domingo, 23 de fevereiro de 2014

Resenha de filme: Pompeia - A premissa é boa


Resenha de filme: Pompeia - A premissa é boa








A premissa é boa: o desastre natural que destruiu Pompeia. Mas já perde a mão por começar com a merda ideológica americana. Como não existia EUA na referida época então o herói tem que ser mais próximo possível, um “inglês” um celta para florear mais. Um órfão vítima do grande império romano malvado. Não que realmente não fosse cruel, mas aqui malvado toma um juízo de valor. Essa necessidade de por tudo dentro de apenas duas vertentes, o bem e o mal, é um tanto simplista.

Táh tudo bem até aí. E adivinhe?  O herói cresce e vira um gladiador fodão que ganha tudo. E por outra ironia do destino, ou falta de criatividade dos roteiristas, adivinhe de novo: ele é notado por um dos líderes e levado para Pompeia. Olha só... Não foi para Roma, foi para Pompeia. E no caminho, nem vou pedir para ninguém adivinhar, já ficou óbvio, ele ajuda a mocinha, linda, arrebatando seu coraçãozinho puro e virginal com um ato nem um pouco “selvagem” de matar um cavalo evitando seu sofrimento.

Porém um inimigo mais malvadão está à espreita, e este vai destruir os homens bonzinhos e os malvadinhos. Quem será? ? ? ? ? Tchan-tchan-tchan... Será que é Cramunhão? O Bin Laden adolescente? ? ? Nãooo!!!! É o vulcão que começa a mostrar que está ativo. E ninguém repara. Ele causa um terremoto que vitima um camponês e ninguém percebe. O tempo todo a cidade treme, e nada. E pior, isso é um dos pontos verdadeiros do filme. Pois se alguém tivesse notado, a cidade teria sido evacuada a tempo.

Bom um adento agora. Eu não entendo muito de algumas coisas da história. Mas o tanto de negros que eles colocam nas eras clássicas me faz pensar como pode o continente europeu ter ficado tão “branco” até hoje.  Nada contra os negros em filmes. Mas existiam mesmo tantos negros na história clássica? Sei que no Brasil há cotas mas não entendo os EUA... Ahh tah!  Como sou inocente, tem a “minoria” negra que precisa ser atingida mercadologicamente não é? Só que os negros nos EUA não são uma minoria irrelevante. Mas enfim, o que é a veracidade histórica em detrimento de motivar um grupo étnico a ir aos cinemas, não é?. Bom, fecho o adendo.

         Certa vez li que não existe histórias inéditas, o que existe é a habilidade de se contar a história de forma diferente. E não é que em 30 minutos de filme já dá para perceber o que vai acontecer no restante? Lógico que a cidade vai ser destruída, isso é a premissa original. O que quero dizer é sobre as relações e os conflitos.
 
         Com atores conhecidos, e outros nem tanto, e corpos marombados o suficiente para serem mostrados gratuitamente o filme vai desenrolando sem nenhum acontecimento surpreendente. E acontece o inusitado: começamos a torcer para que o Vesúvio, o vulcão malvado, estoure de vez para arrebentar com tudo e acabar o filme logo. Lembro de ter sentido o mesmo em relação ao iceberg de Titanic.

         Esqueça a história e se você não se importar com discursos contemporâneos na boca de personagens da era clássica, aproveite uma historinha manjada. A direção de arte é competente. Os efeitos são maravilhosos. É de ficar de boca aberta as explosões da montanha e a população sendo primeiro afogada, depois soterrada e depois queimada viva.  É angustiante por trás de tanta “pataquada” hollywoodiana perceber que houve uma catástrofe que fulminou uma cidade como Pompeia, que contava com uma expressiva população de 20 mil habitantes na época.

         Enfim, um filme que poderia ser mais. Bem na linha “pão e circo”, só entretenimento sem nenhum aprofundamento. Em vários momento se copia um pouco o filme “Gladiador” e sem constrangimento a respeito.  Lutas no estádio mostra bem a diversão da época. E assim vai enquanto o vulcão dá seus sinais. E o povo é, como sempre, enganado e motivado a não fazer nada, não fugir. Até que é tarde.

         E o verdadeiro espetáculo começa. A fumaça negra surge no céu. E oh!!!!, Todos ficam espantados.  E Pompeia vai ruindo antes da derradeira lambida de lava.  E o mais surpreendente é que no meio do caos que vai se instalando, o mocinho consegue se vingar dos assassinos de seus pais e resgatar a mocinha indefesa.


