segunda-feira, 24 de junho de 2019

MIB: Homens de Preto - Internacional


MIB: Homens de Preto Internacional



         É falho acreditar que qualquer coisa que venha da produção humana ocorra sem uma ideologia por trás. Isso não é papo de esquerdista. É um fato. Somos frutos do meio em que vivemos e reproduzimos o que nossa cultura permite. E por vezes vejo como um roteiro é fruto de um condicionamento cultural impregnado nos seus idealizadores e realizadores. Estou falando isso, pois, “Homens de Preto - Internacional” é uma dessas produções culturais, óbvio. O próprio título, um tanto machista, “exclui” a possibilidade de mulheres estarem na corporação. Contudo os mesmos roteiristas condicionados, por uma sensibilidade hodierna, acabam por dar pitadas de desconstrução do que é estabelecido e isso é criticado de uma forma bem divertida num dos diálogos. No primeiro filme da franquia, lá nos anos de 1990 já vimos, tudo bem que somente ao final, a agente “L” (Linda Firentino) tomar seu lugar ao lado de “J” (Will Smith). Mas o peso cultural, a ideologia, como alguns chamam, ainda arrasta não só a asa como o corpo inteiro da ave para o lado dos homens.
      
   Em “Homens de Preto – Internacional” temos o típico “predador” americano como personagem principal, “H” é bonito, bem sucedido e reconhecido no trabalho, tudo que faz dá certo no final, tem experiência, principalmente sexual, até alienígena ele “traça” e converge tudo isso em um charme irresistível. Atitude é tudo, é o que vende. Uma atitude masculina com certeza. Contudo, e aí temos uma pequena quebra de paradigma, todo esse jeito de ser é que o coloca nos problemas que surgem. Sua arrogância em não perceber o ambiente que está acaba por fazer um amigo morrer. E, em uma posição que precisa ser enaltecida está “M”, uma candidata a se tornar uma agente “MiB” que foi atrás do posto e não recrutada como é costume do departamento. Contudo a escapadela da ideologia vigente retorna aos trilhos.
O homem sempre está à frente fazendo e acontecendo, sendo atrapalhado, inconsequente e charmoso e até perigoso, tudo é perdoado até por seus superiores. Simbolicamente, um paladino é imposto a “M”, um alienígena diminuto que se coloca a seu serviço a fazendo sua rainha, mesmo que fique clara sua inabilidade em proteger sua rainha anterior. É como se a mensagem passada fosse “apesar de você ser durona por ser mulher você precisa de um protetor”. E o pior de tudo é que fica evidente que essa garota inocente e determinada vai se apaixonar pelo safadão experiente que coleciona ex-namoradas.

        
Sem fazer maiores análises para não correr o risco de dar algum spoiler, vejo “MiB-Internacioal” como o típico filme que enaltece o homem, mesmo atrapalhado e com uma ética em relação a mulheres bem questionável, como o herói fodão que merece ser imitado. Contudo pequenas pitadas de valorização feminina são garantidas, pois o público exige isso, pelo menos uma parte desse público. Sim, esse mesmo público ainda dita algumas regras e temos marmanjos que se sentem intimidados com personagens femininas fortes. Por isso “M” é “pura” aos olhos menos treinados.
Por trás é uma personagem forte e destemida que sabe o que quer e como chegar até lá e faz valer o filme. Se não fosse sua personagem as coisas não se resolveriam de forma adequada e convincente. Garanto que muita gente vai assistir ao filme mais pelo Chris Hemsworth/Thor do que pela ótima Tessa Thompson que foi a Valkyrie em Thor – Ragnarok. Os dois fazem uma boa dobradinha, minha predileção fica para Thompson. Hemsworth sem barba e sem músculos fica bem sem graça. É impressão minha ou ele está muito magro nesse filme? Nem parece o bombadão de antes.

