segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Vidro


Vidro





         “Vidro” seria, supostamente, a finalização de uma trilogia idealizada por M. Night Shyamalan e teria como primeiro filme “Corpo fechado”, título horrendo para a compreensão do todo, pois uma tradução mais fiel seria “Inquebrável” e, o filme do meio, “Fragmentado”. O jogo de palavras já nos dá o parecer sobre a ideia geral, não fosse o título do primeiro como já apontei.
        
Na época “Corpo Fechado” não foi bem “entendido”, mas garantiu uma bilheteria ok. Depois de vários fracassos do diretor/roteirista “Fragmentado” pareceu dar novo fôlego a carreira do diretor. Contudo “Vidro” não dá o fôlego necessário ao final da trilogia. É lento e modorrento, para quem não conhece essa palavra é sinônimo de sonolento.
        
Por mais que se inspire nas histórias em quadrinhos Shyamalan é um fazedor de suspenses. E não há “ação” neste filme, há a construção rotineira do diretor para tentar nos pegar de jeito com alguma reviravolta, ou, como muitos preferem, plot twist. Uma coisa irritante é a muleta que é usada o tempo todo para nos situar na obra, as explicações sobre as narrativas das histórias em quadrinho. No mais o filme é de boa. “Fragmentado” ainda continua sendo o melhor dos três, seguido por “Corpo fechado”. “Vidro” é o mais fraco, e ao mesmo tempo o mais essencial, dá o fim apoteótico que a trilogia mereceria. Contudo vejo que algo me incomoda na direção de Shyamalan, ele neutraliza seus atores.
Não há grandes esboços de emoções. Todos ficam praticamente com “cara de ué!” o tempo todo. Não há vazão aos sentimentos. No geral os personagens são circunspectos e calados. Parece que o roteiro manipula as interpretações de uma forma a contê-las. Esse recurso deixa o filme frio, genérico e nos afasta um pouco do que acontece. A não ser que seja o “vilão” do filme. Esses são colocados com arroubos de interpretações.

        
“Vidro” resgata personagens do primeiro filme, dá novos ares com outros personagens novos e tenta fazer todo o paralelo possível, como já disse, com as HQs. Não é um filme ruim, contudo não é o melhor de todos. Ele faz o encerramento de um ciclo começado em 2001 com “Corpo fechado”. Os atores são quase coadjuvantes da história. Parece ser uma tendência do diretor/roteirista fazer esse jogo.
E como sempre ele consegue estrelas para protagonizar sua história, resgata Bruce Willis e Samuel L. Jackson e James McAvory como os protagonistas, seu auxiliares coadjuvantes estão lá também, Spencer Treat Clark, Anya Taylor-Joy e Charlayne Woodard. Sarah Pulson é colocada como personagem nova da trilogia com um papel primordial, a Dra. Ellie Staple.

        
Contudo, se busca um filme agitado de ação vertiginosa fuja desse, está mais para um suspense psicológico soft. Se seguiu até aqui a trilogia assista para dar o fim que é necessário.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

A Favorita


A favorita 



“A favorita” é um recorte na história da rainha Anne no século XVIII, quando do romance “na encolha” com a Duquesa de Marlborough, Sarah Churchill. O caldo entorna quando a duquesa decide acolher uma prima que estava em dificuldades e perdera o título de nobreza, Abigail, bem mais nova. Interessada nas facilidades de ser a “favorita” da rainha Abigail, após descobrir o romance, usa de toda artimanha que pode para afastar as duas amantes.
No pano de fundo está a continuidade ou não da guerra com a França, da qual Sarah é a favor e Abigail “caga e anda”. Sara tenta manipular a política através de sua influência com a rainha, debilitada por uma doença, aparentemente diabetes. O filme não foca na política, apesar de se amparar o tempo todo nela.
A interpretação das três atrizes, Olivia Colman, a rainha, Rachel Weisz, a duqueza, e Emma Stone, “pobre” valem cada momento do filme que pode ser um tanto quanto lento. A reprodução da época, os figurinos estão estonteantes, que palavra afetada, nunca uso na vida real. A direção está bem primorosa e cuidadosa e tudo confirma as indicações a diversos prêmios por aí. Novamente eu esnobando o Oscar e falhando vergonhosamente ao tentar não escrever sobre ele. Eu não sou fã da Stone, com esse filme consigo perceber a grande atriz que ela é, “La La Land” não tinha me convencido. Olha a empáfia, deste que vos escreve, outra palavra que jamais uso no meu cotidiano.
Para quem gosta de filmes de atuação e de grandes atrizes em um bom duelo esse é um arraso, essa eu uso sempre. O embate entre a Sarah e Abigail é tão sutil e estrondoso ao mesmo tempo, que só se compara ao exímio trabalho que é aplicado à Rainha, com menos falas que as outras personagens percebemos todos os sofrimentos que a doença e o romance lhe
causam. É fabuloso como uma atriz consegue chegar a esse ponto de interpretar magistralmente sem longos momentos de falas.