         Carrie-Anne Moss faz uma participação que deixa muito a desejar. É a esposa do governador da cidade, e mal abre a boca. Tem também o carinha de Guerra dos Tronos, Kit Harington, que tenta ser o herói “viril” do filme, sem muito sucesso. Sua carinha é muito bonitinha para convencer. E o vulcão continua cuspindo fogo e pedras gigantes ao longe. Eu nem conto mais o que acontece, já sabem o que acontece, a não ser o finalzinho que destoa um pouco.

        
O grande público pode gostar, mas um público mais questionador e ávido com um mínimo de senso crítico sabe que é só mais um filme pipoca e caça níquel. Que acrescenta apenas uma distração de cerca de 98 minutos. Não conseguiram nem arredondar para 100.  

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Resenha de Filme: Walt Disney nos bastidores de Mary Poppins

Walt Disney nos bastidores de Mary Poppins




            
              Esse é um dos piores títulos que eu já vi nos últimos anos para um filme. O original em inglês é “Saving Mr. Banks” e concentra justamente a essência do filme. Enquanto o outro é uma explicação “idiotizadora” do filme, ou como li por aí, “didática”. Eu ainda não entendo a tendência do marketing nacional menosprezar a inteligência do público dessa forma. Talvez as distribuidoras pensem que ninguém vai se lembrar do tal “Mr Banks”. E realmente num primeiro momento poucas pessoas irão. E uma das graças do filme pode estar aí: lembrar quem foi esse homem.
          
              Mr Banks é o personagem pai das crianças do filme “Mary Poppins” musical clássico. E antes de ser um filme foi um livro. E o enredo do filme “Walt Disney nos bastidores de Mary Poppins” trata do processo de transformação de uma obra literária em um filme.  A luta da autora que tenta não deixar sua obra ser corrompida pela Disney. A autora do livro P.L. Travers,  uma senhora cheia de manias, interpretada por Emma Thompson, magistralmente, se vê obrigada a “negociar” sua ilustre obra com ninguém menos que Walt Disney, também executado de forma grandiosa por Tom Hanks. Disney levou anos tentando conseguir os direitos sobre a obra.  O problema é que para Traves a obra não é apenas uma história para crianças. “Eles são da família” diz em um momento de angústia, onde não sabe se entrega de vez ou não os direitos do livro. 

      
      No sentido estrito a tensão que se gera entre Traves e Disney revela o apego de um autor por sua obra. Que neste caso, é permeado por lembranças do passado. O tempo todo o filme mostra cenas da infância da autora que vão se revelando imprescindíveis para se entender seu comportamento e também  o processo criativo da escritora. Praticamente se fala do filme o tempo todo, afinal ela está fazendo uma revisão do roteiro que ainda viria a ser filmado. E o tempo todo ela se recorda de seu passado, terra que foi fértil para sua imaginação criar seu livro. E Walt, como prefere ser chamado, quer essa obra realizada por seus estúdios. É o embate de dois criadores de mundos fantasiosos. É o embate de um tubarão gigantesco querendo abocanhar mais uma presa em seu estômago voraz.  E como esse tubarão luta, o pequeno peixe é arredio e difícil de ser pego. Emma Thompson, que tem experiência como escritora roteirista faz uma mulher cheia de manias, uma senhora chata. Sabe aquelas que são intragáveis e fazemos de tudo para estar longe? Essas mesmas! Mas mostra que no meio dos chiliques há uma pessoa, sensível que tem um passado. E que só quer venerar respeitosamente esse passado. Vemos também um interessante e otimista motorista de carro interpretado por Paul Giamatti que também conta com seu “segredinho” motivador de sua vida.


            Vi o filme simplesmente pelos atores.  E me encantei. Outro filme de atuações ótimas, desprezadas pelo Oscar, mas redimida pelo Globo de Ouro de certa forma. Vale a pena ver. É bem interessante o cartaz onde vemos os dois personagens: Disney tentando convencer uma resistente Travers com suas sombras tomando a forma do Mickey, otimista, e de Mary Poppins, toda austera. Recomendo aos adultos que gostam de uma história bem contada pela interpretação e direção bem pontual de John Lee Hancock (Um Sonho Possível).


            E um adendo: recomendo a escritores para notarem como a história pessoal pode ser um grande recurso criativo para se elaborar uma obra. 

(Abaixo na foto: Julie Andrews que protagonizou Mary Poppins no cinema, o verdadeiro  Disney com a verdadeira Travers  )