        
Apesar do filme não ter grandes inovações ele garante diversão. Pelo jeito é o que os filmes estão tentando fazer, principalmente os de ação/aventura que pecam pelas histórias previsíveis, se agarrando ao público mais novo sem muito senso crítico e vontade de assistir aos filmes anteriores. Um dia desses ouvi um carinha dizer que um filme de 2010 era velho. Imagino se um dia ele conseguirá assistir a um filme de 1950. Eu espero e desejo que sim.  E os “cinéfilos” que só possuem como referência mais antiga “Laranja Mecânica” e nenhum outro mais? Bom, estou envergando para outros lados.
         “Homens de Preto – Internacional” vai divertir quem gosta do gênero, tem ação e humor suficientes para isso. Contudo se estiver num estágio mais avançado de senso crítico realmente assista outra coisa, esse vai te aborrecer.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

Mistério no Mediterrâneo

Mistério no Mediterrâneo




         Assisti “Mistério no Mediterrâneo” sem nenhuma pretensão e em função da Jennifer Aniston. Ainda gosto dela mesmo fazendo uma repetição de seu papel, Rachel, de “Friends”, em diferentes fases da vida. Somente em “Cake – Uma razão para viver” e  “Amigas com dinheiro” que ela consegue dar um salto mostrando que não é de um personagem só.  Contudo a personagem de mulher comum, não lá muito brilhante e que se enrola em situações cotidianas e atrapalhadas lhe cai bem.
O que imagino não ser fácil, pois é uma mulher muito bonita e já alcançou o patamar de estrela, e o episódio em que ela se posicionou a favor de seus colegas de elenco para que ganhassem o mesmo salário na série que lhe rendeu sucesso mostra que é inteligente e muito generosa, não se pode dizer que seja comum. Já o Adam Sandler parece estar no piloto automático. Não há camadas em sua interpretação e não há filmes onde o tenha achado melhor. Sempre o mesmo personagem, o cidadão de bem, médio americano que se atrapalha em atitudes um tanto quanto questionáveis. E sei que muita gente foi assistir esse filme por causa dele. Percebi também que a imprensa fala mais dele do que de Aniston, como se o filme fosse só dele.
        
“Mistério no Mediterrâneo” é uma sátira aos filmes de mistério em que um detetive investiga um assassinato num cenário luxuoso. Contudo a ironia é que o detetive não é detetive de verdade, e o mistério não é tão mirabolante quanto se imagina e o jogo de deduções não leva para o lado certo nunca. Cada conclusão a que se chega um novo fato aparece e dá a impressão que só se revela o assassino definitivo porque o acaso assim o faz. Há um empenho bem elaborado no roteiro que aparentemente se mostra bobo. A escolha do elenco de apoio também é acertada e a cada cenário luxuoso que é apresentado só realça a “mediocridade” do casal comum que se torna pivô de um crime. A diversão é garantida, não esperem uma sofisticação na história. Tudo é feito e calculado para levar a diversão. Por isso entendo a escolha, apesar de não gostar de Sandler, ele tem peso junto com Aniston para desenrolar uma história que cativa o público. E a produtora do filme sabe bem disso, Netflix, que não dá ponto sem nó. A produção explora bem locações fantásticas mostrando o mundo dos verdadeiramente ricos, passando pela França, um iate fabuloso, Monte Carlo e Itália.
        
Todos os elementos clássicos e clichês estão ali representados, um idoso podre de rico insuportável casado com uma mulher mais jovem, um artefato antigo, os parentes e agregados parasitas, um caso de amor mal resolvido, um playboy, uma atriz, um general, um capanga, um esportista, no caso um piloto, um membro de alguma realeza obscura, o detetive internacional, só falta o mordomo. Esses elementos todos são distorcidos e colocados de forma patética para criar o fator cômico. Até as pistas colocadas aleatoriamente no meio da narrativa se fazem presentes como forma de adensar a sátira sobre o gênero, cheio de caricaturas e bem esgotado no formato.
         Como disse não é o filme de uma vida, arrebatador, mas garante o que propõe: diversão.