domingo, 31 de dezembro de 2017

Dezembro - Filmes que Criticam o Cristianismo - Última Postagem do Ano: Má Educação

Má Educação



         Meus queridos, chega ao fim, com essa resenha de filme o meu projeto de 2017. De início a proposta era fazer duas resenhas por semana dentro de um tema mensal. E ainda mais uma resenha de um filme novo ou uma série e por fim, se tudo desse certo uma resenha de qualquer outro evento cultural, ou apenas um texto mesmo. Como tenho que ganhar o meu pão diariamente com um trabalho não muito rentável e bem cansativo, acabei por deixar passar várias resenhas. Teve mês que quase não escrevi. Mas o começo foi bem promissor e no conjunto todo não fiquei tão longe do objetivo, só um pouquinho... erh...
        
Praticamente todos os temas tinham relação com algo de minha vida. Então nada mais que justo que o último fosse um crítica à Igreja Católica. Confesso que não é algo difícil. São praticamente 2000 anos de história com atos execráveis. Para quem não sabe, eu frequentei um seminário por quase 10 anos. Na verdade passei por 3 dioceses: São Carlos, Itaguaí e Campinas. Fui expulso nas três. Mas não pense que fui um vilão, entre tantas coisas fui um jovem comum e conto um dia em forma de crônicas o que aconteceu. Na verdade já tenho um blog só para isso. Está um pouco parado, mas logo retomo. Para quem quiser dar uma olhada o link está aqui: Seminário com Purpurina
        
“Má Educação” não foi um filme que eu gostei tanto. O buchicho em torno dele foi mais forte que o próprio filme em si. Almodóvar prometeu e não cumpriu, aos meus olhos. O filme narra como dois garotos se conhecem num colégio interno e se apaixonam e são obrigados a não continuarem com a relação, um dos garotos era o fetiche de um dos padres. Com o tempo ambos crescem, um vira cineasta e o outro faz um roteiro baseado no que viveu. No roteiro vemos a história duplicada na tela, adultos um dos meninos se tornou um travesti. Existe algumas reviravoltas, ninguém é quem realmente parece ser e certa tensão ocorre. O que Almodóvar prometeu foi um escândalo, e não sei se por estar dentro do seminário naquele tempo, não vi nada de tão escandaloso assim. Como roteirista e como diretor Almodóvar nunca foi muito sutil. E nesse filme algumas coisas ficam nessa linha. Pelo menos a primeira parte que trata dos garotos no internato. Sei que o filme possui muito mais camadas que eu estou revelando aqui. Um dia desses prometo fazer uma resenha mais apurada...
         Geralmente o senso comum joga a pedofilia para os padres. E eu não vi isso no seminário. Nesses quase 10 anos eu só vi um padre com forte indício de pedofilia. Entenda aqui pedofilia como atração patológica por crianças. Conversei com meu superior a respeito e foi dito que eu devia parar de me preocupar e que o tal padre estava em observação já havia um tempo e que o bispo da diocese estava ciente. Mas que realmente era para eu não me preocupar. É uma metodologia meio revoltante esse tipo de coisa. E fiquei com as mãos atadas sem poder me reportar a ninguém. Por sorte, ou providência divina, esse padre acabou morrendo alguns meses depois de infarto.  Causando um alívio nos padres de lá pelo que fiquei sabendo.
Por mais que nossas leis sejam claras ao dizer alguém abaixo de 18 anos é menor de idade, o que vi foi muitos padres, e seminaristas, interessadíssimos em novinhos, acima dos 14 anos geralmente. Sabe aquela fase que o jovenzinho já formou o corpo e está com os músculos de quase adulto? Isso já descaracteriza e dizem ser outra coisa: efebofilia (o que também é crime em nosso país por se tratarem de menores de idade). Pois é esse o maior interesse de vários. Não todos. Vi padres que gostavam de homens adultos novos, maduros e até idosos. Tudo é relativo e diversificado como o desejo sexual da população. Em menor número também havia os que se interessavam em mulheres. E no geral esses eram os que causavam mais problemas. Entre eles corriam o risco de engravidar as mulheres.
Esse é um risco imperdoável na Igreja. Conheci um seminarista que cometeu tal crime com a ordenação marcada e foi detonado. Expulsaram-no sem nem um pingo de misericórdia ou um mínimo de apoio. Ele inteligentíssimo e esforçado, para sua sorte, assumiu a paternidade e se casou com a garota e logo passou num concurso público e, pelo que soube estava indo bem. Ao contrário da beesha que o denunciou, por despeito, pois era apaixonada por ele e não consegui lidar com a “traição” que julgou em sua mente desmiolada ter sofrido. Esse virou padre e anda um pouco surtada lá pelas bandas de onde se encontra...
         Essa resenha está se tornando outra coisa. É matéria para o outro blog... Chega!