O filme para quem não gosta do estilo pode ser um tanto quanto enfadonho, quem gosta não irá se decepcionar. É interessante a crítica que há por trás mostrando como os caprichos de quem tem dinheiro podem levar uma nação a uma guerra ou até mesmo salvaguardar a paz. E de como a corte pode ser regida apenas por vaidades vazias e sexo que dão suporte ao poder. E o óbvio, no fim quem manda é a Rainha.



segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

A esposa


A esposa




  Glenn Close arrasa com a cara da sociedade.
         Assim que soube desse filme já me chamou atenção e quis assistir. E semana passada Close ganha o Globo de Ouro e fico mais curioso. Quando assisto percebo que o filme é nada mais nada menos que a história de milhares de mulheres que perdem espaço para que seus maridos, pelo simples fato de serem homens, se destaquem.

E o filme não é de falas, o que torna tudo tão mais instigante, é de gestos, olhares, choros reprimidos, ponderações e máscaras sociais. E, novamente, sendo repetitivo, Glenn Close arrasa. O filme tem uma história bem construída, um elenco, mínimo, afiado e, mesmo assim, ele é todo da atriz principal. Close faz a resignada Joan Castleman esposa do renomado escritor Joe Castleman (Jonathan Pryce) que já no início do filme é notificado que é o ganhador do Nobel de literatura. Ego inflado Joe se vê laureado com a premiação que considera sua obra toda. À sua sombra, Joan também curte a grandiosa nomeação ao prêmio. Contudo, a viagem e a insistência de um jornalista, Nathaniel Bone, feito por Christian Slater, faz surgir um espinho doloroso, talvez os escritos não sejam realmente de Joe e sim de Joan. Flashbacks vão nos mostrar que não é algo tão simples assim a história. Após essa revelação, só percebemos o brilho de Close.
Tudo até então que aparentava uma coisa se torna com um sentido mais profundo e triste. Uma mulher que faz jus ao ditado popular “Por trás de um grande homem, sempre tem uma grande mulher” e que mulher grandiosa é Joan, ela sabe o que fez, o motivo do que fez, não se arrepende, mas sofre, tudo poderia ter sido diferente se o mundo não fosse de homens inseguros que podam as mulheres de todas as formas para se manterem nos seus cargos/pedestais de sublimidades e privilégios.
        
O discurso de Close na premiação do Globo de Ouro foi eloquente, ela disse que a mãe dela foi uma Joan na vida, e quantos de nós já não foi amigo, vizinho, colega de trabalho, sobrinho, neto, filho, namorado ou até mesmo marido de tantas Joans por esse mundo afora? A Joan é alguém próxima a nós que vivemos num mundo onde o patriarcado domina e prende, domina ou mutila a capacidade feminina. E muitas vezes, nem no momento de libertação, o homem desse patriarcado permite que a mulher se solte, pois esperneia e tenta roubar o tempo todo a atenção para si. Mais que isso é dar spoilers pesado. Contudo, se o que te contei, sendo você homem, te assusta ou te “entedia” é sinal que é o filme que falta na sua vida.  Quanto às mulheres, elas entenderão muito mais, como sempre.