domingo, 2 de fevereiro de 2014

Resenha de Filme: Walt Disney nos bastidores de Mary Poppins

Walt Disney nos bastidores de Mary Poppins




            
              Esse é um dos piores títulos que eu já vi nos últimos anos para um filme. O original em inglês é “Saving Mr. Banks” e concentra justamente a essência do filme. Enquanto o outro é uma explicação “idiotizadora” do filme, ou como li por aí, “didática”. Eu ainda não entendo a tendência do marketing nacional menosprezar a inteligência do público dessa forma. Talvez as distribuidoras pensem que ninguém vai se lembrar do tal “Mr Banks”. E realmente num primeiro momento poucas pessoas irão. E uma das graças do filme pode estar aí: lembrar quem foi esse homem.
          
              Mr Banks é o personagem pai das crianças do filme “Mary Poppins” musical clássico. E antes de ser um filme foi um livro. E o enredo do filme “Walt Disney nos bastidores de Mary Poppins” trata do processo de transformação de uma obra literária em um filme.  A luta da autora que tenta não deixar sua obra ser corrompida pela Disney. A autora do livro P.L. Travers,  uma senhora cheia de manias, interpretada por Emma Thompson, magistralmente, se vê obrigada a “negociar” sua ilustre obra com ninguém menos que Walt Disney, também executado de forma grandiosa por Tom Hanks. Disney levou anos tentando conseguir os direitos sobre a obra.  O problema é que para Traves a obra não é apenas uma história para crianças. “Eles são da família” diz em um momento de angústia, onde não sabe se entrega de vez ou não os direitos do livro. 

      
      No sentido estrito a tensão que se gera entre Traves e Disney revela o apego de um autor por sua obra. Que neste caso, é permeado por lembranças do passado. O tempo todo o filme mostra cenas da infância da autora que vão se revelando imprescindíveis para se entender seu comportamento e também  o processo criativo da escritora. Praticamente se fala do filme o tempo todo, afinal ela está fazendo uma revisão do roteiro que ainda viria a ser filmado. E o tempo todo ela se recorda de seu passado, terra que foi fértil para sua imaginação criar seu livro. E Walt, como prefere ser chamado, quer essa obra realizada por seus estúdios. É o embate de dois criadores de mundos fantasiosos. É o embate de um tubarão gigantesco querendo abocanhar mais uma presa em seu estômago voraz.  E como esse tubarão luta, o pequeno peixe é arredio e difícil de ser pego. Emma Thompson, que tem experiência como escritora roteirista faz uma mulher cheia de manias, uma senhora chata. Sabe aquelas que são intragáveis e fazemos de tudo para estar longe? Essas mesmas! Mas mostra que no meio dos chiliques há uma pessoa, sensível que tem um passado. E que só quer venerar respeitosamente esse passado. Vemos também um interessante e otimista motorista de carro interpretado por Paul Giamatti que também conta com seu “segredinho” motivador de sua vida.


            Vi o filme simplesmente pelos atores.  E me encantei. Outro filme de atuações ótimas, desprezadas pelo Oscar, mas redimida pelo Globo de Ouro de certa forma. Vale a pena ver. É bem interessante o cartaz onde vemos os dois personagens: Disney tentando convencer uma resistente Travers com suas sombras tomando a forma do Mickey, otimista, e de Mary Poppins, toda austera. Recomendo aos adultos que gostam de uma história bem contada pela interpretação e direção bem pontual de John Lee Hancock (Um Sonho Possível).


            E um adendo: recomendo a escritores para notarem como a história pessoal pode ser um grande recurso criativo para se elaborar uma obra. 

(Abaixo na foto: Julie Andrews que protagonizou Mary Poppins no cinema, o verdadeiro  Disney com a verdadeira Travers  )


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