         Reservo-me no direito de deixar esse Janeiro de 2018 mais light para meu lado. Preciso mesmo usufruir de minhas férias, descansar de verdade. Então, pensarei em algo para esse ano vindouro.  Fico muito grato a todos vocês que acompanharam o blog. Um ótimo ano para todos nós. 







quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Dezembro - Filmes que Criticam o Cristianismo: O Código Da Vinci

O Código Da Vici




        Ao contrário do que muitos querem acreditar o cristianismo católico não foi algo planejado e o seu início foi “desinstitucionalizado”. Era exigido muito pouco: conversão, mudança de vida, adesão à palavra de Jesus, sempre pelo viés dos discípulos, e estar em união a um grupo eclesial. De início a “Igreja” instituição não existia.
Existiam várias pequenas igrejas praticamente autônomas que expandiam por cidades do oriente, sul da África e por fim pela Europa. E com o tempo vários relados da vida de Jesus foram surgindo. Os mais antigos são conhecidos como Evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João, nessa ordem. E pouco depois surgem outros relatos com outros pontos de vista. Chegou um momento que as pequenas igrejas, se infiltrando em Roma, a cidade mais importante da época, precisaram se organizar melhor. E principalmente a comunidade de Roma foi, aos poucos, conquistando o império romano. Com Constantino foi que ocorreu a unificação da crença cristã e instituída como religião oficial no Império. De certa forma, os bispos, que eram autônomos em suas comunidades, usavam os livros que bem lhes aprouvessem. Mas houve uma predileção pelos que se tornaram depois os livros oficiais da Bíblia cristã. Essa oficialidade dos livros usados foi só determinada no século IV e ratificada de forma definitiva no Concílio de Trento séculos depois. Esse conjunto de livros bíblicos aceitos pela maioria é chamado de Cânon. Há algumas divergências entre os grupos cristãos existentes em relação a alguns livros. Como que aqui quem nos interessa é o Cânon Católico, deixemos explicações dos outros de lado. Com essa definição já no século IV temos um grupo de livros oficiais e o grupo de livros não oficiais definidos como Apócrifos. Dentro desses apócrifos ficaram as histórias mais fantasiosas sobre a vida de Jesus, as exageradas e as que foram constatadas que não eram do primeiro século. Dentro desses Apócrifos temos os Evangelhos de Tomé, Tiago, Pseudo-Mateus, Hebreus, Nazarenos, Ebionitas, Marcião, Pedro, Bartolomeu, Judas, Maria Madalena e tantos outros Evangelhos, Epístolas e escritos diversos.
       
Para nós o mais importante é o Evangelho Apócrifo de Maria Madalena. Ele foi a base para o livro de Dan Brown. Junte-se a história do Apócrifo de Maria Madalena lendas históricas sobre uma ordem religiosa perseguida pela Igreja Católica, identificados como Priorado de Sião e temos o enredo do livro.  A lenda “histórica” diz que eles se dispuseram a cuidar dos segredos do Santo Graal que é um código para dizer que Jesus tinha deixado descendentes frutos de sua união sexual com Maria Madalena. Essa sociedade secreta guardaria e defenderia esses descendentes que ainda hoje seriam perseguidos pela Igreja.
       
Verdade ou não, saberemos somente na segunda vinda de JC... Mas o livro faz um bom levantamento histórico e costura uma bela colcha de retalhos colocando personagens históricos importantes como membros do Priorado. Inclusive o próprio Leonardo Da Vinci que teria feito no seu afresco “A Última Ceia” uma referencia direta ao relacionamento de JC e Maria Madalena. O filme consegue uma boa adaptação do livro, com pequenas alterações, nada que mude o contexto final. A crítica aqui fica para com a versão da vida de Jesus defendida com interesses óbvios pela Igreja. Um Jesus “Deus” e solteiro que morre e ressuscita era muito mais conveniente para os interesses de um grupo que almejava controle do povo que um Jesus “humano” que fornicou com uma mulher de índole duvidosa e teve filhos como qualquer mortal.
Não é fácil chegar a uma verdade. Por vezes colocam a Igreja como uma vilã fria e calculista, sendo que muitas coisas foram acontecendo e não há como negar que seu início foi até “puro” sem grandes interesses a não ser a salvação do homem, custasse o que custou. E com o tempo, foi crescendo sua importância política e assim a corrupção a assolou e como a grandiosa instituição que se tornou e por mais de um milênio ela manteve a contradição com exemplos bons e outros execráveis dentro de si.
       
