quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Resenha de Filme: Blue Jasmine - Déjà vu?

Blue Jasmine




         

     Primeiramente o óbvio: é um filme de Woody Allen. Segundamente: é um filme de Woody Allen, direção e roteiro.  Woody Allen é um dos diretores mais autorais que temos no momento. Não que isso seja um privilégio. Mas é bem característico o seu gosto em seus filmes. Poucos impregnam a tela como ele faz. Talvez um que consiga um efeito similar, apesar de estilo oposto,seja o Tarantino.  Enquanto este é sanguinolento e bruto, Allen, que também tem um roteiro afiado é mais, ou totalmente, sofisticado, sutil, irônico e sarcástico. É difícil gostar de Allen. Eu mesmo tinha muitas ressalvas. Quando mais novo jamais consegui assistir um filme seu. E recentemente tentei com todas minhas forças ver o “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” e quase entrei em colapso cataléptico, e desisti.


 Com o tempo seus filmes ficaram mais fáceis para minha insignificante psique. Tanto que gostei de “Match Point” e realmente adorei “Vicky Cristina Barcelona”.  E assisti com um charme divertido “Meia Noite em Paris”. Não o sigo. Vários filmes dele ficaram para trás. O que mais me surpreende é como ele consegue ser adorado, tolerado e odiado por tanta gente.  Recebeu inúmeras indicações por roteiros, e ganhou como diretor com o já citado “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” em 1978, entre outros tantos prêmios. Seu forte é fazer personagens femininas fortes ou, no caso, indicáveis ao Oscar. Mira Sorvino que o diga, até ganhou um.


         E não é de menos ver  seu roteiro atuado magistralmente por  Cate Blanchett. É mais um filme de atrizes.  Jasmine, feita por Blanchett, e sua irmã Ginger, também magistralmente encarnada por Sally Hawkins, com uma forte tendência humorista que grita o filme todo, dominam tudo com suas atuações. São tão diferente na aparência quanto na forma que seus personagens se desenvolvem.  A loura solar que se eclipsa e uma morena lunar que se torna ensolarada.


Como disse na resenha de “Trapaça” não entendi direito o motivo deste ser indicado ao Globo de Ouro como comédia. E agora fico mais confuso ainda com  “Blue Jasmine” ser um drama. Ri muito mais neste filme que no outro, tudo bem uma risada meio nervosa e de pena pois é tragicômico ver o destino de Jasmine/Blanchett. De podre de rica e centrada se torna uma pobretona meio gagá com roupas de grife que vai morar com a irmã divorciada, porém, bem mais feliz. Tive um pouco de sensação de um déjà vu de algo bem do passado talvez lá pelos lados de “Uma Rua Chamada Pecado”... Bem lá “pra’queles” lados, sabe? Porém passou essa sensação e fiquei com um ótimo filme.


Lembrando, lógico, que é Woody Allen, acho que já disse isso... Roteiro e direção!  É também já disse isso... E o déjà vu, eu já falei????
 Hum!!!!  
Mas Woody Allen é um dos diretores mais autorais que temos no mo-momento.... E é, hum... Estou me repetindo?
Ah! Táh!!!! 



terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Poema: Na ordem que quiser

Na ordem que quiser




Se olhasse em meus olhos veria apenas seu reflexo

E nesse reflexo olhando os seus olhos veria lá

Revelando, despindo e mostrando tão precioso feito um diamante

Diamante refletido na sua alma com singelo ato desconexo

Reflexo de algo tão precioso quanto o seu já

Qual a importância de um extasiado e sôfrego amante

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Resenha de Filme: Trapaça - Cuidado para não cair em uma.

Trapaça - Cuidado para não cair em uma



            Eu não escolheria assistir esse filme meramente pela sinopse. Confesso que só assisti por estar indicado ao Oscar. E num primeiro momento, eu pensei: “Que pohah chata!”.
            Com uma hora de filme eu parei, respirei, tomei uma água, fui resolver umas coisas da vida. Quando voltei a assistir, já com a cabeça mais tranquila, vi o que fez esse filme brilhar. E como brilha. Há uma constelação no elenco.


            Eu também não tinha entendido o motivo de um filme desses concorrer como comédia no Globo de Ouro. Por certo está todo permeado de uma fina ironia. Mas não dá para rir no filme. É quase um pastelão, no sentido que o tempo todo parece um embuste. Não se enganem, eu quase caí nessa. É um filme dramaticamente moldado na ironia, na sutileza, no “todos contra todos”. Então se os americanos acham isso uma comédia, então é uma comédia. O roteiro é intrincado. Há muitos personagens fortes. E há uma complexidade em alguns personagens que pode passar desapercebida. Apesar de certas coisas parecerem óbvias já no começo.


