sábado, 15 de março de 2014

Resenha de filme: Ninfomaníaca - Volume I

Ninfomaníaca - Volume I




            Bom por problemas de “moralidade” campineira eu não consegui assistir esse filme antes. Então a resenha só saiu agora.

No geral os filmes de Lars von Trier não são fáceis de digerir. Ele em si não é fácil de engolir. Tanto que após ganhar um prêmio em Cannes, pelo filme Melancolia, fez declarações que o transformaram em “Persona Non Grata” no festival. Pouco antes tinha envergonhado publicamente sua atriz principal, Kirsten Dunst. Ele é assim. Alguns atores falam que é extremamente difícil trabalhar com ele. Mas ele consegue tirar interpretações muito boas. Só lembrando: Björk (que nem atriz é, e sim cantora), Catherine Deneuve, Nicole Kidman, Lauren Bacall, sua queridinha Charlotte Gainsbourg, Willem Dafoe, Stellan Skarsgård entre tantos outros que são relativamente frequentes em seus filmes.

            Esse filme vem com uma jogada de marketing bem apelativa. Bem mesmo! Até me decepcionei um pouco. Esperava umas coisas mais “assustadoras”. Tinha lido uma crítica que o autor dizia-se bem constrangido com tudo o que passava, principalmente com a sexualização das brincadeiras infantis da personagem principal. Aí notei que o filme é sim forte e eu que estou um pouco além dessas mentalidades reprimidas.



            Para uma pessoa comum, sem conhecimentos de algumas teorias freudianas, ou pessoas reprimidas sexualmente, ou ainda pessoas que não tem uma cabeça aberta para o assunto, esse filme realmente é uma “depravação” pura. Aparece cenas de sexo explicito, digamos assim, aparentemente explicito. Em momento algum do filme eu fiquei excitado. Pois tudo tem um pouco de razão de aparecer. Dar o impacto devido ao “problema” sexual de JoeCharlotte / Gainsbourg. Eu compararia a um filme que, tratando o problema da gula, mostrasse alguém se empanturrando de guloseimas. Todos nós gostamos de ver e comer uma boa comida, mas quando é tratado de forma doentia não dá nenhum prazer e sim estranhamento. É o que acontece com o sexo do jeito que von Trier filma. Ele usa vários clichês do mundo erótico e sexual subvertendo de tal forma que tudo faz realmente parte da história.         E o que vai além é fruto da mente devassa ou não do espectador. No mais é um filme que narra uma dimensão da vida.


Joe / Gainsbourg por algum motivo está inconsciente num beco e é resgatada por Seligman (Stellan Skarsgård). Em sua casa ele trata de Joe que começa contar suas histórias apimentadas. Ele serve de canal psicanalítico para Joe perceber e ter o gancho necessário para sua inusitada narrativa. Há inúmeras referências, indo de pescaria à músicas polifônicas de Bach. É até meio difícil acompanhar tudo.

            E Joe narra sua história. Como ela se considera má  e perversa por gostar de fazer sexo, por se entregar a sua busca desenfreada em satisfazer-se. Em certo momento diz que fazia sexo com 10 homens na mesma noite, diariamente. Haja pomada para assadura!!!! Sua história é fragmentada, nos dá trechos significativos do que passou. E mostra que nada é tão simples de se entender. Sua narrativa é dividida em capítulos. Vemos como sua iniciação erótica acontece aos 2 anos de idade, quando toma “consciência” de sua “boceta”. Ela mesma diz isso. Oh!!! Um palavrão!!! Acostume-se, há muitos. Os espectadores mais sensíveis talvez se sintam ofendidos. Não se preocupem, meus alunos da 6ª série falam muito mais palavrões que os adultos possam supor. E pasmem, eles aprendem justamente com adultos. Éh!!! Faz parte da vida o palavrão, a depravação e o sexo, sujo ou limpo, com ou sem amor.

            O filme é cheio de “participações” bem especiais. Vários atores puderam mostrar seu talento em situações bem inusitadas. A jovem Joe é bem retratada pela atriz Stacy Martin. Sua neutralidade em expressões ressalta a sua fome por sexo. Dificilmente esboça uma reação emocional sem estar ligada ao erótico. Mesmo assim não parece ser diferente de muita gente tida como normal.



             Nunca vi uma atuação realmente boa de Christian Slater, que faz o pai de Joe, e aqui ele convence como um pai amoroso. E pelas teorias freudianas, isso pode despertar o desejo erótico das garotas. Em momento algum, ela tem um discussão com o pai, tudo é muito terno e carinhoso. Em contraposição, sua mãe é uma mulher distante e aparentemente fria. Esse tipo de coisas podem dar pistas do comportamento complexo de Joe. Porém não se engane. Nada é fácil na psique humana.





            Outra atuação que realmente gostei foi de Uma Turner que faz uma patética Sra. H. Não vou contar muito sua participação para não estragar. Seria hilário, não fosse uma situação totalmente constrangedora que ela ardilosamente engendra. É um dos trechos que mais gostei.

            Shia LaBeouf perdeu seu tom caricato e encorpa o “amor”  da vida de Joe, Jerôme. Antes que alguém se assanhe com o “pau” dele no filme, saibam que muitas coisas são efeitos de digitação gráfica, ou próteses... Seus “safadenhos”!!!! Há sim coisas reais mostradas. Assista para conferir e saibam que os atores foram protegidos de certas consternações... Pelo menos foi o que circulou por aí.

            Indiferente ao tema abordado, sexo, o filme se mostra bem interessante. É o estilo von Trier de filme. Não é tão angustiante quanto “Anticristo” e não é tão simpático quanto “Melancolia” porém, promete uma boa história. E antes que alguém diga algo, não é um filme hollywoodiano. Tem um ritmo mais lento, tem interpretações menos rasas, tem menos pudor em mostrar coisas que, contraditoriamente, a indústria americana não gosta de mostrar.


            Não falo para sentar, relaxar e gozar, apenas aproveitem bem a história de Ninfomaníaca.