O filme tenta se apoiar mais na polêmica de um Jesus humano e sua relação com uma mulher. É interessante e fantasioso ao mesmo tempo. Como disse não há provas de que Maria Madalena tenha sido esposa de Jesus. Só há provas que as pequenas comunidades cresceram e se tornaram a grande instituição que dominou com punhos de ferro, e pouca caridade, a Europa na Idade Média.

       
Com elenco de peso vemos o detetive casual Robert Langdon, interpretado por Tom Hanks que não foi a melhor opção pela aparência. Contudo Hanks é um bom ator e faz bem o papel. Temos também a participação de: Audrey Tautou, Paul Bettany, Alfred Molina, Jean Reno, Ian McKellen entre outros menos conhecidos. Ron Howard dirige e imprime mais ainda a característica comercial da qual o livro é fruto. 

Dezembro - Filmes que Criticam o Cristianismo: O Nome da Rosa

O Nome da Rosa




Umberto Eco, saudoso, filósofo, escritor, semiólogo, linguista, bibliógrafo e conhecedor da de Idade Média realizou o romance “O Nome da Rosa”. Que tentei ler aos meus 14 anos e esbarrei na linguagem hermética do período medieval usado nas descrições. Até que saiu o filme e assisti. Muitas explicações ou descrições foram mostradas nas imagens, que para um leitor pouco desenvolto em período medieval, como um adolescente normal, eu não alcancei o livro, o filme me deixou instigado e maravilhado.
Esse primeiro livro de Eco é um romance policial aos moldes conhecidos. Ele só situa a ambientação num mosteiro. Lá assassinatos de monges sugerem a ação do demônio. E Guilherme de Baskerville, ou na versão em inglês Willian, acompanhado de seu fiel pupilo Adso de Melk vai investigar com os recursos mais modernos possíveis naquele período não muito ilustrado. Já vemos em Guilherme uma referência a Sherlock Holmes, o seu sobrenome é presente em um conto do famoso detetive “O Cão de Baskervilles”. Possivelmente não é coincidência.
E o fato de ter um ajudante não muito brilhante ao estilo Watson também entre outras coincidências aos moldes de Arthur Conan Doyle. Como também não é coincidência toda a crítica ao sistema monacal que perdurou por longos séculos. Os monges, preservados dentro dos seus muros, se dedicavam a Deus enquanto o povo, pessoas miseráveis, passava fome e se sujeitavam a comer restos que descartavam. E mais, é visto a disputa de poderes entre facções, ou ordens religiosas naquele período. De forma especial franciscanos e dominicanos. A abadia é dominicana e Willian é franciscano.
Enquanto seus anfitriões resguardam os métodos e pensamentos filosóficos voltados ao aristotelismo escolástico, o monge investigador é empírico, analítico, o que não é considerado adequado para aquela época que se usava a lógica aristotélica para chegar na verdade. O método empírico denotava observação e para a mentalidade escolástica os sentidos enganavam, era bom não confiar.
A crítica está em vários âmbitos. Como já citei acima, vemos um povo empobrecido e faminto comendo restos de monges bem nutridos. Contudo o que mais é criticado é a forma que a Igreja manipulou a população para que não tivesse acesso ao conhecimento. Esta é a maior crítica. Através do mistério que será desvendado ao final, vemos como a Igreja age escondendo conhecimento e até matando quem queria ter acesso a ele.
Principalmente como juíza, através de um dos monges, a Igreja determinava quais livros eram bons ou não para se ler. E infringir as regras poderia causar a morte. Metaforicamente no contexto de “O Nome da Rosa” vemos o que o Catolicismo (e qualquer outra religião que ascende ao poder) fez com livres pensadores e conhecimentos novos que contradizia suas estruturas.