            Vamos pelos atores: Christian Bale, novamente irreconhecível, com barriga eu careca que esconde comicamente, faz um elaborado exercício de atuação com seu trambiqueiro safado, com esposa e amante, Irving Rosenfeld. Vive em uma corda bamba que justifica seus comprimidos para o coração. Está ótimo e também está ótima sua parceira de trambiques Amy Adams em um papel bem atípico em sua carreira, Sydney Prosse. Digo atípica, pois ela sempre foi perfeita em papéis mais bucólicos e “puros”. Aqui sua Sydney, que usa o nome de golpista Edith, tem uma sensualidade e uma malícia que esta atriz não tinha experimentado antes em outro papel. Sempre gostei dela, ela já foi indicada muitas vezes para passar despercebida nessa edição do Oscar. Porém seu personagem surge com força plena na primeira metade do filme e perde o vigor na segunda metade. Aí quem brilha é a Jennifer Lawrence com sua atuação magistral da esposa totalmente inconstante e cabeça dura Rosalyn. É bem interessante ver um viés de sua personalidade quando o marido ganha de presente um micro-onda, utensílio moderníssimo para o fim dos anos 70 do século passado, e ela insiste em usar do seu jeito, recusando-se a seguir as instruções simples. Resultado um pequeno caos na cozinha. Lawrence realmente acerta o tom de sua dona-de-casa tipicamente americana que tem uns parafusos faltando em sua cabecinha oca e determina muita coisa na história. Já Bradley Cooper está em um papel bem interessante. Seu Richie DiMaso é ansioso,  precipitado, ambicioso,  mora com a mãe autoritária e para se manter na moda faz permanente no cabelo em casa. Um bom papel em sua carreira. Mas ainda prefiro o trabalho do Jared Leto...

           
Tudo isso numa trama onde se tenta pegar golpistas e trapaceiros, mas o negócio degringola para o lado da política quando o prefeito de New Jersey, Carmine Polito interpretado pelo também ótimo Jeremy Renner, entra no lance. E aí vira uma bola de neve que vai só aumentando e aumentando até chegar a congressistas que aceitam um parente de nosso “mensalão”.


            Estou reduzindo muito o que o filme é. Um ótimo elenco, muito bem dirigido. É um pouco modorrento de início, lembro muito dessa palavra usada por Monteiro Lobato, ele dizia que devia estar num estado “modorrento” para conseguir pegar um Saci. Quando o cerco começa a se fechar, o filme realmente dá seu “pulo-do-gato” e mostra que tudo e todos estão em perfeita sintonia. Um roteiro bem construído e muito interessante. Vale a pena assistir e comparar com “Dallas Buyers Club” para a disputa ao Oscar. Ah!! Ia esquecendo que temos também o Robert De Niro numa pontinha bem significativa no filme. Já o diretor David O. Russel tinha feito dois filmes onde trabalhou com quase todos atores citados: “O Vencedor” e “O lado bom da vida”. 




vinimotta2012@gmail.com

sábado, 18 de janeiro de 2014

Resenha de Filme: Dallas Buyers Club - Clube de Compras Dallas

Dallas Buyers Club
ou
Clube de Compras Dallas







Desde que assisti “Óleo de Lorenzo”, onde o protagonista que dá nome ao filme sofria de  Adrenoleucodistrofia (ALD) doença degenerativa supostamente incurável, eu intuí que algo estava errado. Uns doze ou treze anos depois eu já havia concluído um curso de Filosofia, e estava na minha segunda faculdade, e assisti ao “O Jardineiro fiel”. Comecei a ligar pontos, e ler uma coisa aqui e ali e formei uma opinião sobre o assunto. Justamente uma indústria que deveria ser pautada por uma ética mais humanitária é que menos a tem. E nenhum governo fala nada, pois há interesses milionários por trás disso. Claro que isso não é um “artigo” de opinião, mas uma resenha de filme que acabei de assistir que aborda o mesmo tema dos outros dois direta ou indiretamente: pessoas que querem viver, ou lutam pela vida de alguém doente, mas tem um entrave, a indústria farmacêutica.




Se em “Óleo de Lorenzo” eram os pais do garotinho que começa a definhar por uma doença “incurável” que lutam com pesquisas particulares para desenvolver um remédio para o filho, o que os cientistas não faziam pois não era viável economicamente; e em “O jardineiro fiel” temos uma mulher que é difamada e morta por estar pesquisando as atitudes de empresas farmacêuticas na África, que estariam usando a população pobre como cobaias para seus remédios e o marido vai atrás de descobrir a verdade;  em “Clube de Compras Dallas” (Dallas Buyers Club nome que prefiro) temos algo semelhante. Um homem heterossexual Ron Woodroof, interpretado magistralmente por Matthew McConaughey, que se descobre portador do vírus HIV e já diagnosticado com AIDS e apenas uns 30 dias de vida, que decide não se entregar à doença, vai à busca de uma cura. E, adivinhem, esbarra justamente com os órgãos regulamentadores de remédios que servem mais aos interesses comerciais das indústrias farmacêuticas que aos interesses da população. Isso é bem evidenciado quando em uma sentença que Ron está tentando ganhar o direito de usar os remédios que desejar sem a proibição imposta pelo governo, o juiz fala de uma proteína que a própria entidade farmacológica tinha falado não ser tóxica.E essa indústria pressionava o governo para não liberar a venda no país.

