Resenha
As Aventuras de PI
Quando assisti
pela primeira vez o trailer do filme já percebi que havia algo de diferente
nesta produção. A boa surpresa foi descobrir que era um filme de Ang Lee.
Diretor virtuoso que deu até cor a um blockbuster catastrófico como Hulk. Que
por sinal eu gostei e foi detonado pela crítica mundial. Não que eu goste do
marombado verde, porém Lee deu uma matiz diversa ao gigante que ninguém
conseguiu até hoje. O ponto alto do personagem é quando malha o Loke em “Os
Vingadores” e diz rosnando “Deus fraco!” e muitas gargalhadas se formam. Iupi!
Relutei um pouco
em assistir em 3D. Uma tecnologia
praticamente inútil e que me causa uma dor de cabeça estranha. Realmente o
espetáculo em terceira dimensão foi potencializado. O diretor não usa em
momento algum levianamente o recurso, talvez só um momento bem rápido quando o
tigre se joga para cima da platéia dá essa impressão. Tudo bem medido e
planejado. Cenas lindas se formam com o recurso dimensional.
O filme começa
comum. Um homem que procura outro atrás de uma história diferente para
escrever. E esse é o Piscine Molitor Patel ou, como veremos depois com uma
engenhosidade infantil conquistar o apelido, Pi. Não se pode dizer que seja um
jovem comum. É de uma classe média que vive bem em Pondicherry cidade indiana. Existe
uma espiritualidade latente em sua vida até a juventude onde tudo começa
realmente. Por necessidades seus pais, que possuem um zoológico, vão ao Canadá.
E levam todos os animais num navio cargueiro. Mas a verdadeira fauna enjaulada
é constituída pelos seres humanos. Depois de um tempo uma tempestade surge e dá
a motivação do filme.
Pi é lançado ao mar e surge a primeira cena aterradora em
muito favorecida pelo efeito 3D. Pi, num
bote salva vidas com uma zebra de perna quebrada se perde na água e afunda.
Flutua no mar calmo abaixo da superfície e olha e vê um fantasma luminoso
descendo, engolido pelas águas. É soberba a forma e a visão que temos do que o
garoto vê. Mais que depressa para sobreviver volta para o bote. Logo aparece um
tigre nadando na tempestade que sobe no barco e se esconde debaixo da lona. A
tempestade acalma. Vem de longe flutuando em bananas uma orangotango, fêmea. O
circo já estaria armado, porém, do fundo da lona surge uma hiena brutal,
babando de ódio. E o ataca. E desenrola-se a cena mais brutal que vi em um
filme há muito. Algo digno de Tarantino na violência desmedida. Porém a
violência é entre os animais. E choca tanto, é difícil dizer nesse momento o
motivo. A hiena feroz ataca Pi que se defende com um remo. Um rato intruso
entra na briga e sobe na cabeça do garoto que num ímpeto de repulsa o joga e a
besta o abocanha e engole. Ao lado a orangotango fêmea fica nervosa e tenta
afugentar a hiena quando esta vai para seu lado. A hiena é besta fera e ataca a
pobre da zebra com a perna quebrada. Até a morte. Não contente se volta para Pi
que se defende de novo, em cima da lona, com o remo. A hiena parte para cima da
orangotango que o murra na cabeça. Enfurecida a hiena ataca a primata até a
morte, diante dos olhos assustados do garoto. Nisso o tigre acorda das
profundezas da lona e ataca certeiramente a hiena. Tudo isso não dura cinco
minutos na tela. E tem um efeito de deixar atônitos quem aguardava um filme
mais leve. Eu destaco bem essa cena, pois uma revelação final (que não vou
fazer) deixa a cena mais densa, pesada e trágica. É uma perfeição dramática.
O tigre fica
com o garoto. Começa uma tentativa de “domesticar” o animal. E como fazer?
Domar uma força da natureza indomável. Por mais que seja de zoológico, o animal
é instinto puro e a fome começa apertar. E também beleza digital da melhor
qualidade. Não se percebe que é um recurso tecnológico. Claro que se percebe,
afinal é tão perfeito que dá medo. Surgem inúmeras cenas de tirar o fôlego. São
sol e nuvens que tomam uma dimensão de infinitude. É uma tempestade
grotescamente arrebatadora. Uma maré de águas-vivas luminosas com uma baleia
faminta fluorescente, soberba aparição.
Ou ainda uma ilha misteriosa que surge
do nada e acolhe o garoto e sua fera.
Não me permito
continuar mais o relato para não estragar a aventura que é assistir esse filme.
Minha dica para este fim/começo de ano. Um filme que surpreende quem já está
cansado de mesmices hollywoodianas. Aproveitem e se aventurem junto a Pi.
vinimotta2012@gmail.com