quinta-feira, 30 de novembro de 2023

CRÔNICAS PAULISTANAS DE UM PAULISTA Um ano em São Paulo

 CRÔNICAS PAULISTANAS DE UM  PAULISTA 


Um ano em São Paulo  

 

imagem tirada da Wikipédia 

 

Aos 22 de novembro de 2023 eu fiz um ano morando na Rua Aurora [...] e posso agora dizer: é foda pra caralho morar aqui. Em todos os sentidos. Primeiro, costumo dizer, que moro ao lado do Metrô República, saindo do prédio viro a esquina tropeço e caio de boca em uma das entradas. Não falo de cara qual para não facilitar. Não quero cobrança batendo à porta. Entre outros verdugos, termo que descobri estudando para um concurso qualquer, que tenho esperança de passar, mesmo sabendo que não foi suficiente as horas deliberadas no labor de estudar. Segundo, gente, é foda você esbarrar com a miséria humana não assistida pelo governo todos os dias em sua porta. É aterrador como moradores de rua, usuários de crack e “pessoas de bem” convivem numa simbiose doentia e ensandecida. Se você tem aparência de ter dinheiro no bolso, mesmo que via Pix, é ameaçadoramente abordado o tempo todo para cumprir sua “obrigação” de dar dinheiro a quem não tem. Nessa, eu já fui até obrigado a dar meu celular mais de três vezes, e todas elas eu colaborei com mansidão para evitar maiores problemas. E mesmo assim, em uma delas, acabei agredido de cair em câmera lenta ao chão e, ao levantar, cambalear por vários quarteirões, e ninguém sequer chega perto. O paulistano nato, médio, vindo de outro lugar e naturalizado não ajuda quem está no chão. Bom, eu não tive ajuda. E não reclamo. Reclamo do FdaP que me bateu sem necessidade. Ele já estava com o celular na mão e eu não ia reagir. Maldade de quem tem o poder, mesmo que momentâneo, nas mãos. E a culpa é de quem? Minha por estar “moscando” com o celular no bolso numa rua às 20h e 30 min numa via pública? Claro que não! Se não soubesse que o governo municipal tem implicação na situação, não reclamaria 

Não desejo que esta crônica seja de política pública municipal, mas é impossível falar do centro de São Paulo sem resvalar, ou mesmo bater a cara quebrando todos os dentes, nesses problemas. Há uma tentativa teimosa da população classe média em tomar posse do que lhe foi tirado: a rua. Existem ilhas de segurança, e, o pior, desde que me mudei para cá, apenas um ano, eu tenho percebido o aumento de policiais pelas ruas mais “necessárias” por volta das 5h e 45min  da manhã, horário absurdo que precisei sair para agendar uma consulta ou levar algum exame na UBS na Praça Patriarca, que me surpreendeu em ser mais eficiente que imaginei, e que não se chama UBS Praça Patriarca, e sim UBS República, mesmo que de sua porta você contemple a estátua, rústica do grande Patriarca da Independência", José Bonifácio de Andrada e Silva, daí o nome Praça Patriarca. É uma façanha que se observa aqui. E aqui, usando o Patriarca da Independência como gancho para sair do social, eu entro no histórico. Essa simpática e desfigurada praça, quase sem árvores, as que estão lá sofrem e resistem bravamente ao povo, dá uma indicação do centro histórico que hoje é o distrito da Sé. Um livro da prefeitura intitulado  “O nobre e antigo Bairro da Sé (História dos bairros de São Paulo, Barros Ferreira, disónível no https://drive.google.com/file/d/0B6iD9M7ZapwLbFpWcnRUVUZrczQ/view?pli=1&resourcekey=0-P5BkL5I63KGv_kIi_yL1Jw – nem sei se posso divulgar assim, que venha a retaliação) que até hoje não consegui ler inteiro dá o percurso do que veio a ser as cercanias da cidade antes do crescimento vertiginoso dos anos de 1900. É incrível que toda a cidade de São Paulo cabia ali. Do Páteo do Collegio ao Vale do Anhangabaú, passando pelas antigas margens do Tamanduateí, que até um porto mereceu, disso ficou apenas o nome na Alameda Porto Geral, indo pela praça acima, que hoje parece mais um largo com uma entrada para uma passagem que lava ao Vale, outra pequena surpresa, essa galeria tem charmosas estátuas das Graças, uma delas tenho certeza está fazendo um kamehameha, uma réplica, do Moises de Michelangelo, aquele do “Parla!”. Jurava ser a entrada para um metrô, é apenas um atalho por uma galeria aos moldes dos anos de 1960, que dá entrada pelo subterrâneo da Prefeitura, logo ali. O Distrito, ou se prefereir uma forma mais leiga, o bairro da Sé é mais que um emaranhado de gente e montes de prédios antigos de várias épocas: é a cidade originária. Eu, andando pelas ruelas que se recortam estranhamente, senti os ecos do passado e associando, erradamente eu sei, ao nomes que ficam nas placas da mesmas, imagino cenas e mais cenas da São Paulo Original: cavalos cagando, gente cagando, e jovens mancebos desatentos enfiando as botas robustas nos toletes, seja de qual animal o moldou; mulheres carregando na cabeça desde cestos com alimentos, roupas, a latas com águas para lá e para cá; crianças encardidas, com barriga d´água, adiando a morte prematura com brincadeiras entre um trabalho forçado e outro. Enfim, nada diferente do que ainda é São Paulo hoje. Apesar das tecnologias e das inovações da contemporaneidade. Há cinismo e ironia nessa afirmação, contudo, verdade 

Por um ano em São Paulo, apesar de suposto saldo negativo, eu viveria por mais dois, três, dez anos; a vida toda se possível. Contudo o que São Paulo não tolera, é a falta de condições para se viver nela. Mesmo o morador de rua mais desprovido sabe disso e continua por ter, a seu modo, suas condições. “Faz um Pix então se não tem dinheiro” é o que já escutei. Eu mal recebo Pix por que eu faria um? Para alguém que me ofende caso negue? Eu queria muitos Pixes. Pois assim eu garantiria pelo menos mais uns anos para morar nessa cidade que já era apaixonado antes mesmo de a conhecer, ver suas entranhas não tão belas e simpáticas só fortaleceu o meu desejo. Não tenho como não amar São Paulo e suas (des)virtudes. Eu, tendo vários Pixes, viveria bem o tempo que quero para fazer o que quero na cidade que escolhi para morar. E eu a escolhi lá com meus 10 anos e só vim realizar, de forma oficial ano passado, no dia 22 de novembro de 2022 no apartamento da Rua Aurora [...]  

[...] faz um Pix para esse candidato a escritor, tardio, poder continuar morando nessa linda cidade... faz um Pix...  

 

(O pedido é retórico, contudo, sabe né.... Segue meu e-mail e me pergunte como realizar um para mim.) 

(Risos e mais risos irônicos e de nervoso.) 

 

Imperativo (categórico) 




 "Me faça" luz para ser luz;

"Me faça" trevas para combater as trevas.

"Me faça" unificado para a integridade diante de ti.

E como íntegro, o eu verdadeiro se fortalece

diante de ti para sua glória.

Seja assim como digo!