domingo, 19 de maio de 2019

Vingadores - Ultimato


Vingadores – Ultimato




Uma afirmação: o filme é muito bom, bem construído e estruturado, principalmente em relação aos roteiros anteriores. Produção de arte impecável, efeitos, é um ótimo final para uma epopéia cinematográfica que rendeu tantos arcos de histórias e tantos lucros. Vemos pela arrecadação que se teve até agora. Contudo é uma obra humana, grandiosa,  então passível de críticas. E acho que minhas críticas vão mais pela ideologia do filme do que no filme em si.
Possivelmente haverá spoilers, então: alerta de spoilers!


Vou começar pelos mortos. Não acho que matar a Viúva Negra tenha acrescentado algo à sua personagem ou ao seu valor como heroína. Parece que os roteiristas sempre optam por descartar uma personagem mulher e nunca o homem. Lembro que o Gavião só voltou, pois ficou putinho com a perda da família, não digo que não seja um bom motivo. Contudo ele tinha abandonado a equipe, e a Natasha não. E no decorrer do lapso de tempo em que todos estiveram sumidos na pedra da alma, percebe-se que Natasha está deprimida e que sentiu mais que todos, ou tanto quanto, a perda da população. Seu “sacrifício” me soou mais como um suicídio. Se bem que o Gavião não estaria em condições diferentes dela. Uma alma era pedida como resgate da pedra e só sinto que os roteiristas optaram pela mulher. Num momento de tanta conscientização pela importância feminina isso ecoa como algo meio rude. Contudo, no âmbito artístico, o drama estava mais para o lado de Natasha, se perdêssemos o Gavião não sentiríamos tanto. É uma morte que, pelo menos em mim, realmente fez sofrer. Percebam que não estou querendo afirmar que foi certo ou errado, no momento só faço conjecturas. Como disse o filme é muito bom por ser o fim de uma saga.
A outra morte, Stark. Afff! Narcisismo ou burrice? Uma mescla dos dois? Era evidente que ele sendo humano não aguentaria o fluxo de poder que as jóias produziriam. Foram até que generosos, pois ele não explodiu em partículas de carne moída ressecada. Viram como ficou ao braço do Hulk? Mano, era o braço do Hulk! Poucos personagens do filme não sofreriam algum dano com a manopla do poder. Havia personagens mais poderosos que o Tony. E era só ele levar a luva dourada para esses personagens. Contudo temos aqui um alter ego dos americanos, lembro que o outro é o Capitão América, e esse ego inflado americano não deixaria outra pessoa fazer o serviço. Lembramos que Thor é “estrangeiro”, Hulk já não tinha dado certo, mataram a Viúva Negra antes, o Gavião, tão útil que para impor um respeito e fúria faz um corte de cabelo “rebelde” e sai matando “bandidos”, Pantera Negra, estrangeiro e negro, Dr. Estranho, apesar de ser a versão mística de Stark, sabe que não pode, ele vê as coisas de forma mais claras, e a Capitã, era só uma mulher que surgiu com um filme nos quarenta e cinco minutos do segundo tempo. Stark era o "necessário". Mesmo ele tento poder, pela tecnologia obviamente, de conseguir chegar até outro personagem mais poderoso. O problema não foi o Stark se “sacrificar”. O problema que não foi um sacrifício, como disse foi uma burrice com narcisismo que o sentimento americano possui e transborda em seus filmes, é a ideologia que falei acima. Sei que não dá para tirar isso dos roteiristas. E o peso de se fazer um filme desses, a cobrança é tamanha, os contratos que vencem, os que estavam renovados, os cachês altos, e tudo foram determinantes para definir quem morria. E mais certo é que não dá para levar os Vingadores adiante, pois os atores estão envelhecendo e ficando caros. Eu acredito em vários reboots e que novas personificações de heróis estão por vir.   
Outro ponto que me chamou a atenção foi o “embarangamento” do Thor. Ele perdeu o apelo sexual que seu corpo escultural e beleza causavam e muita gente não gostou. Perceba que só colocaram uma prótese no peito e barriga do ator e deixaram a barba um pouco mais longa e isso foi o suficiente para acharem ele feio. O ator continuou com as mesmas feições e toda a essência do personagem estava lá. Mas sem o tanquinho ele perde a importância? Claro que não! Ele continuou fazendo o que sempre fazia e ainda nos deu uma complexidade maior ao personagem, ele estava claramente em um quadro depressivo em que a pessoa se cerca de recursos “alegres” para amortecer sua condição, contudo a depressão está lá, o transformando em zumbi social, que não sai de casa e nem se preocupa com sua aparência. E ele era um deus, imagina o quão complicado é um deus em depressão. Nebulosa foi a que mais cresceu nesse fim, ela, mesmo que “desumanizada” (sei que ela nunca foi um personagem humano, só uma expressão) consegue promover um avanço que fica evidente em suas poucas aparições. Um robô de guerra que “humanizado” se torna uma peça-chave para a história, mesmo que seja de uma forma invertida.
Jesus! O que fizeram com o Hulk!!??? O transformaram num macho hetero desconstruidão!!!! Só faltou a barba e chavões do tipo "Crossfit é o melhor exercício!", "Sou ser humano!", "Não sou de esquerda nem de direita, sou do Brasil!". Foi de cagar, apesar de promover uma certa graça pelo absurdo da situação. O Hulk morreu nesse episódio final. Apesar de ser um personagem insólito que nunca sabiam direito o que fazer com ele. Oscilavam em deixar o Banner aparecer e tirar os poderes ou a coragem do Hulk. Poder demais para um personagem “abobam” os roteiristas nos filmes.
Na verdade vários personagens poderosos foram anulados no filme de forma proposital para dar mais destaque a personagens menos poderosos. Vemos que a Capitã Marvel era colocada só em “missões” fora da terra. E quando o perigo está em curso ela sempre está fazendo algo que a impede de participar do desenlace final, contudo o que faz é algo imprescindível moralmente, ser escada a outros personagens machos. Assim como o Dr. Estranho que ficou preso contendo a água de uma represa e a Feiticeira Escarlate que tem seu grande momento de luta com Thanos, que apela de uma forma aterradora para não morrer e novamente a Feiticeira é suspensa pelo roteiro.
Claro que poderia falar infinitamente de várias nuances ideológicas de “Vingadores – Ultimato”. E nem vou comentar da “aposentadoria” do Capitão que o fez envelhecer absurdamente, realmente o casamento acaba com uma pessoa. Temos uma cena que reúne todas as mulheres para enfrentar Thanos, uma metade de de um quarto de um biscoito para dar um cala-boca nas feministas. No geral estamos cheios de “cala-bocas” em “Vingadores – Ultimato”. E com isso, pequenas migalhas, conseguimos nos satisfazer e aceitar o todo que ainda continua bem tradicional, colocando os personagens homens como principais para satisfazer a maioria que não gosta de ter mulheres como salvadoras do universo.