Sean Connery faz o monge Guilherme e seu ajudante/noviço é interpretado por Christian Slater. Temos vários outros nomes menos ou mais conhecidos, ótimos atores assumindo a interpretação dos demais monges. A direção ficou com Jean-Jacques Annaud que deu ao filme uma alma europeia que tanto era necessária. E a “rosa” é uma referência ao feminino que foi tão perseguido e desprezado por esse clero que julgava o sexo como algo inferior ao celibato e castidade.
 
Contudo a real natureza humana vem como um fogo abrasador e causa uma marca no jovem Adso que o faz questionar tudo em sua vocação. Por isso talvez a castidade seja algo pouco praticado fora e, principalmente, dentro da Igreja ainda hoje. Por certo que há no clero pessoas que pratiquem o celibato e a castidade, principalmente os mais velhos, apesar do advento do Viagra... 





quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Dezembro - Filmes que Criticam o Cristianismo: Alexandria

Alexandria




Antes que 2017 acabe, preciso pelo menos postar alguma resenha temática. Não sou muito adepto de filmes de Natal. Em sua maioria esmagadora são péssimos, sentimentalóides e incentivam o lado errado da festa ao invés da verdadeira essência. Não que também ligue muito para essa data com cunho cristão. Pois é sabido que Jesus não nasceu em Dezembro, foi só uma forma dos padres tentarem acabar com uma festa popular pagã.
Pelo pouco que se sabe é mais provável que JC tenha nascido entre Março e Abril. Como não há provas, nem que ele existiu de verdade, imagina saber a data do nascimento. Porém o marketing foi bem feito e os cristãos iludidos. Até a chegada do Capitalismo desenfreado que deslocou uma festa religiosa para uma suruba consumista descomunal. O Deus Dinheiro é o mais festejado e ainda prevalece.
      Então, pensei muito e decidi escrever sobre filmes que criticam o cristianismo de alguma forma. E de uma maneira especial a Igreja de Pedro. Afinal não há cristianismo sem contradições... E Natal é a festa mais contraditória que os adeptos do Nazareno inventaram até agora.
Primeiro filme, se não der tempo talvez o único, que comento é “Alexandria”. Um filme muito bom que ficou praticamente no anonimato. Acabei assistindo em DVD. É a famosa história da filósofa Hipátia de Alexandria. Ela foi uma filósofa e estudiosa muito influente e obteve alguns avanços em seus estudos. Claro que o filme romantiza um pouco. Possivelmente ela morreu com uma idade de 50 anos. Tudo é um pouco impreciso. E, mesmo para a sociedade helênica, Hipátia estava além das mulheres de sua época. Era independente e não estava casada. Fazia estudos e cuidava da biblioteca de Alexandria junto com o pai. Era inteligente e bonita e isso deu uma comichão de ciúmes e despeito no proeminente bispo da cidade, Cirilo. Santo de índole apologista, à surdina efetuou um ato “muito” cristão: incita seus seguidores contra a filósofa por ela ser favorável ao seu inimigo político, Orestes, governador do Egito.
Ensandecidos eles a abordam no caminho e a arrastam para uma igreja, no filme para a biblioteca mesmo, e a matam. Dizem que ela foi esfolada viva com cacos de conchas, outros ainda que foi desmembrada e queimada. Mas é consenso entre os estudiosos que o termo correto para se usar é “ASSASSINADA”. Cirilo conseguiu eliminar uma inimiga que ele não conseguia de forma alguma desmoralizar. Ela era irrepreensível. No filme dão um jeitinho de tudo acontecer através de um monge mendicante do deserto apaixonado por aquela mulher estupenda que Hipátia foi. Interpretada pela talentosa Rachel Weisz que faz bonito na tela e ainda conta com Max Minghela como o monge Davus apaixonado, Oscar Isaac como Orestes e Sami Samir como Cirilo e direção de Alejandro Amenábar que fez “Os Outros” com a Nicole Kidman. Tudo é bem executado no filme.
O ar helênico que o filme mostra é fantástico. E ainda temos uma reprodução do que seria o Farol de Alexandria e a poluição que causava a queima do combustível usado para deixa-lo aceso.
O filme acaba com a morte da protagonista, mas dá uma pequena explicação do quanto seus estudos foram inovadores. Porém a Igreja a relegou praticamente ao esquecimento em seu domínio medieval. Era insuportável para homens do clero aceitarem que uma mulher fosse totalmente proeminente, bela e principalmente inteligente.
Ela estudava os astros e como eles efetuavam rotas elípticas no céu e a igreja viu isso como algo inconcebível, pois Deus era perfeito e em sua perfeição ele usaria um círculo para os planetas se mexerem ao redor do nosso planeta. Era o modelo ptolomaico de universo com a Terra no centro de tudo que era conveniente aos interesses clericais.
No fim a verdade prevaleceu e a história do assassinato de Hipátia é reconhecida como  um marco da intolerância e muitos ainda afirmam ser o fim do período clássico e o início do domínio medieval dos cristãos. 