É um filme adulto que aborda o tema da AIDS não pelo viés homossexual, como é meio comum desde “Filadélfia” e seus predecessores. Ron não aceita de início deu diagnóstico de portador do vírus HIV, é início dos anos 90 e ele não é uma “bicha” ele é “espada”. Todos ainda achavam que era uma doença ligada a “perversão” homossexual. Ele não entende como poderia ter se contagiado. Até fazer uma pesquisa sobre o assunto e descobrir que se pega a doença de mulheres contaminadas. É interessante isso, pois um homem bronco, e supostamente desinstruído vai fazer o que qualquer pessoa instruída faria: se informar, conhecer, ler sobre o assunto. O mundo peca pela ignorância em muitas coisas. Lembro também que os pais de Lorenzo se enfiaram em uma biblioteca e leram tudo sobre o assunto da doença do filho e com suas pesquisas particulares conseguiram resultados fantásticos, a ponto de conseguirem o título de médicos honorários nos EUA. E Ron é ignorante mas vai além e começa a quebrar esse entrave em seu caráter.


Enfim, voltando meramente ao filme. É um filme forte, e não melodramático. Isso pode ser uma virtude em um filme de doença. Ron /Matthew McConaughey não se deixa levar pela pena de si mesmo. Ele luta. Ele enfrenta o sistema. Mesmo que seja por uma via ilegal. Ele afronta a todos, a indústria farmacológica, e consegue uma esperança de uma sobrevida. E não contente com isso ele quer lucrar com sua descoberta. Mas nesse jeito “esperto” de ser ele leva uma centelha de esperança há inúmeros doentes. E só faz o que a indústria faz, descobre uma possibilidade de cura e comercializa. Seu ato poderia ser considerado antiético e condenável, mas não é a mesma coisa que vemos ser feita pelas indústrias de comercio de drogas legalizadas pelo governo o tempo todo? E pior, colocando uma taxa exorbitante em alguns remédios indispensáveis a vida de muitos? Nosso protagonista não é dono de uma entidade de caridade, ele quer viver, e lucrar com o que o deixa vivo. Quem o pode condenar? Quem perde com isso, óbvio.


A atuação de Matthew McConaughey é soberba, como já havia dito. Dá humanidade ao trambiqueiro e homofóbico Ron. Faz dele um lutador que se torna arauto de uma parcela de pessoas que só querem viver e pagariam por isso. Na sua empreitada ele se depara com, o fabuloso e irreconhecível pela magreza, Jared Leto que faz o homossexual travestil Rayon. McConaughey sempre foi uma promessa  que há um bom tempo não deslanchava. Fazia bons papéis em filmes bons, mas nada espetacular. Até amadurecer, e tentar também a nova onda que assola os atores americanos, ingressar para as Séries de TV. E lógico, não podia deixar de citar, namorar uma brasileira (isso é muito relevante na vida de qualquer estrangeiro). Ele atingiu o ponto certo nesse filme. Com os maneirismos característicos de um cowboy texano, o sotaque anasalado, a safadeza necessária a um mulherengo e jogador drogado que beira ao alcoolismo. É impressionante o tanto que esse ator emagreceu para entrar na pele de um portador, “supostamente”, terminal de AIDS. Só não é mais que seu colega de atuação, Jared Leto.


É difícil falar da função de um coadjuvante perfeito. Ele pode roubar a cena, ele pode ser a base fundamental para as tiradas do protagonista, ele pode ser sutil fazendo dar o tom certo ao personagem. Nesse filme Rayon/Leto dá o toque perfeito. Rouba as cenas quando necessário; é sutil e discreto, e dá base para McConaughey explorar seu Woodroof em todas as dimensões possíveis. Eu nunca dei muito crédito a Leto, apesar de achar ele muito esforçado, lembro o tanto que engordou para interpretar o assassino de Lennon, mas sempre preferi ele como cantor do “30 Seconds to Mars”. E neste filme ele se mostra um ótimo ator. Com domínio total da doçura e feminilidade que um travesti mostra e a também a afetação e autodestrutividade necessárias que muitos padecem.  Merece seu Globo de Ouro. Os dois merecem. Já Jennifer Garner se mostra um tanto sem tempero. Precisava de mais. É uma boa atriz, talvez falte o papel certo para deslanchar. Talvez só fique nisso mesmo.  Não deu muita força a sua Dra. Eve. Enfim, está ficando uma resenha um pouco grande. Roteiro com diálogos bons e frases de impacto baseado na história real de Ron Woodroof. Direção competentíssima de Jean-Marc Vallée que só faz crescer. Agora preciso assistir os outros oscarizáveis.


Vale a pena assistir. Não é um filme para qualquer um. Apesar de não ser enfadonho, imagino, para o grande público. Não tem efeitos especiais nem ações pirotécnicas, é um filme de atuação. Quem gosta desse tipo vai se deliciar. Afinal  “a vida é uma só” frase motivadora de Ron. É essa frase final não tem muita conexão com o que tinha dito. Mas fica a dica do Ron para todos nós de qualquer jeito. 




vinimotta2012@gmail.com