atípico em sua carreira, Sydney Prosse. Digo atípica, pois ela sempre foi perfeita em papéis mais bucólicos e “puros”. Aqui sua Sydney, que usa o nome de golpista Edith, tem uma sensualidade e uma malícia que esta atriz não tinha experimentado antes em outro papel. Sempre gostei dela, ela já foi indicada muitas vezes para passar despercebida nessa edição do Oscar. Porém seu personagem surge com força plena na primeira metade do filme e perde o vigor na segunda metade. Aí quem brilha é a Jennifer Lawrence com sua atuação magistral da esposa totalmente inconstante e cabeça dura Rosalyn. É bem interessante ver um viés de sua personalidade quando o marido ganha de presente um micro-onda, utensílio moderníssimo para o fim dos anos 70 do século passado, e ela insiste em usar do seu jeito, recusando-se a seguir as instruções simples. Resultado um pequeno caos na cozinha. Lawrence realmente acerta o tom de sua dona-de-casa tipicamente americana que tem uns parafusos faltando em sua cabecinha oca e determina muita coisa na história. Já Bradley Cooper está em um papel bem interessante. Seu Richie DiMaso é ansioso,  precipitado, ambicioso,  mora com a mãe autoritária e para se manter na moda faz permanente no cabelo em casa. Um bom papel em sua carreira. Mas ainda prefiro o trabalho do Jared Leto...

           
Tudo isso numa trama onde se tenta pegar golpistas e trapaceiros, mas o negócio degringola para o lado da política quando o prefeito de New Jersey, Carmine Polito interpretado pelo também ótimo Jeremy Renner, entra no lance. E aí vira uma bola de neve que vai só aumentando e aumentando até chegar a congressistas que aceitam um parente de nosso “mensalão”.


            Estou reduzindo muito o que o filme é. Um ótimo elenco, muito bem dirigido. É um pouco modorrento de início, lembro muito dessa palavra usada por Monteiro Lobato, ele dizia que devia estar num estado “modorrento” para conseguir pegar um Saci. Quando o cerco começa a se fechar, o filme realmente dá seu “pulo-do-gato” e mostra que tudo e todos estão em perfeita sintonia. Um roteiro bem construído e muito interessante. Vale a pena assistir e comparar com “Dallas Buyers Club” para a disputa ao Oscar. Ah!! Ia esquecendo que temos também o Robert De Niro numa pontinha bem significativa no filme. Já o diretor David O. Russel tinha feito dois filmes onde trabalhou com quase todos atores citados: “O Vencedor” e “O lado bom da vida”. 




vinimotta2012@gmail.com

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