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Extraordinário - O Filme Perde um Pouco do Brilho do Livro

Extraordinário






        
Ano passado li o livro “Extraordinário” de R.J. Palacio e fiz uma pequena resenha: http://assuntocronicoviniciusmotta.blogspot.com.br/2016/10/extraordinario-quando-tiver-que.html . Dei uma revisada, pois percebi uns errinhos de digitação e falta de atenção ao corrigir e agora falo do filme.


        
Não mordo minha língua em relação ao filme. Refiro-me a um comentário que fiz na resenha acima. O filme não é uma coisa deplorável, também, enquanto adaptação, não ficou a melhor coisa do mundo. Bem feito, bem executado e um pouco da fofura do livro se esvai ao ser transposta para a tela. A história segue Auggie Pullman, interpretado pelo fofo Jacob Trembley. Ele possui uma doença hereditária que o deixou com má formação no crânio e por isso foi obrigado a fazer inúmeras cirurgias ficando em casa fora do contato com a maioria das crianças do jardim de infância e anos iniciais de aprendizado, enfim, estudava em casa com a mãe. Aqui eles apelaram descaradamente ao colocarem Julia Roberts como Isabel Pullman, mãe de Auggie. Ela faz toda a diferença. Principalmente do lado do insosso e feioso Owen Wilson que perde o carisma do pai do garoto. Apesar de alguns momentos cômicos que protagoniza não dá muito ao personagem.
Via, irmã do garoto, é interpretada pela Izabela Vidovic que consegue, ao contrário do Wilson, chegar ao cerne dos sentimentos da personagem que é sempre relegada em função dos problemas do irmão. E Sônia Braga faz uma pontinha como a avó que dava o ombro amigo a Via quando todos se esqueciam dela. Jack Will, o amigo número um de Auggie, foi muito bem selecionado, Noah Jupe, que consegue ser todo molecão e ao mesmo tempo fofo.
Já Julian, poderiam achar um garoto mais asqueroso, ficaram com Bryce Gheisar. Imagino que fazer de uma criança um vilão não é algo muito legal mesmo. Temos até certa “redenção” de Julian ao final. Summer foi um pouco esquecida na adaptação, interpretada pela tão fofa quanto todos Millie Davis. Miranda, outra personagem emblemática, melhor amiga de Via que sem explicação some é realizada Danielle Rose Russel, bem bonita e menos ousada que no livro. Não escolheram uma criança feia, nem que não demonstrasse um grau de fofura digno de causar convulsões e vômitos de arco-íris. Todos executam bem a história.
 Trembley não se intimida pelo elenco adulto, faz sua parte bem feita. E olha que eu ficaria intimidadíssimo pela Julia Roberts. Por questões estéticas imagino que não tenham realmente pesado na maquiagem de Auggie. No livro dava impressão dele ser pior. Demos um desconto para Hollywood. Afinal, desde seus primórdios, ela embeleza criaturas estranhas... Errr Clark Gable... Ops!!!



         Bom, deixemos o veneno de lado, pois neste filme só cabe fofura. E por isso vale o ingresso. Pelo menos a meia entrada que paguei. E se você for mais sensível se prepare para as lágrimas. Elas descem sem você nem perceber. 






terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Assassinato no Expresso do Oriente: O Retorno do Detetive Belga

Assassinato no Expresso do Oriente








         Na adolescência fui um devorador de livros de Agatha Christie. Uma coleção de peso se fazia presente na Biblioteca Municipal com umas folhas ásperas e amareladas. E lá ia eu toda semana renovar alguma leitura retardatária ou escolher outro livro que me deliciasse. Em casa mesmo eu contava com cinco títulos, “Um Crime Adormecido”, “O Caso dos Dez Negrinhos” (título antigo que por questões raciais foi mudado o nome para “E Não Sobrou Nenhum”), “Morte no Nilo”, “Os Quatro Grandes” e “Uma Aventura em Bagdá”. Lidos vorazmente nesta respectiva ordem. Então meus grandes parceiros por um bom tempo foram Miss Marple, Hercule Poirot, Tommy e Tuppence Beresford entre outros tantos personagens recorrentes ou não.
         E assim que podia eu assistia aos filmes baseados em seus livros: “Morte no Caribe”, “Um Brinde de Cianureto”, “Morte no Nilo”, “Testemunha de Acusação”, “Assassinato Num Dia de Sol”, “Mistério no Caribe” entre outros com produção menos digna foram. E somente neste ano que consegui assistir “A Maldição do Espelho”.
        
“Assassinato no Expresso do Oriente” teve várias adaptações sendo que a mais celebrada é a versão de 1974 dirigido por Sidney Lumet. Foi laureado com várias indicações a prêmios e protagonizou as “pazes” entre os produtores hollywoodianos com a estrela Ingrid Bergman que havia abandonado tudo para viver um escandaloso caso amoroso com o diretor italiano Roberto Rossellini. E é um filme bem mais próximo do livro de Agatha Christie.
        
A versão de agora, 2017, dirigida por Kenneth Branagh consegue atualizar umas questões que ficam subentendidas no livro ou no filme de 1974. Para situar a geração nova Hercule Poirot, feito pelo próprio diretor, é introduzido resolvendo um caso em Jerusalém que poderia, dependendo do criminoso, causar uma revolta popular. Com seu jeito metódico e gosto pelo equilíbrio, consegue resolver o caso e tenta partir para tirar férias. Contudo é chamado de última hora para se apresentar em Londres para um caso e é obrigado a tomar o Expresso do Oriente que em seu interior contava com passageiros das mais variadas procedências. Até que um passageiro é assassinado e Poirot é incumbido de solucionar o caso. E por trás de um grupo que aparenta não se conhecerem, Hercule Poirot vai desvendar um dos mistérios mais famosos e também um dos melhores.
        
O ponto alto do filme é a atualização de várias situações do universo de Poirot para o público de hoje. É explicado emoções que a própria Christie não desenvolve tanto para seu texto não ficar tão pesado. O filme já prefere explorar esses dramas secretos. Tanto que começa num tom leve e divertido, bem ensolarado, e se transforma em um suspense denso até o seu fim.



****Deste ponto em diante: spoiles****




        
Não sei se uma história que tem um pouco mais de 80 anos possa ter algo que se considere spoiler. E, tirando a introdução inicial, o filme não muda praticamente nada do original o qual é baseado. No máximo acrescenta. De modo geral o rapto e o assassinato da criança Armstrong é explorado mais. A dor e destruição que causa são avassaladores  para amigos e familiares e no livro fica tudo colocado de uma forma menos enfática deixando os personagens mais frios. Aqui vemos o contrário. Até o momento que cada personagem esconde sua ligação com o caso da criança assassinada há uma forma mais caricata de cada um agir. Quando Poirot os confronta em segundos depoimentos todos mostram suas caras, amarguras, frustrações e ódio pelo assassinado. Para quem não lembra uma criança tinha sido raptada e mesmo os pais pagando o resgate os sequestradores a matam. Com isso a família toda se desestrutura e isso dá mote ao filme. Pois a vítima de assassinato no filme é o sequestrador responsável pela morte da garotinha.
        
É incrível como a direção faz uso do ambiente claustrofóbico de um trem de luxo. É interessante ver a câmera passar por uns biombos com vidraça e a imagem dos suspeitos sendo interrogados duplicam e até mesmo triplicam, dando a entender que quem está sendo interrogado tem mais que uma cara, esconde algo. O roteiro é competente, a fotografia linda, o figurino deslumbrante. A direção se esmera em conseguir o máximo dos atores. Um ou outro se destaca mais. Michelle Pfeiffer é o epicentro dos acontecimentos e no momento que é desmascarada, ou revelada sua real participação nos eventos, é incrível como até seu semblante muda. Todos possuem seus pontos altos para brilhar.

        
Um filme de falas e deduções fiel ao estilo da dama do crime que pode aborrecer alguns. Mas tenho segurança em afirmar que foi um dos filmes lançados até agora que mais gostei este ano. Tanto que assisti duas vezes e não me senti aborrecido na segunda vez.  Algo que acontece com certa frequência comigo.